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Ex-diretora culpa Ibama por sumiço de animais em SP
Agência aponta fundação como responsável por avaliar que problemas ocorreram até 2004
Ibama enviou 5.000 animais para centro de manejo sem que houvesse estrutura e pessoal, diz diretora da Fundação Florestal no período
AFRA BALAZINA
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
A ex-chefe do órgão responsabilizado pelo Ibama pelo desaparecimento de 101 animais
sob a guarda do governo de São
Paulo considera que a própria
agência ambiental federal contribuiu para que ocorressem as
irregularidades.
O Cemas (Centro de Manejo
de Animais Silvestres), para
onde eram levadas as espécies,
inclusive ameaçadas de extinção, se transformou, segundo
ela, num "depósito de bichos"
porque não tinha como receber
a quantidade de exemplares
deixados lá pelo instituto.
"O Ibama entregou entre
2003 e 2004 cerca de 5.000
animais para a guarda do Cemas sem que houvesse infra-estrutura e pessoal suficientes", afirma Antonia Pereira de
Avila Vio, diretora-executiva da
Fundação Florestal no período.
A instituição, ligada ao governo de São Paulo, foi responsável pela gerência do centro de
manejo até janeiro de 2005
-quando ela passou ao comando da Fundação Zoológico,
também vinculada ao Estado.
O Ibama chegou a aplicar na
semana passada uma multa de
R$ 189,5 mil ao zoológico comandado pela gestão José Serra (PSDB) devido ao sumiço
dos animais, mas recuou e deverá responsabilizar a Fundação Florestal por avaliar que os
problemas ocorreram apenas
até 2004 -posição contestada
por alguns fiscais do instituto.
Além dos 101 animais que sumiram (15 deles ameaçados de
extinção, como nove pássaros
pixoxó e dois gatos-do-mato),
outros 72 foram mantidos no
Cemas sem registros. A suspeita de parte do corpo técnico do
Ibama é que a falta de controle
de entrada e saída dos bichos
encubra um esquema de desvio
e comercialização ilegal.
Avila Vio, que dirigiu a fundação entre 2002 e 2006, nega
culpa nas irregularidades
("cumpri minha parte, estou
tranqüila"), mas levanta suspeita para a atuação de um ex-funcionário do centro -que, de
acordo com ela, era ligado a
criadouros de animais silvestres registrados no Ibama, que
podem vender os bichos.
"Tinha conflito de interesses", afirma Avila Vio, que diz
ter determinado a demissão do
funcionário ao saber do caso.
Além disso, ela afirma que ele
tinha aval do Ibama para transportar sempre que quisesse
aves, mamíferos e répteis.
Procurada há dois dias, Avila
Vio deu entrevista à Folha às
18h de ontem. A reportagem
tentou obter uma resposta do
Ibama no começo da noite,
mas, segundo sua assessoria de
imprensa, não foi possível localizar os técnicos nesse horário.
Multa
Funcionários do Ibama dizem que cobravam internamente a aplicação de multa devido à falta de registro dos animais da fauna silvestre dentro
do Cemas desde 2005 -antes
da confirmação do desaparecimentos dos animais.
O analista ambiental Vincent
Kurt Lo, por exemplo, em diversos memorandos para a
chefia do núcleo de fauna recomendava que fosse lavrado um
auto de infração -um deles data de 22 de março de 2005.
O instituto nega responsabilidade pela demora na punição
e informa, com base em ofícios,
que a Fundação Florestal levou
mais de um ano para enviar toda a documentação solicitada
de entrada e saída dos animais.
A punição só saiu no último
dia 31 e, mesmo assim, acabou
suspensa pelo Ibama por ter sido direcionada à Fundação
Zoológico, que se tornou responsável pelo Cemas em 2005.
"A fiscalização vai lá, aplica a
multa, cumpre com sua função.
A direção desautoriza e manda
mudar de repente. Queremos
uma apuração rigorosa do motivo e de por que levou tanto
tempo para haver a punição",
afirma Beth Lima, diretora do
Sindsef-SP (sindicato dos trabalhadores do serviço público
federal), para quem a razão pode estar ligada à proximidade
de antigos ou atuais funcionários do Ibama e do Cemas.
A entidade, que é filiada à Conlutas (central sindical ligada
ao PSTU), é crítica daquilo que
considera ser um aparelhamento político do instituto em
detrimento dos trabalhos técnicos -especialmente à presença, na superintendência do
órgão em São Paulo, de Analice
Fernandes, irmã do ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira.
O Ibama repudia com veemência esses comentários, mas
sua assessoria informou que
"não avalia posições pessoais
ou comenta especulações".
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