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São Paulo, domingo, 09 de fevereiro de 2003

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URBANISMO

Projeto de reforma urbana feito por moradores e empresários prevê de rodoviária a centro de reciclagem têxtil

Bom Retiro quer ser "distrito fashion" de SP

SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Projeto urbanístico desenvolvido em silêncio pela comunidade do Bom Retiro, centro de São Paulo, propõe enterrar sob novas calçadas a fama de paraíso da moda copiada. O bairro quer ser o "distrito fashion" da cidade, o que -dizem empresários e moradores- traduz a realidade atual.
Com lançamento previsto para maio, o Projeto Bom Retiro, como foi batizado, diferencia-se por três motivos dos demais planos de urbanização de ruas comerciais que surgiram na capital.
Primeiro, o plano não se ampara somente na reforma de calçadas. O foco é o desenvolvimento econômico da região, dominada pela indústria do vestuário.
Segundo, o projeto superou com sucesso a fase mais difícil das iniciativas do gênero: unir representantes da comunidade. No Bom Retiro, bairro formado por imigrantes, significa agradar de gregos a coreanos, literalmente.
Para se ter uma idéia, entre os membros da comissão executiva do projeto estão Thomaz Choi, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Coréia, Rebeca Sapira, judia romena dona da mais antiga imobiliária do bairro, e Marcelo Araújo, diretor da Pinacoteca. "Não quer dizer que não haja atrito", diz Cleiton Honório de Paula, 31, coordenador do projeto.
Por último, o projeto será lançado com uma área piloto pronta (veja mapa). As ruas desse trecho receberão, até maio, as novas calçadas, de concreto e granilite cinza (revestimento de pó de mármore e pedras), e outros itens.
A área piloto custará cerca de R$ 12 milhões e está sendo financiada pelos empresários instalados nas ruas. As obras de aterramento da fiação aérea já começaram.
Para financiar todo o projeto, os empresários do bairro formarão uma espécie de condomínio. Inicialmente, entrarão com investimento maior (cerca de R$ 10 mil) e depois pagarão uma taxa. No futuro, o condomínio buscará alternativas para se capitalizar.

Rodoviária, lixo, marketing
As cerca de 40 iniciativas previstas no projeto, que se transformou em um plano diretor informal do bairro, nasceram do debate sobre os problemas do Bom Retiro. O lixo e as enchentes, um ligado ao outro, são dois deles.
As confecções da região produzem 15 toneladas/mês de resíduos têxteis. Segundo Rute Zacconi, coordenadora do Centro de Educação Ambiental do Jardim da Luz, da prefeitura, os pacotes de retalhos são jogados na rua. No mesmo local, são separados pelos catadores. O que não é aproveitado acaba entupindo os bueiros.
"Por isso, um centro de reciclagem e educação ambiental são investimentos necessários", afirma Rute, que participa do projeto.
Outro problema são os ônibus de excursão de compradores, que congestionam as ruas. Para isso, está previsto um centro de apoio ao visitante a ser explorado por uma empresa, que funcionará como uma rodoviária. De lá, sairão linhas regulares de vans.
O projeto contempla até os pequenos exportadores do Bom Retiro. A idéia é negociar, com o governo do Estado, o aproveitamento da linha de trem para Cumbica para transportar também a mercadoria exportada do bairro.
O presidente da Associação Brasileira de Exportadores do Vestuário (Abev), André Lee, 45, diz que a desvalorização do real fez dessa opção uma saída rentável para as micro e pequenas confecções do Bom Retiro.
A Abev representa 22 indústrias da região, que exportam para todos os países da América Latina, exceto o México, e para vários países da Europa. O Chile é hoje o maior comprador. "E tudo começou por puro idealismo", diz Lee.
O arquiteto Cleiton Honório de Paula afirma que os empresários apostam no Projeto Bom Retiro para abrir um novo período de expansão econômica do bairro.
Para eles, hoje, o pólo da região está em seu limite e começa a sofrer a concorrência de outros centros. Por isso, o projeto prevê que muito marketing será importante. "A idéia é fortalecer o nome do Bom Retiro", diz o arquiteto.



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