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SANTOS
Objetivo é viabilizar navegação no trecho de Cubatão do canal; há 3 milhões de m3 de material tóxico acumulado
Projeto quer remover fundo de estuário
FAUSTO SIQUEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS
Uma audiência marcada para
hoje, em Cubatão (SP), dá início
ao debate público sobre os riscos
ambientais da execução de um
ambicioso projeto de remoção da
camada de resíduos industriais
tóxicos acumulada durante décadas no fundo do canal do estuário
de Santos.
A principal motivação do plano,
patrocinado pelo Ciesp (Centro
das Indústrias do Estado de São
Paulo) é econômica. O objetivo é
viabilizar a navegação no trecho
de Cubatão do canal do estuário.
Situado próximo ao pólo industrial de Cubatão, o trecho, com 4,5
km, é o mais contaminado do canal -cuja extensão total é de 27,5
km-, e a única via de acesso marítimo aos portos privativos das
empresas Cosipa (Companhia Siderúrgica Paulista) e Ultrafertil.
Devido ao volume de poluentes
no fundo do canal, a dragagem
naquele trecho está suspensa há
sete anos. A dragagem é a operação de retirada do sedimento que
se deposita no fundo devido ao
assoreamento e serve para assegurar a manutenção da profundidade necessária para a navegação
-12 metros. Segundo o Ciesp,
em alguns pontos do trecho de
Cubatão do canal, a profundidade
chega a ser inferior a 9 metros.
Com isso, navios com destino
aos portos da Cosipa e da Ultrafertil correm o risco de encalhar,
obstruir a passagem pelo canal e
impedir a chegada de matéria-prima às duas empresas e a outras
do pólo industrial de Cubatão.
De acordo com dados da estatal
Codesp (Companhia Docas do
Estado de São Paulo), os dois terminais foram responsáveis no
ano passado por 16,4% do movimento total do porto de Santos.
O projeto a ser apresentado hoje
prevê o uso de técnicas de dragagem que revolveriam minimamente o fundo do canal, de forma
a não espalhar o resíduo tóxico
para outros pontos, o que ameaçaria de contaminação peixes, organismos aquáticos e, por consequência, o homem.
Resíduos tóxicos
Em 2001, estudo divulgado pela
Cetesb (agência ambiental paulista) apontou a presença no canal
do estuário de substâncias tóxicas, como metais pesados, PCBs
(bifenilas policloradas) e dioxina.
A questão do destino do material dragado seria resolvida, pelo
plano, com a abertura de cavas
profundas em outros pontos do
canal, onde 3 milhões de m3 de resíduos seriam enterrados, cobertos e permaneceriam confinados.
O volume equivale a 75% do
que a Codesp estima ser preciso
dragar por ano nos 23 km restantes do canal (4 milhões de m3).
"Será a primeira dragagem ambiental do país", disse Marco Paulo Penna Cabral, chefe geral da
usina da Cosipa e diretor do Ciesp
em Cubatão.
Segundo Cabral, a obra terá até
um ano de duração e custará às
indústrias R$ 60 milhões. Para ser
executada, porém, necessita da
concessão de uma licença ambiental pela Cetesb. A audiência
pública é uma etapa do processo
de licenciamento.
A solução proposta para Santos
se assemelha à aplicada no porto
de Boston (EUA), segundo o professor Luiz Roberto Tommasi, diretor-presidente da Fundespa
(Fundação de Estudos e Pesquisas
Aquáticas). A entidade foi contratada pelo Ciesp para planejar a
dragagem e o transporte e a disposição final do material dragado.
Para isso, a Fundespa realizou
nos últimos dois anos estudos
oceanográficos, geológicos, químicos e biológicos e assinou um
protocolo de cooperação com o
Usac (United States Army Corps
of Engineers), o grupo de engenheiros do Exército americano.
"Nos EUA e em outros países, o
processo que recomendamos é
praticado em ambientes com níveis de poluição muito maiores
do que aqueles com que estamos
lidando na Baixada Santista", afirmou Tommasi, especialista em
oceanografia e professor titular
aposentado da USP (Universidade de São Paulo).
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