São Paulo, terça-feira, 08 de dezembro de 2009

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Sem obra, Roosevelt voltou a ser violenta, dizem comerciantes

Reforma tocada pela prefeitura deveria estar concluída há dois anos, mas revisão dos projetos adia término para 2012

Para lojistas, abandono da obra agravou a degradação da região e fez aumentar a criminalidade; migração de viciados também é criticada

TALITA BEDINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

"São roubos, mortes. Isto aqui está voltando a ser como há 13, 14 anos", diz Renato Orbetelli, 62, dono da barbearia e charutaria Diplomat, há 41 anos na praça Roosevelt, ao comentar a tentativa de assalto ao bar do Espaço Parlapatões, no sábado, quando o dramaturgo Mário Bortolotto e o desenhista Carcarah foram baleados.
Com tanto tempo de praça, ele viveu a época em que o local era um conhecido reduto de drogas e de prostituição, passou pela recuperação da área promovida pela chegada dos teatros e ouviu com entusiasmo os planos da prefeitura de tornar os 18.000 m2 de concreto em uma praça de verdade.
Mas o espaço que, pelo projeto da administração municipal, já deveria estar repleto de árvores há quase dois anos, tornou-se ainda mais degradado depois de a prefeitura ter iniciado sua "requalificação" da área.
O primeiro passo da prefeitura foi demolir um supermercado (no meio de 2007) e uma escola municipal (no início de 2008) que funcionavam sob o "pentágono", estrutura de concreto que cobre parte da praça.
Mas as mudanças pararam por aí. A Emurb (Empresa Municipal de Urbanização) diz que a demora se deve a alterações no projeto para aprovação do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que bancará 85% da obra, e a consultas públicas feitas a moradores da região. Agora, a reforma só deverá acabar em 2012.
No lugar dos dois prédios sobrou um vão, que se tornou abrigo para moradores de rua e usuários de drogas. Nos últimos meses, com as operações da prefeitura e da polícia na cracolândia, também no centro, viciados em crack migraram para a região.
Comerciantes afirmam que a criminalidade tem aumentado. "Um homem entrou aqui armado e tivemos que dar todo o dinheiro", conta Sueli Cirelli, dona de um pet-shop. "Há um ano, pegaram um senhor aqui dentro e o encheram de coronhadas para roubar", diz Orbetelli, o dono da charutaria. "Daqui já furtaram vasos e flores", afirma a vendedora Cláudia dos Santos, 31, da Alcas Flores.
Segundo a Polícia Militar, de janeiro a outubro deste ano, foram apreendidas 12 armas de fogo e 185 pessoas foram presas em flagrante na região. A Folha apurou que o número de furtos na região do distrito da Consolação, onde fica a praça, aumentou quase 10% no terceiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2008 - foi de 1.007 para 1.104. O aumento na cidade, no período, foi de 6%. O número de roubos, entretanto, teve uma ligeira queda: foi de 396 para 390.
Moradores acreditam que haja subnotificação. "As pessoas não procuram a delegacia. Aí a polícia diz que não há registros que justifiquem um policiamento ostensivo. Mas o problema é justamente esse: não há policiamento aqui", diz André Bogdan, síndico do prédio onde fica o Espaço Parlapatões.
Aos pés da Roosevelt, há um batalhão da PM e outro da GCM (Guarda Civil Metropolitana). Na base da GCM há cinco carros e 160 guardas para cobrir uma área que abrange, além da praça, a avenida Paulista, a rua Vergueiro, o parque da Aclimação e a Liberdade. A guarda diz que faz cinco rondas diárias na praça. A PM diz que tem uma base móvel na região.


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