|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
URBANISMO
Bairro Bom Retiro abriga 12 comunidades de origem estrangeira; projeto prevê a criação de museu das religiões
Imigrantes são motor da transformação
DA REPORTAGEM LOCAL
Da primeira sinagoga da cidade
aos 11 times de várzea que atuam
desde o início do século passado
até hoje, o Bom Retiro é um dos
bairros da cidade de São Paulo
que mais reúne relíquias históricas. Para completar, 12 comunidades de imigrantes formam uma
salada multicultural e conferem
características únicas à região.
"É um espaço da cidade com
memória forte e vivência muito
rica", diz o diretor da Pinacoteca
do Estado, Marcelo Araújo.
O rol de prédios tombados levou os responsáveis pelo Projeto
Bom Retiro a incluir ações de incentivo à cultura com destaque.
Além dos museus existentes, o
plano é criar mais dois -um sobre religião, para contemplar as
comunidades representadas no
bairro, e outro do Corinthians.
O time paulistano foi fundado
em 1910, por quatro operários espanhóis do bairro, na rua José
Paulino. O primeiro campo de futebol do país com medidas oficiais foi instalado onde hoje funciona o colégio Dom Bosco.
Bolivianos e indianos
A presença dos imigrantes, porém, representa a característica
mais típica do bairro -colonizado, no fim do século 19, por italianos. Durante anos, eles prevaleceram, até que, em meados do século passado, veio o domínio judeu.
Hoje, os coreanos predominam
na região, alvo da imigração de
bolivianos, e, mais recentemente
e de forma discreta, de indianos.
"Mas teve também uma época
de destaque dos gregos", lembra
Rebeca Sapira, 59, que trabalha
no setor imobiliário do bairro há
45 anos. Hoje, a imobiliária que
leva o seu nome domina o mercado local. É Rebeca, judia romena,
que vende imóveis de membros
da sua colônia para coreanos.
"O fato é que eles trouxeram um
colorido novo ao bairro", diz o
advogado e contador português
Carlos Dias, 55, presidente da Sociedade Amigos do Bom Retiro,
fundada em 1947. "Engraçado é
que nunca paramos de receber
gente de outros países", comenta.
Foram os coreanos que, há cerca de cinco anos, começaram a reformar os velhos imóveis do bairro, investindo em lojas sofisticadas de pé-direito duplo. Ninguém
sabe ao certo porquê. "Fiz na minha para não ficar para trás", conta o coreano Johny Ahn, 46, proprietário da confecção Rubicon.
Para Augusto Myiung, presidente da Associação Brasileira
dos Coreanos, é típico dos seus
compatriotas investir tudo o que
têm em seu negócio, não importa
o ramo. "Há também um desejo
de reformular o bairro", diz.
Já na opinião do arquiteto Cleiton Honório de Paula, do Projeto
Bom Retiro, o conflito de gerações explica melhor a história.
"A maioria dos judeus proprietários de comércio não desejava
ver os filhos atrás do balcão. Investiram na formação deles, que
viraram profissionais de várias
áreas. Já entre os coreanos, percebe-se muito a presença dos filhos
no negócio, e eles vêm cheios de
idéias", considera Cleiton.
A trajetória da indústria da confecção mistura-se com a história
da colônia coreana no bairro. De
um passado no qual a cópia de
marcas consagradas era rotina, as
lojas e confecções passaram a investir na criatividade.
"Hoje o Bom Retiro já é um
bairro da moda, sem similar no
Brasil, e diria até na América Latina. Aqui se consegue viabilizar
economicamente uma moda comercial de boa qualidade", diz
Amir Slama, proprietário da Rosa
Chá, grife do Bom Retiro que desfila na São Paulo Fashion Week.
No passado, Slama chegou a flagrar réplicas de roupas suas nas
vitrines do bairro. "Fiquei irritado. Mas hoje não se faz mais isso."
(SÉRGIO DURAN)
Texto Anterior: Mortes Próximo Texto: Gilberto Dimenstein: Aulas de marketing de Kelly Key e da cadelinha Perepepê Índice
|