|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
depoimento
É bom sair de um show sem levar a fumaça
CRISTINA FIBE
DA REPORTAGEM LOCAL
Pela primeira vez em
anos de vida noturna paulistana, fui a um show e saí
ilesa, sem me sentir um
cinzeiro ambulante, sem
precisar de um banho imediato, sem ter que pendurar as roupas na janela e
esperar o cheiro passar.
Foi na noite de anteontem. A apresentação, da
festejada estreante Maria
Gadú, em uma casa escura
e intimista, inspiraria um
cenário esfumaçado. Mas,
poucas horas antes de a lei
antifumo entrar em vigor,
nenhum cigarro se acendeu ao meu redor.
O vaivém em busca do
"ar livre" causou certo
desconforto -em pouco
mais de uma hora de show,
inúmeros fumantes se alternaram para acender
seus cigarros do lado de fora, cartão de consumação
em mãos, garantindo o
reingresso.
A porta, ainda por cima,
ficava bem em frente ao
palco, o que obrigou os
músicos a acompanhar a
movimentação, guiados
pela luz que vinha de fora.
Chamou mais a atenção
o fato de que, sem o ambiente para compartilhar
o mesmo odor, o fumante
volta de algumas poucas
tragadas parecendo saído
de uma estufa cheia de
cinzas.
Mas, mesmo cercada de
adeptos do tabaco, continuei ali, protegida das baforadas, ponderando se
ainda é cedo demais para
comemorar. Ou se, quando mudarmos de assunto,
voltaremos todos a fumar.
Texto Anterior: Entrevista: Lei não vai pegar; eu fumo e ninguém vê, diz humorista Próximo Texto: Mortes Índice
|