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ANÁLISE
O lobby do país ibérico
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
A lei nº 11.161/05, que obriga
escolas públicas e privadas de
ensino médio a oferecer o espanhol como disciplina optativa
no horário regular de aulas, é
fruto de anos de intenso e eficaz lobby do país ibérico.
Se se tratasse apenas de proporcionar aos jovens a oportunidade de aprender direito o
idioma de nossos vizinhos, a
norma seria inatacável. O problema é que, numa interpretação sistemática com o restante
da legislação educacional, ela
coloca o espanhol à frente do
inglês -o que é uma tese pelo
menos discutível.
A Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (LDB) estipula, para
o ciclo médio, o ensino, em caráter obrigatório, de uma língua estrangeira a ser definida
pela comunidade escolar. Prevê também a inclusão de um segundo idioma, em caráter optativo, "dentro das disponibilidades da instituição".
A pegadinha está no fato de
que a 11.161 fala abertamente
no espanhol e se cala em relação ao inglês. As escolas sem
grandes "disponibilidades",
que devem ser a maioria, podem escolher a língua de Cervantes no lugar da de Shakespeare como o idioma moderno
obrigatório, de modo a satisfazer as leis disponibilizando
apenas uma língua estrangeira.
O Conselho Nacional de
Educação emitiu um parecer
em que bravamente tenta salvar o inglês, insistindo em que
as escolas de ensino médio ofereçam pelo menos dois idiomas
estrangeiros. Só que o esforço
interpretativo naufraga na letra da LDB, que inequivocamente condiciona o oferecimento da segunda língua à disponibilidade da instituição.
Ninguém é obrigado a gostar
da primazia que o inglês exerce
no mundo contemporâneo,
mas é preciso ter perdido contato com a realidade para não
reconhecer que ele se tornou
aquilo que o latim significava
na Idade Média: o papel de língua veicular universal, na qual
falantes dos mais variados idiomas conseguem se comunicar.
No mundo real, é improvável
que as escolas ignorem o inglês,
para o qual existe demanda dos
pais e dos vestibulares. É lamentável, porém, constatar
que a legislação educacional se
tornou presa de lobbies tão variados quanto o da língua espanhola, sociologia, filosofia etc.
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