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SAÚDE
Doença é um dos principais motivos de afastamento do trabalho no país, segundo estudo da Previdência Social
Dores nas costas têm causa emocional
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Metade das causas de lombalgia
(dores nas costas) pode estar relacionada a fatores psicossociais,
que vão desde o estresse gerado
pela desmotivação no trabalho
até a depressão.
É o que demonstram estudos
internacionais, endossados por
ortopedistas e fisiatras brasileiros.
Em razão disso, os médicos defendem que o atendimento a esses
pacientes deva ir além da indicação de analgésicos e de exercícios
fisioterápicos e comece a tratar os
aspectos emocionais que desencadeiam a dor.
A lombalgia, na sua forma aguda ou crônica, chega a afetar 80%
da população adulta e é hoje um
dos principais motivos de afastamento do trabalho no Brasil, segundo a Previdência Social.
Nos últimos cinco anos, 315.187
brasileiros pediram auxílio-doença, benefício concedido após 16
dias de afastamento do trabalho,
em razão das dores nas costas,
que, em números absolutos, só
perdem para os casos de convalescença, período de recuperação
após cirurgia, que foram responsáveis por 354.933 afastamentos.
Em São Paulo, grupos ligados à
USP (Universidade de São Paulo)
e à Unifesp (Universidade Federal
de São Paulo) têm usado a acupuntura, a música, a dança, a automassagem e outras terapias
cognitivas e comportamentais para tratar os casos de lombalgia.
"Não adianta cuidar apenas do
corpo físico. Tem que tratar as
emoções", afirma o ortopedista
Ysao Yamamura, 60, professor da
Unifesp e responsável pelo ambulatório de acupuntura do Hospital
São Paulo.
Segundo ele, a tensão emocional pode transformar a coluna em
um órgão de choque, em que o indivíduo descarrega as emoções
negativas, como ansiedade e frustração. "Elas [as emoções negativas" funcionam com um fardo
nas costas", diz o médico.
É exatamente esse "fardo" que
aparece nas costas e no pescoço
da engenheira Cristiane Manne,
32, quando ela enfrenta situações
de estresse. "Tenho escoliose
[desvio da coluna para um lado"
e, quando estou estressada, a dor
piora muito", afirma. Segundo
ela, a tensão só desaparece com os
exercícios de fisioterapia.
Para a fisiatra Lin Tchia Yeng,
do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas de São Paulo, o tratamento
dos fatores emocionais, associado
à dieta e aos exercícios físicos, é
fundamental no processo de reabilitação da lombalgia.
Yeng afirma que nada adianta a
melhoria das condições físicas
(móveis dentro dos padrões ergonômicos recomendáveis) se o
ambiente de trabalho continuar
opressivo. "Como é difícil mudar
essa situação, as pessoas têm de
aprender a lidar com ela", afirma.
Segundo os médicos, 90% dos
doentes de lombalgia aguda recuperam-se espontaneamente em
quatro a sete semanas. Porém,
metade deles deve apresentar novos episódios de dor no período
de um ano, e 40% podem desenvolver um quadro de dor crônica.
Yeng diz que somente de 1% a 3%
dos doentes com lombalgia precisam se submeter a uma cirurgia.
Embora seja uma das queixas
mais frequentes da humanidade,
em 85% dos casos de lombalgia
não é possível determinar o motivo da dor. Para o ortopedista Akira Ishida, professor da Unifesp,
no decorrer do tempo, vários fatores de risco atuam em conjunto
ocasionando a dor.
Além dos fatores psicossociais,
estão o condicionamento físico
deficiente, a má postura, a mecânica anormal dos movimentos, os
pequenos traumas e o esforço repetitivo.
De acordo com Ishida, somente
após o resultado da consulta, do
exame físico e dos exames radiológicos é que o médico terá condições de indicar um tratamento
adequado para o caso.
Em geral, na fase aguda da dor,
que dura de cinco a sete dias, o
tratamento mais recomendado é
o repouso e o uso de analgésicos e
antiinflamatórios. Para a fisioterapeuta Maria do Carmo Bruneli,
49, os exercícios de alongamento
da musculatura e a reeducação
postural também são importantes
nessa fase.
"Não adianta trocar de colchão,
de cadeira, de mulher. Se não
houver mudança de hábito, como
perda de peso e realização de atividade física, a dor voltará", reforça Akira Ishida.
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