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LETRAS JURÍDICAS
Greve do Judiciário e seus problemas
WALTER CENEVIVA
COLUNISTA DA FOLHA
Setores administrativos do Judiciário do Estado de São Paulo estão em greve,
cujo objetivo econômico consiste
em, pelo menos, atualizar os padrões de vencimentos dos servidores, com base na perda do seu poder aquisitivo.
A atenção da mídia ao movimento é quase nenhuma. Poder-se-ia até pensar que o Judiciário é
o Poder que não impressiona a sociedade. A greve fez com que todos
os prazos processuais fossem suspensos pela interrupção dos serviços -ainda que parcial- nos
cartórios do Estado. O silêncio é
tão preocupante que me força a
suspender a série de comentários
sobre o Estatuto da Cidade. Prazo
processual interrompido significa
retardamento maior do resultado. A Justiça se desenvolve em
tempos determinados, de horas e
dias. Normalmente extinguem o
direito quando são ultrapassados.
É bem verdade que horas e dias,
na dureza fria da prática da lei, só
valem para os advogados. Juízes,
membros do Ministério Público e
procuradores do Poder Público
têm meios para fazer o prazo chegar ao fim quando lhes convenha.
A suspensão do serviço administrativo gera consequências sérias
para os entes privados que busquem a realização da Justiça oficial, mas a informação quase não
chega ao conhecimento da população, pelos meios de comunicação. Às vezes chega, mas sem proporção com os efeitos produzidos
na prática judiciária.
Em parte, a omissão da mídia se
deve ao próprio silêncio habitual
da magistratura. Esta, sob a escusa de que não deve manifestar-se,
ausenta-se dos debates do dia-a-dia da vida. Tem, assim, participação na culpa pelo desinteresse
dos jornais e das emissoras. Mesmo quando lança manifestações
oficiais -o defeito é antigo-, são
produzidas em linguagem apenas
acessível aos seus pares e, quando
muito, a praticantes das profissões do direito. Não à sociedade
em geral. Afastam o interesse que
poderiam despertar.
A greve corresponde, em si mesma, a um paradoxo, pois os servidores da Justiça se sentem injustiçados pelos seus baixos padrões de
rendimento, entre outros defeitos
do tratamento que lhes é dispensado pelo Brasil afora. São influenciados, ainda, pelas más
condições de trabalho. Amostras
colhidas em várias unidades da
Federação ou regiões, em que a
atividade judicial se divide, são
heterogêneas. Sugerem, ressalvadas algumas exceções, o traço médio significativo de que participar
dos quadros administrativos do
Poder Judiciário já não é motivo
de orgulho profissional ou de efetiva integração na feitura da Justiça, da qual o povo carece.
Ao lado dos problemas da massa trabalhadora há os do congestionamento de Justiça. É o que se
vê em "Acesso à Justiça", livro organizado por Maria Tereza Sadek
(edição da Fundação Konrad
Adenauer, 278 páginas), reunindo atenta avaliação de resultados
de pesquisa sobre o Judiciário.
Merece a leitura não só dos trabalhadores da área mas do público
em geral. Um de tais dados mostra que a entrada de processos novos é maior do que o número de
processos julgados. O congestionamento é crescente. Há déficit de
juízes em todos os níveis. Faltam
magistrados. No Estado de São
Paulo há mais de 500 vagas. Resulta da pesquisa, mostrada por
Maria Tereza Sadek, que nossa
Justiça é muito receptiva para certas demandas e fechada para outras, impedindo o acesso dos pleitos da cidadania. As questões do
funcionalismo e da magistratura
devem ser resolvidas para que o
Estado cumpra sua missão de fazer justiça. Nada será melhor para a paz social.
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