São Paulo, segunda-feira, 08 de setembro de 2008

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Não houve falha, afirma juíza que tirou meninos de abrigo

Para ela, não havia como prever "monstruosidade" contra irmãos achados mortos e esquartejados

Pai e madrasta estão presos acusados do crime, que aconteceu na sexta-feira passada em Ribeirão Pires, na Grande São Paulo

KLEBER TOMAZ
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

A juíza que autorizou os dois garotos assassinados na noite da última sexta-feira em Ribeirão Pires (Grande São Paulo) a voltar a morar com a família, após nove meses em um abrigo, disse que não havia "indícios" para prever a "monstruosidade" de que eles seriam vítimas.
O pai e a madrasta dos dois meninos, Igor Giovani, 12, e João Vítor, 13, estão presos acusados de matá-los e esquartejá-los. Os corpos foram encontrados em sacos de lixo em frente à casa da família.
"Não teve falha do Estado. É uma monstruosidade tão grande que escapa da capacidade de previsão", afirmou à Folha Isabel Cardoso da Cunha Lopes Enei, da Terceira Vara da Comarca de Ribeirão Pires.
Abalada com a notícia da morte dos irmãos, a juíza defendeu a decisão de devolvê-los ao convívio familiar no começo deste ano, após obter laudos de psicóloga e assistente social, sob a alegação de que a permanência no abrigo deve ser provisória, que a relação do pai e da madrasta com eles havia melhorado e que ambos mantinham uma boa estrutura.
"O abrigo é lugar provisório, não um depósito. Eles [o pai e a madrasta] não tinham vícios e estavam empregados", disse Enei, que, há um mês, encontrou ambos numa audiência e que a madrasta havia expressado sinais de afetuosidade.
Dois dias antes do crime, as crianças haviam sido levadas à delegacia por um guarda-civil que as encontrara abandonadas na rua. O conselho tutelar foi acionado, mas elas acabaram devolvidas à família.
A madrasta dos meninos, Eliane Aparecida Rodrigues, 36, contou à polícia que seu marido, João Alexandre Rodrigues, 40, asfixiou os garotos com sacos plásticos e admitiu ter ajudado a queimá-los e esquartejá-los com uma foice. Os sacos com pedaços dos corpos foram achados por lixeiros.
A relação conflituosa dos meninos com a família dura mais de três anos. A mãe deles saiu de casa. Eles chegaram a viver com uma tia, depois foram para a rua e, em seguida, foram morar com o pai e a madrasta, quando reclamavam de agressões e maus-tratos.
Segundo a juíza Enei, eles "tinham um comportamento difícil" devido aos "hábitos adquiridos na rua" e a convivência familiar ficou cada vez mais "conflituosa", levando à internação dos irmãos no abrigo.
Dias depois, ela ainda cogitou devolvê-los à família, mas foi demovida pela recusa dos meninos e a avaliação de conselheiros tutelares e funcionários do abrigo Novo Rumo.
Enei afirma que a resistência deles em conviver com a família foi atenuada nos meses seguintes. No fim de 2007, foi feito um teste de 30 dias, quando eles ficaram na casa do pai.
"Na volta dessas férias, eles contaram coisas boas e disseram que queriam voltar a morar com ele", disse a juíza, que liberou, então, a saída dos meninos em janeiro deste ano, mediante acompanhamento psicológico e avaliação social.
Uma das certidões do processo diz que eles "manipulavam a realidade para contemplar seus desejos pessoais". Enei afirma que não foi essa a razão para autorizar a saída dos irmãos do abrigo.


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