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São Paulo, domingo, 09 de fevereiro de 2003

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CIDADANIA

Projetos de poder público e ONGs atendem 750 crianças e adolescentes

Escolas ensinam surfe a menores carentes no litoral

CAROLINA FARIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA VALE

O surfe vem servindo de instrumento para dar cidadania a cerca de 750 crianças e adolescentes carentes que vivem em Ubatuba, Caraguatatuba e São Sebastião.
Hoje há cinco escolas na região -três bancadas por ONGs (organizações não-governamentais) e duas pelo poder público.
Os idealizadores dos projetos incentivam garotos a não somente aprender o surfe, mas a encará-lo como uma profissão e uma alternativa para tirá-los do ócio e, assim, da marginalidade.
Para cursar as escolinhas, os garotos são obrigados a frequentar escolas e têm seus boletins avaliados pelos professores, que, em alguns casos, chegam a matriculá-los na escola.
Segundo o IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), há nos três municípios cerca de 3.000 garotos de 7 a 14 anos ainda não alfabetizados.
Na região, é comum o envolvimento de adolescentes e crianças em ocorrências policiais. Segundo a Polícia Militar, os crimes mais frequentes entre eles são os furtos e o porte de entorpecentes.
Dos 173 internos do Vale do Paraíba e do litoral norte que estão nas unidades da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) em São Paulo, 24 vêm das três cidades litorâneas.
Apenas em Ubatuba a escolinha integra o quadro da Secretaria Municipal de Esportes. Em Caraguatatuba, o projeto recebe apoio da Fundacc (Fundação de Arte e Cultura de Caraguatatuba), uma autarquia da prefeitura.
As outras três escolas, as associações de surfe de Caraguatatuba e de São Sebastião e a Escolinha Zecão de Surfe dependem apenas dos seus idealizadores.
Um problema enfrentado pelas escolas é a falta de patrocínio para levar os alunos a competições, vesti-los com roupas apropriadas e até comprar pranchas.
"O difícil é conseguir patrocínio. O dinheiro da Fundacc paga dois instrutores, mas temos ex-alunos voluntários", disse o presidente da Associação de Surfe de Caraguá e coordenador do projeto "Antes no mar do que na rua", para garotos carentes.
"Levo meus alunos para fazer matrícula porque há alguns pais que não ligam. Também ensinamos inglês e servimos lanche. Os de carência maior ganham cestas básicas", disse José Carlos Maciel Rennó, ex-campeão brasileiro, conhecido como Zecão, proprietário da Escolinha Zecão de Surfe, que funciona em Itamambuca, na costa norte de Ubatuba.
A cidade tem tradição na formação de atletas de ponta -hoje, ocupam lugares de destaque no ranking da Abrasp (Associação Brasileira de Surfe Profissional) os ubatubanos Costinha (12º no ranking), Odirlei Coutinho (23º) e Tadeu Pereira (25º).
"Comecei em 92 numa escolinha particular que oferecia aulas gratuitas para os mais carentes. Meu pai era pescador e não podia pagar as aulas. Ele tinha preconceito, achava que era coisa de "maconheiro". Mas foi lá que aprendi a surfar e consegui meu primeiro patrocínio", afirmou Coutinho, que está tentando uma vaga no campeonato mundial.
Para o futuro secretário nacional de Desenvolvimento do Esporte e do Lazer, Lino Castellani, é preciso estar atento ao processo pedagógico implementado por esses projetos.


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