São Paulo, segunda-feira, 08 de dezembro de 2008

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Polícia suspeita que serial killer
matou 13

Crimes ocorreram em parque de Carapicuíba freqüentado à noite por homossexuais e distante 5,4 km de Alphaville

Todas as vítimas são homens, e 12 delas foram mortas a tiros; primeiro caso foi em julho do ano passado e o último, em agosto

Joel Silva/Folha Imagem
Parque é ponto de encontro de homossexuais, à noite; desde o ano passado, ocorreram 13 homicídios

ANDRÉ CARAMANTE
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O parque dos Paturis, em Carapicuíba, fica cravado numa região da Grande São Paulo onde as regras básicas do urbanismo parecem não ter chegado. Ruas mal planejadas, casas sem reboco apinhadas umas sobre outras e um emaranhado de fios da rede elétrica que emolduram os cenários de periferia.
De dia, mesmo mal cuidado, o parque é como qualquer outro: atrai casais de namorados, famílias com crianças. À noite, torna-se ponto de encontro de homossexuais. Desde o ano passado, virou território de uma série de 13 assassinatos ocorridos sob circunstâncias muito parecidas, que acabaram levando a polícia a desconfiar de um assassino em série.
A possibilidade só foi levantada após a última morte, em agosto, quando houve troca no comando da Polícia Civil da região. O novo delegado, Paulo Fernando Fortunato, percebeu as coincidências e apontou a hipótese na primeira reunião com os seus subordinados.
A primeira delas é o local de ocorrência, circunscrito ao pequeno "território" -um bosque menor que um campo de futebol, dentro do parque-, uma característica de assassinatos em série. Outras: nada foi levado das vítimas. Em 12 das 13 mortes foi usada arma de fogo; 11 com um revólver calibre 38, outra com uma pistola 380 -sempre disparadas a curta distância. A exceção foi um morto a pauladas. Em parte dos casos, existem sinais de ter havido sexo. As vítimas não tinham passagem pela polícia.
O atirador também demonstrou perícia. Os policiais não encontraram nenhum sinal de disparos em árvores, no chão ou outro lugar que não nos corpos. Essa habilidade leva a polícia a suspeitar que o assassino seja ligado à área de segurança, com treinamento.
A investigação também aponta que ele escolheu seus alvos de forma aleatória. Ligações feitas e recebidas pelas vítimas antes da morte não apontaram nenhum suspeito. Isso elimina a chance de o encontro ter sido agendado.
Por fim, todos os alvos foram homens, parte deles homossexual -alguns foram encontrados com as calças abaixadas e deitados de bruço.
O suposto assassino continua solto e dele sabe-se muito pouco: tem de 1,65 m a 1,70 m, é considerado forte, de cor parda, usa roupas escuras e capuz, segundo as investigações. É chamado pelos policiais de "maníaco do arco-íris" -uma alusão à bandeira colorida da comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais).
Ele matou pela primeira vez em julho do ano passado e, desde então, houve em média quase uma morte por mês. A última ocorreu em agosto. A maioria das vítimas é de classe média e média baixa: servidores públicos, caminhoneiro, detetive e barman.
O parque é freqüentado, porém, por todos os níveis sociais. Gente que chega a pé ou em carros importados; alguns, dizem freqüentadores, da vizinha Alphaville, em Barueri, onde casas de luxo e centros empresarias têm aparência e renda per capita de Primeiro Mundo.
Apesar de ocorrerem nesse pequeno bosque, a falta de iluminação deixa uma pessoa com roupas escuras praticamente invisível. Também não há cercas ou alambrados ao seu redor e várias vias podem ser utilizadas para a fuga do criminoso.

Exame de DNA
A escolha de um parque como local para matar remete ao motoboy Francisco de Assis Pereira, o "maníaco do parque", cujos crimes desafiaram a polícia paulista em 1998 -foi preso sob a acusação de ter violentado e matado sete mulheres no parque do Estado, no extremo sul de São Paulo.
Para a polícia, a prisão desse novo assassino -se for mesmo um serial killer- é mais complexa porque ainda não há um só suspeito e as provas são praticamente inexistentes. Não há nem impressões digitais.
Existem só as balas recolhidas nos corpos para eventual confronto balístico. Para isso, porém, é preciso encontrar um suspeito e, depois, sua arma.
Ainda não foram feitas perícias nos projéteis para ver se saíram da mesma arma. Apesar de ter sido encontrado esperma em alguns dos corpos, nenhum exame de DNA foi feito.
Um dos motivos para essa situação é a falta de estrutura e deficiências da polícia local. Apesar de ficar a 500 m do parque dos Paturis, o 3º Distrito Policial de Carapicuíba tem cinco investigadores para uma população superior a 100 mil habitantes.


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