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RIO
Mãe estava em uma manifestação contra a política habitacional; um corpo de criança de cerca de dois anos também foi encontrado
Menina morta estava trancada em barraco na favela
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Uma das duas crianças mortas
no incêndio da favela localizada
debaixo do viaduto da Linha Vermelha (zona norte do Rio), a menina Ana Paula Alves de Azevedo,
11, estava trancada no barraco e
não conseguiu fugir quando o fogo começou a se alastrar.
O incêndio provocou, anteontem, o afundamento de uma pista
do viaduto, uma das principais
vias de acesso ao Rio.
O ajudante de pedreiro Carlos
Alberto Gonçalves, 16, morador
da favela, contou ontem que tentou salvar Ana Paula depois de
ouvir gritos de socorro que vinham do barraco. "Eu a ouvi gritando e batendo nas tábuas", disse. Vizinho da menina, Gonçalves
afirmou que não conseguiu entrar
para resgatá-la devido ao calor.
"Foi um sofrimento. O senhor já
viu o inferno? Eu o vi de perto ontem [anteontem"", disse.
Ele afirmou que se machucou
com as tábuas que caíram quando
arrombou a porta do barraco.
Gonçalves, que teve sua casa destruída pelo fogo, tinha escoriações nos braços e na barriga.
A situação de Ana Paula é comum em comunidades pobres do
Rio. Sem o apoio de creches ou escolas em período integral, os moradores acabam trancando os filhos em casa sozinhos, temendo a
violência urbana.
A babá Amanda Alves Bezerra,
15, irmã de Ana Paula, disse que
quando chegou à favela a menina
já estava morta. Contou ainda que
a irmã morava somente com sua
mãe, Odinéia. Amanda ia para lá
somente nos finais de semana,
pois dorme no trabalho.
Sua mãe, disse Amanda, não estava em casa, pois havia ido à passeata no Barra Shopping (zona
oeste), contra a política habitacional do governo fluminense.
Diferentemente de Odinéia, Larisse Cristina da Silva, 18, levou
seu filho, Leandro, de menos de
um ano, à manifestação. "Quando cheguei já havia acabado [o incêndio". Só vi meu barraco queimado pelo jornal. Perdi tudo."
Ontem, foi encontrado o corpo
de outra vítima do incêndio. Era
uma criança de cerca de dois
anos, possivelmente a menina
Mayara. Segundo o Corpo de
Bombeiros, o corpo estava carbonizado e era impossível fazer o reconhecimento no local.
O secretário de Estado da Segurança Pública, Josias Quintal, esteve ontem no local do incêndio e
disse que as primeiras informações indicam que a causa do incêndio seria a explosão de um botijão de gás. "Essa é uma hipótese
forte", afirmou.
O secretário reafirmou que toda
a favela vai ser removida, mesmo
os moradores cujos barracos não
foram atingidos pelo fogo. Parte
deles será levada para os conjuntos habitacionais Nova Sepetiba
(zona oeste) e Acari (zona norte).
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