São Paulo, sábado, 08 de setembro de 2001

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RIO

Mãe estava em uma manifestação contra a política habitacional; um corpo de criança de cerca de dois anos também foi encontrado

Menina morta estava trancada em barraco na favela

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Uma das duas crianças mortas no incêndio da favela localizada debaixo do viaduto da Linha Vermelha (zona norte do Rio), a menina Ana Paula Alves de Azevedo, 11, estava trancada no barraco e não conseguiu fugir quando o fogo começou a se alastrar.
O incêndio provocou, anteontem, o afundamento de uma pista do viaduto, uma das principais vias de acesso ao Rio.
O ajudante de pedreiro Carlos Alberto Gonçalves, 16, morador da favela, contou ontem que tentou salvar Ana Paula depois de ouvir gritos de socorro que vinham do barraco. "Eu a ouvi gritando e batendo nas tábuas", disse. Vizinho da menina, Gonçalves afirmou que não conseguiu entrar para resgatá-la devido ao calor.
"Foi um sofrimento. O senhor já viu o inferno? Eu o vi de perto ontem [anteontem"", disse.
Ele afirmou que se machucou com as tábuas que caíram quando arrombou a porta do barraco. Gonçalves, que teve sua casa destruída pelo fogo, tinha escoriações nos braços e na barriga.
A situação de Ana Paula é comum em comunidades pobres do Rio. Sem o apoio de creches ou escolas em período integral, os moradores acabam trancando os filhos em casa sozinhos, temendo a violência urbana.
A babá Amanda Alves Bezerra, 15, irmã de Ana Paula, disse que quando chegou à favela a menina já estava morta. Contou ainda que a irmã morava somente com sua mãe, Odinéia. Amanda ia para lá somente nos finais de semana, pois dorme no trabalho.
Sua mãe, disse Amanda, não estava em casa, pois havia ido à passeata no Barra Shopping (zona oeste), contra a política habitacional do governo fluminense.
Diferentemente de Odinéia, Larisse Cristina da Silva, 18, levou seu filho, Leandro, de menos de um ano, à manifestação. "Quando cheguei já havia acabado [o incêndio". Só vi meu barraco queimado pelo jornal. Perdi tudo."
Ontem, foi encontrado o corpo de outra vítima do incêndio. Era uma criança de cerca de dois anos, possivelmente a menina Mayara. Segundo o Corpo de Bombeiros, o corpo estava carbonizado e era impossível fazer o reconhecimento no local.
O secretário de Estado da Segurança Pública, Josias Quintal, esteve ontem no local do incêndio e disse que as primeiras informações indicam que a causa do incêndio seria a explosão de um botijão de gás. "Essa é uma hipótese forte", afirmou.
O secretário reafirmou que toda a favela vai ser removida, mesmo os moradores cujos barracos não foram atingidos pelo fogo. Parte deles será levada para os conjuntos habitacionais Nova Sepetiba (zona oeste) e Acari (zona norte).



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