São Paulo, quarta-feira, 09 de janeiro de 2008

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"Nunca perdi a esperança", diz Neves

Marcelo Soares/Folha Imagem
Julio Neves, presidente do Masp


AFRA BALAZINA
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL

Presente à apresentação dos quadros de Portinari e de Picasso ontem à noite na sede do Deic, o presidente do Masp, o arquiteto Julio Neves, afirmou que nunca havia perdido a esperança de recuperar as obras.
"Essa é a maior comemoração que tivemos nestes 60 anos [do museu] e é uma vitória do brilhante e competente trabalho da polícia", disse.
Embora as obras ainda tenham de passar por uma análise para saber se sofreram avarias, Neves prometeu aos jornalistas que elas já voltarão a ser expostas na reabertura do museu, prevista para a sexta-feira. "Posso levar as obras?", perguntou Neves aos policiais. A resposta foi positiva.
Hoje, às 11h, a Polícia Civil deverá fazer a entrega oficial.
Para Neves, o episódio serviu de "lição" para todos os museus do país sobre a necessidade de se equiparem melhor. Ele admite que só reforçou a segurança do acervo após o furto. "Algumas empresas estão nos ajudando a recolocar o sistema de segurança em ordem".
A primeira preocupação de João Candido Portinari, filho do pintor que zela por seu legado, foi o estado de "O Lavrador de Café". "Tirei um peso enorme que estava carregando desde o furto. Agora precisamos saber se ela está em boas condições e quando vai voltar ao acesso público", disse.
O quadro era exibido em um ambiente controlado e pode ter sofrido com diferenças de temperatura, umidade e luz.
João Candido assinou o abaixo-assinado, criado pelo ex-curador do museu Luiz Marques, que pede intervenção do Estado no Masp. "Sei que as instituições no Brasil não têm recursos, vivem à míngua, mas o privado demonstra que não pode gerir seu patrimônio."

Gestão
O furto serviu para ampliar o debate sobre a necessidade de mudar a gestão do Masp.
Horas antes de a polícia anunciar a recuperação das telas, o secretário-adjunto municipal da Cultura, José Roberto Sadek, disse que, na negociação para renovar a cessão do prédio na avenida Paulista, a prefeitura solicitará participação na gestão. A concessão do edifício, projetado por Lina Bo Bardi, vence em novembro.
Sadek defende que o estatuto do Masp seja modernizado para que o poder público integre a gestão. O museu é gerido por uma sociedade privada, mas o acervo -avaliado em R$ 1 bilhão- é tombado pelo Estado.
Segundo ele, as maiores subvenções anuais da pasta são para o Masp, a Bienal e o Museu Afro. O Masp é o único que não apresenta plano de trabalho -que deve ser informado antes do repasse. Em 2007, a secretaria concedeu subvenção de R$ 1,2 milhão; neste ano, a previsão é de R$ 1,2 milhão.
O governo federal também quer participar da gestão do Masp. Segundo José do Nascimento Júnior, diretor do Departamento de Museus e Centros Culturais do Iphan, a União propõe, desde 2004, integrar a gestão, mas o museu ainda não deu resposta.
O Masp negou que o governo federal tenha feito uma proposta formal. "Existem conversações nos três níveis de governo [federal, estadual e municipal", afirmou o assessor de comunicação Paulo Alves. "Há interesse na participação mais efetiva das três esferas."


Com colaboração de Ricardo Viel


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