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URBANISMO
Projeto de reforma urbana feito por moradores e empresários prevê de rodoviária a centro de reciclagem têxtil
Bom Retiro quer ser "distrito fashion" de SP
SÉRGIO DURAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Projeto urbanístico desenvolvido em silêncio pela comunidade
do Bom Retiro, centro de São
Paulo, propõe enterrar sob novas
calçadas a fama de paraíso da moda copiada. O bairro quer ser o
"distrito fashion" da cidade, o que
-dizem empresários e moradores- traduz a realidade atual.
Com lançamento previsto para
maio, o Projeto Bom Retiro, como foi batizado, diferencia-se por
três motivos dos demais planos
de urbanização de ruas comerciais que surgiram na capital.
Primeiro, o plano não se ampara somente na reforma de calçadas. O foco é o desenvolvimento
econômico da região, dominada
pela indústria do vestuário.
Segundo, o projeto superou
com sucesso a fase mais difícil das
iniciativas do gênero: unir representantes da comunidade. No
Bom Retiro, bairro formado por
imigrantes, significa agradar de
gregos a coreanos, literalmente.
Para se ter uma idéia, entre os
membros da comissão executiva
do projeto estão Thomaz Choi,
presidente da Câmara de Comércio Brasil-Coréia, Rebeca Sapira,
judia romena dona da mais antiga
imobiliária do bairro, e Marcelo
Araújo, diretor da Pinacoteca.
"Não quer dizer que não haja atrito", diz Cleiton Honório de Paula,
31, coordenador do projeto.
Por último, o projeto será lançado com uma área piloto pronta
(veja mapa). As ruas desse trecho
receberão, até maio, as novas calçadas, de concreto e granilite cinza (revestimento de pó de mármore e pedras), e outros itens.
A área piloto custará cerca de R$
12 milhões e está sendo financiada
pelos empresários instalados nas
ruas. As obras de aterramento da
fiação aérea já começaram.
Para financiar todo o projeto, os
empresários do bairro formarão
uma espécie de condomínio. Inicialmente, entrarão com investimento maior (cerca de R$ 10 mil)
e depois pagarão uma taxa. No futuro, o condomínio buscará alternativas para se capitalizar.
Rodoviária, lixo, marketing
As cerca de 40 iniciativas previstas no projeto, que se transformou em um plano diretor informal do bairro, nasceram do debate sobre os problemas do Bom Retiro. O lixo e as enchentes, um ligado ao outro, são dois deles.
As confecções da região produzem 15 toneladas/mês de resíduos
têxteis. Segundo Rute Zacconi,
coordenadora do Centro de Educação Ambiental do Jardim da
Luz, da prefeitura, os pacotes de
retalhos são jogados na rua. No
mesmo local, são separados pelos
catadores. O que não é aproveitado acaba entupindo os bueiros.
"Por isso, um centro de reciclagem e educação ambiental são investimentos necessários", afirma
Rute, que participa do projeto.
Outro problema são os ônibus
de excursão de compradores, que
congestionam as ruas. Para isso,
está previsto um centro de apoio
ao visitante a ser explorado por
uma empresa, que funcionará como uma rodoviária. De lá, sairão
linhas regulares de vans.
O projeto contempla até os pequenos exportadores do Bom Retiro. A idéia é negociar, com o governo do Estado, o aproveitamento da linha de trem para Cumbica
para transportar também a mercadoria exportada do bairro.
O presidente da Associação Brasileira de Exportadores do Vestuário (Abev), André Lee, 45, diz
que a desvalorização do real fez
dessa opção uma saída rentável
para as micro e pequenas confecções do Bom Retiro.
A Abev representa 22 indústrias
da região, que exportam para todos os países da América Latina,
exceto o México, e para vários
países da Europa. O Chile é hoje o
maior comprador. "E tudo começou por puro idealismo", diz Lee.
O arquiteto Cleiton Honório de
Paula afirma que os empresários
apostam no Projeto Bom Retiro
para abrir um novo período de
expansão econômica do bairro.
Para eles, hoje, o pólo da região
está em seu limite e começa a sofrer a concorrência de outros centros. Por isso, o projeto prevê que
muito marketing será importante. "A idéia é fortalecer o nome do
Bom Retiro", diz o arquiteto.
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