São Paulo, segunda-feira, 08 de agosto de 2011

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BICHOS

JAIME SPITZCOVSKY jaimespitz@uol.com.br

Cães, nomes e Neymar


Antigamente costumava soar como ofensa a ideia de um cão e um humano dividirem o mesmo nome


Derek Jeter, estrela do New York Yankees, já entalhou seu nome na história do beisebol norte-americano. Supera recordes com frequência, namora atrizes famosas e se transforma numa das marcas mais valiosas do mercado publicitário dos EUA. E acumula outras proezas. O jornal "The New York Times" mobilizou uma reportagem recentemente para desvendar a onda no universo dos pets, sobretudo o nova-iorquino, que leva seus donos a batizá-los com o nome do superstar.
Um Jeter canino já foi guindado à condição de herói. Em 2009, segundo o diário norte-americano, o cão da família Moss latiu para alertar seus donos sobre o fogo que ameaçava devorar a casa, a partir do porão. Graças ao alarme, a proprietária e seu filho se salvaram, mas o cachorro morreu na tragédia, ocorrida na cidade de Dayton, em Ohio.
Apesar dos avanços das homenagens a Derek Jeter, a reportagem ressalta que levantamentos norte-americanos de nomes de cães ainda evidenciam a predominância de opções tradicionais, como Max e Rocky. No Brasil, desconheço eventuais rankings de alcunhas caninas, mas arrisco identificar algumas tendências.
Nomes clássicos como Rex, Lassie, Rin-tin-tin ou Bidu me parecem em franco declínio. Coisa de século 20. Batismos contemporâneos sugerem não mais repetir homenagens a heróis caninos, mas a celebridades humanas, ou mesmo resgatar nomes tradicionais entre os bípedes, como Bianca, João, Heitor, Carlinhos, entre tantos outros.
Antigamente costumava soar como ofensa a ideia de um cão e um humano dividirem o mesmo nome. Hoje, a rusga se enfraqueceu. Também detecto uma queda sensível no menosprezo a iniciativas de nossa espécie de usar pets como forma de homenagear pessoas ou personalidades representativas de algo especial para nós.
Durante treze anos, tive um samoieda, raça originária da Sibéria, chamado Vássia, diminutivo do nome russo Vassily. Esse era o prenome do general Petrenko, um dos primeiros militares soviéticos a invadir o campo de extermínio de Auschwitz e estancar aquela barbárie nazista, em janeiro de 1945. Conheci o combatente quando morei em Moscou e nos tornamos grande amigos.
Ajudei na organização de uma viagem sua ao Brasil, na década de 1990. Pouco tempo depois, Petrenko morreu. Entre as várias formas que encontrei para homenageá-lo, estava o batismo do meu primeiro samoieda. Cheguei a ter sete cães da raça, quase todos com nomes russos.
Falando em samoieda, conheci certa vez um chamado Prozac. Ganhou o rótulo farmacêutico porque havia livrado sua dona de uma grande depressão. Nesses rasgos de criatividade, encontrei poucos dias atrás um vira-lata chamado Morcego. Entendi, de cara, o motivo. Aquelas orelhas negras pareciam asas.
A lista de nomes tidos como modernos, com homenagens sérias ou bem-humoradas, cresceu bastante em relação ao passado. Mas, ao contrário do fenômeno Jeter nos EUA, ainda não conheci muitos cães batizados de Neymar. Meu temor é que, se a moda pega, poderão ainda querer tosar os cães à moicana.


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