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Controladores denunciam comando da FAB
Advogado vai entrar com denúncia-crime contra brigadeiro Juniti Saito por rebeldia contra a Presidência da República
Texto vai dizer que
comandantes dos centros de
controle de tráfego aéreo
abandonaram seus postos
durante motim de março
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os controladores de tráfego
aéreo entram amanhã na Procuradoria Geral da República
com uma denúncia-crime contra o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito,
alegando que ele pôs em risco a
segurança do transporte aéreo
no motim de 30 de março.
O advogado dos controladores, Roberto Sobral, vai acusar a
FAB de, por meio de Saito e dos
seus comandantes dos centros
de controle de tráfego aéreo,
ter abandonado a responsabilidade pelo sistema entre a noite
do dia 30 e meio-dia de 2 de
abril, quando os oficiais retornaram ao trabalho.
Naqueles dias, os controladores se reuniram no que chamaram informalmente de
"quartel-general de emergência", na casa de um deles em
Brasília, para manter o sistema
funcionando. Na falta de chefias, eles fizeram toda a coordenação com outros centros do
país por conta própria.
No texto da denúncia, Sobral
vai acusar os comandantes de
"rebeldia contra a Presidência
da República", considerando
que eles deixaram os postos em
represália à decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
de enviar um ministro civil,
Paulo Bernardo (Planejamento), para negociar com os controladores amotinados.
No dia 31 de março, sábado,
Saito reuniu o Alto Comando
da Força Aérea no seu gabinete
para discutir a quebra de hierarquia e soltou nota em que se
desobrigava da responsabilidade pelo controle de tráfego aéreo a partir de então.
Os controladores que são
sargentos e suboficiais da FAB
(Força Aérea Brasileira) estão
sendo indiciados em crime de
motim por um dos IPMs (Inquéritos Policiais Militares)
movidos pelo Comando da Aeronáutica contra a categoria.
Como militares, eles são proibidos de fazer greve.
Além do abandono dos postos após o motim, a denúncia
vai acusar a FAB de ocultar falhas do sistema e de não treinar
adequadamente os controladores para uma tarefa que envolve
risco de morte. Dirá que, passado um ano do acidente entre o
jato Legacy e o Boeing da Gol,
que resultou na morte de 154
pessoas, não houve melhoria
nas condições objetivas que
eles consideram que contribuíram para a colisão.
Os controladores decidiram
voltar ao ataque, agora por
meio judicial, depois que os colegas envolvidos no acidente
foram indiciados tanto pela
Justiça Federal quanto por
IPM aberto pelo comandante
Saito. Eles reclamam que estão
sendo os únicos réus, sem que
haja investigação ou questionamento sobre o sistema.
Eles argumentam que nenhum oficial até agora foi indiciado em qualquer instância,
nem pelo acidente nem pelo
motim, apesar de em 30 de
março haver pelo menos um tenente e um major de plantão no
Cindacta-1, de Brasília.
A denúncia-crime será analisada pelo procurador-geral da
República, Antonio Fernando
Souza, que poderá acatá-la ou
não. Em caso afirmativo, ela
poderá se transformar em processo no STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Procurada pela Folha, a assessoria da FAB não se manifestou até o início da noite.
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