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São Paulo, domingo, 09 de fevereiro de 2003

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URBANISMO

Bairro Bom Retiro abriga 12 comunidades de origem estrangeira; projeto prevê a criação de museu das religiões

Imigrantes são motor da transformação

DA REPORTAGEM LOCAL

Da primeira sinagoga da cidade aos 11 times de várzea que atuam desde o início do século passado até hoje, o Bom Retiro é um dos bairros da cidade de São Paulo que mais reúne relíquias históricas. Para completar, 12 comunidades de imigrantes formam uma salada multicultural e conferem características únicas à região.
"É um espaço da cidade com memória forte e vivência muito rica", diz o diretor da Pinacoteca do Estado, Marcelo Araújo.
O rol de prédios tombados levou os responsáveis pelo Projeto Bom Retiro a incluir ações de incentivo à cultura com destaque. Além dos museus existentes, o plano é criar mais dois -um sobre religião, para contemplar as comunidades representadas no bairro, e outro do Corinthians.
O time paulistano foi fundado em 1910, por quatro operários espanhóis do bairro, na rua José Paulino. O primeiro campo de futebol do país com medidas oficiais foi instalado onde hoje funciona o colégio Dom Bosco.

Bolivianos e indianos
A presença dos imigrantes, porém, representa a característica mais típica do bairro -colonizado, no fim do século 19, por italianos. Durante anos, eles prevaleceram, até que, em meados do século passado, veio o domínio judeu.
Hoje, os coreanos predominam na região, alvo da imigração de bolivianos, e, mais recentemente e de forma discreta, de indianos.
"Mas teve também uma época de destaque dos gregos", lembra Rebeca Sapira, 59, que trabalha no setor imobiliário do bairro há 45 anos. Hoje, a imobiliária que leva o seu nome domina o mercado local. É Rebeca, judia romena, que vende imóveis de membros da sua colônia para coreanos.
"O fato é que eles trouxeram um colorido novo ao bairro", diz o advogado e contador português Carlos Dias, 55, presidente da Sociedade Amigos do Bom Retiro, fundada em 1947. "Engraçado é que nunca paramos de receber gente de outros países", comenta.
Foram os coreanos que, há cerca de cinco anos, começaram a reformar os velhos imóveis do bairro, investindo em lojas sofisticadas de pé-direito duplo. Ninguém sabe ao certo porquê. "Fiz na minha para não ficar para trás", conta o coreano Johny Ahn, 46, proprietário da confecção Rubicon.
Para Augusto Myiung, presidente da Associação Brasileira dos Coreanos, é típico dos seus compatriotas investir tudo o que têm em seu negócio, não importa o ramo. "Há também um desejo de reformular o bairro", diz.
Já na opinião do arquiteto Cleiton Honório de Paula, do Projeto Bom Retiro, o conflito de gerações explica melhor a história.
"A maioria dos judeus proprietários de comércio não desejava ver os filhos atrás do balcão. Investiram na formação deles, que viraram profissionais de várias áreas. Já entre os coreanos, percebe-se muito a presença dos filhos no negócio, e eles vêm cheios de idéias", considera Cleiton.
A trajetória da indústria da confecção mistura-se com a história da colônia coreana no bairro. De um passado no qual a cópia de marcas consagradas era rotina, as lojas e confecções passaram a investir na criatividade.
"Hoje o Bom Retiro já é um bairro da moda, sem similar no Brasil, e diria até na América Latina. Aqui se consegue viabilizar economicamente uma moda comercial de boa qualidade", diz Amir Slama, proprietário da Rosa Chá, grife do Bom Retiro que desfila na São Paulo Fashion Week.
No passado, Slama chegou a flagrar réplicas de roupas suas nas vitrines do bairro. "Fiquei irritado. Mas hoje não se faz mais isso." (SÉRGIO DURAN)

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