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EDUCAÇÃO
Segundo o Inep, exame é uma responsabilidade dos Estados; para ex-ministro, suspensão prejudica os mais carentes
MEC suspende "provão dos supletivos"
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
O fim do provão ainda está em
discussão, mas o Inep (Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais do MEC) já decidiu
suspender neste ano, sem fazer
muito alarde, o menos conhecido
dos exames de avaliação criados
pelo MEC: o Enceja (Exame Nacional de Certificação de Competências de Jovens e Adultos).
O Enceja foi criado no ano passado pelo então ministro Paulo
Renato Souza com o objetivo de
avaliar a educação de jovens e
adultos e combater irregularidades em supletivos que vendiam
diplomas ou facilitavam a obtenção de certificados de conclusão
de curso. No ano passado, 14 mil
jovens e adultos fizeram a prova
em 15 Estados.
O exame é voltado para jovens e
adultos que voltaram a estudar
porque não conseguiram concluir
o ensino fundamental ou médio
na idade adequada. Um bom rendimento na prova garante ao estudante um certificado de conclusão de determinado nível de ensino com o mesmo valor de um diploma de uma escola de ensino
fundamental ou médio.
A proposta do ex-ministro era
que o Enceja fosse usado também
para que os Estados e municípios
pudessem descredenciar escolas
que emitiam certificados sem que
os alunos, de fato, aprendessem.
Se os alunos de uma determinada instituição fossem mal na prova, essa instituição poderia perder
a autorização que recebe do Estado ou município para emitir certificados de conclusão.
Segundo o presidente do Inep,
Luiz Araújo, uma das razões para
a suspensão do Enceja neste ano é
de ordem legal: "O problema é
que o Enceja quer fazer uma certificação nacional, e essa é uma responsabilidade dos Estados. O governo passado tentou fazer com
os Estados e municípios uma espécie de convênio de adesão, e
não se pode revogar uma competência estadual ou municipal apenas por um termo de adesão. Teríamos que fazer uma mudança
na LDB (Lei de Diretrizes e Bases
da Educação)".
De acordo com Araújo, a suspensão do exame não significa
que o problema das irregularidades em cursos supletivos deixará
de ser enfrentado. "Oferecer uma
matriz nacional como subsídio
para os Estados é uma coisa, mas
chamar a responsabilidade da
certificação e gastar recursos da
União para fazer isso em nível nacional é outra. Não é preciso, necessariamente, chegar a esse extremo. Há outras formas de combater o problema, como mudando a legislação e estabelecendo
mais rigor no controle de conselhos estaduais."
Segundo ele, o exame só foi suspenso depois de avaliado o prejuízo que ele poderia causar. "Não tínhamos como manter o exame
sem fazer esse debate primeiro.
Achamos que não era um exame
maduro e que foi só um piloto. O
ministro [Cristovam Buarque]
achou mais seguro aguardar porque não teria um prejuízo já estabelecido", diz.
Para o ex-ministro Paulo Renato, hoje consultor na área educacional, a suspensão prejudica a
população mais carente: "É lamentável, porque o Enceja é do
interesse da população mais carente, daqueles que não tiveram a
oportunidade de estudar na idade
adequada e são ludibriados por
cursinhos que fazem propaganda
enganosa e fraudam o sistema".
Segundo o ex-ministro, o Enceja serve também para estabelecer
parâmetros para a educação de
jovens e adultos. "Estávamos
criando um padrão nacional de
qualidade do ensino médio no
país, e o Enceja era uma parte importante, junto com o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
Preocupa-me o fato de esses dois
instrumentos de melhoria do ensino médio estarem sendo abandonados", afirmou o ministro.
Na semana passada, o presidente do Inep afirmou que o Enem
passaria por um processo de avaliação.
Santo André
Em Santo André, na Grande São
Paulo, o final do Enceja foi recebido com preocupação. Há cerca de
um ano, a prefeitura da cidade usa
a prova para oferecer certificados
de ensino fundamental e médio
para os alunos de cursos profissionalizantes.
"Quem faz os cursos profissionalizantes tem também aulas de
matemática, português, história,
enfim, as matérias do ensino médio. Com isso, quando eles terminam o curso, fazem o Enceja e
saem com o certificado de ensino
médio ou fundamental", explica
Antônio Balbino, coordenador do
departamento de educação da
Prefeitura de Santo André.
Segundo Balbino, o fim do Enceja elimina essa possibilidade,
pois a prefeitura pode oferecer as
aulas, mas não o certificado de ensino. O coordenador diz que, para
continuar com o projeto, a solução seria a prefeitura firmar convênios com entidades de ensino.
"Mas para isso não temos verba.
Por isso encaminhamos um pedido para o MEC rever essa posição", afirma. Desde que foi implantado, 552 pessoas fizeram a
prova para o ensino fundamental
e 394 para o ensino médio.
Colaborou a Reportagem Local
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