|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CIDADANIA
Projetos de poder público e ONGs atendem 750 crianças e adolescentes
Escolas ensinam surfe a menores carentes no litoral
CAROLINA FARIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA VALE
O surfe vem servindo de instrumento para dar cidadania a cerca
de 750 crianças e adolescentes carentes que vivem em Ubatuba,
Caraguatatuba e São Sebastião.
Hoje há cinco escolas na região
-três bancadas por ONGs (organizações não-governamentais) e
duas pelo poder público.
Os idealizadores dos projetos
incentivam garotos a não somente aprender o surfe, mas a encará-lo como uma profissão e uma alternativa para tirá-los do ócio e,
assim, da marginalidade.
Para cursar as escolinhas, os garotos são obrigados a frequentar
escolas e têm seus boletins avaliados pelos professores, que, em alguns casos, chegam a matriculá-los na escola.
Segundo o IBGE (Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), há nos três municípios cerca de 3.000 garotos de 7 a
14 anos ainda não alfabetizados.
Na região, é comum o envolvimento de adolescentes e crianças
em ocorrências policiais. Segundo a Polícia Militar, os crimes
mais frequentes entre eles são os
furtos e o porte de entorpecentes.
Dos 173 internos do Vale do Paraíba e do litoral norte que estão
nas unidades da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do
Menor) em São Paulo, 24 vêm das
três cidades litorâneas.
Apenas em Ubatuba a escolinha
integra o quadro da Secretaria
Municipal de Esportes. Em Caraguatatuba, o projeto recebe apoio
da Fundacc (Fundação de Arte e
Cultura de Caraguatatuba), uma
autarquia da prefeitura.
As outras três escolas, as associações de surfe de Caraguatatuba
e de São Sebastião e a Escolinha
Zecão de Surfe dependem apenas
dos seus idealizadores.
Um problema enfrentado pelas
escolas é a falta de patrocínio para
levar os alunos a competições,
vesti-los com roupas apropriadas
e até comprar pranchas.
"O difícil é conseguir patrocínio. O dinheiro da Fundacc paga
dois instrutores, mas temos ex-alunos voluntários", disse o presidente da Associação de Surfe de
Caraguá e coordenador do projeto "Antes no mar do que na rua",
para garotos carentes.
"Levo meus alunos para fazer
matrícula porque há alguns pais
que não ligam. Também ensinamos inglês e servimos lanche. Os
de carência maior ganham cestas
básicas", disse José Carlos Maciel
Rennó, ex-campeão brasileiro,
conhecido como Zecão, proprietário da Escolinha Zecão de Surfe,
que funciona em Itamambuca, na
costa norte de Ubatuba.
A cidade tem tradição na formação de atletas de ponta -hoje,
ocupam lugares de destaque no
ranking da Abrasp (Associação
Brasileira de Surfe Profissional)
os ubatubanos Costinha (12º no
ranking), Odirlei Coutinho (23º) e
Tadeu Pereira (25º).
"Comecei em 92 numa escolinha particular que oferecia aulas
gratuitas para os mais carentes.
Meu pai era pescador e não podia
pagar as aulas. Ele tinha preconceito, achava que era coisa de "maconheiro". Mas foi lá que aprendi
a surfar e consegui meu primeiro
patrocínio", afirmou Coutinho,
que está tentando uma vaga no
campeonato mundial.
Para o futuro secretário nacional de Desenvolvimento do Esporte e do Lazer, Lino Castellani, é
preciso estar atento ao processo
pedagógico implementado por
esses projetos.
Texto Anterior: Há 50 anos Próximo Texto: "Destruí o quarto e montei oficina" Índice
|