São Paulo, sábado, 09 de fevereiro de 2008

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Ex-diretora culpa Ibama por sumiço de animais em SP

Agência aponta fundação como responsável por avaliar que problemas ocorreram até 2004

Ibama enviou 5.000 animais para centro de manejo sem que houvesse estrutura e pessoal, diz diretora da Fundação Florestal no período

AFRA BALAZINA
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

A ex-chefe do órgão responsabilizado pelo Ibama pelo desaparecimento de 101 animais sob a guarda do governo de São Paulo considera que a própria agência ambiental federal contribuiu para que ocorressem as irregularidades.
O Cemas (Centro de Manejo de Animais Silvestres), para onde eram levadas as espécies, inclusive ameaçadas de extinção, se transformou, segundo ela, num "depósito de bichos" porque não tinha como receber a quantidade de exemplares deixados lá pelo instituto.
"O Ibama entregou entre 2003 e 2004 cerca de 5.000 animais para a guarda do Cemas sem que houvesse infra-estrutura e pessoal suficientes", afirma Antonia Pereira de Avila Vio, diretora-executiva da Fundação Florestal no período.
A instituição, ligada ao governo de São Paulo, foi responsável pela gerência do centro de manejo até janeiro de 2005 -quando ela passou ao comando da Fundação Zoológico, também vinculada ao Estado.
O Ibama chegou a aplicar na semana passada uma multa de R$ 189,5 mil ao zoológico comandado pela gestão José Serra (PSDB) devido ao sumiço dos animais, mas recuou e deverá responsabilizar a Fundação Florestal por avaliar que os problemas ocorreram apenas até 2004 -posição contestada por alguns fiscais do instituto.
Além dos 101 animais que sumiram (15 deles ameaçados de extinção, como nove pássaros pixoxó e dois gatos-do-mato), outros 72 foram mantidos no Cemas sem registros. A suspeita de parte do corpo técnico do Ibama é que a falta de controle de entrada e saída dos bichos encubra um esquema de desvio e comercialização ilegal.
Avila Vio, que dirigiu a fundação entre 2002 e 2006, nega culpa nas irregularidades ("cumpri minha parte, estou tranqüila"), mas levanta suspeita para a atuação de um ex-funcionário do centro -que, de acordo com ela, era ligado a criadouros de animais silvestres registrados no Ibama, que podem vender os bichos.
"Tinha conflito de interesses", afirma Avila Vio, que diz ter determinado a demissão do funcionário ao saber do caso.
Além disso, ela afirma que ele tinha aval do Ibama para transportar sempre que quisesse aves, mamíferos e répteis.
Procurada há dois dias, Avila Vio deu entrevista à Folha às 18h de ontem. A reportagem tentou obter uma resposta do Ibama no começo da noite, mas, segundo sua assessoria de imprensa, não foi possível localizar os técnicos nesse horário.

Multa
Funcionários do Ibama dizem que cobravam internamente a aplicação de multa devido à falta de registro dos animais da fauna silvestre dentro do Cemas desde 2005 -antes da confirmação do desaparecimentos dos animais.
O analista ambiental Vincent Kurt Lo, por exemplo, em diversos memorandos para a chefia do núcleo de fauna recomendava que fosse lavrado um auto de infração -um deles data de 22 de março de 2005.
O instituto nega responsabilidade pela demora na punição e informa, com base em ofícios, que a Fundação Florestal levou mais de um ano para enviar toda a documentação solicitada de entrada e saída dos animais.
A punição só saiu no último dia 31 e, mesmo assim, acabou suspensa pelo Ibama por ter sido direcionada à Fundação Zoológico, que se tornou responsável pelo Cemas em 2005.
"A fiscalização vai lá, aplica a multa, cumpre com sua função. A direção desautoriza e manda mudar de repente. Queremos uma apuração rigorosa do motivo e de por que levou tanto tempo para haver a punição", afirma Beth Lima, diretora do Sindsef-SP (sindicato dos trabalhadores do serviço público federal), para quem a razão pode estar ligada à proximidade de antigos ou atuais funcionários do Ibama e do Cemas.
A entidade, que é filiada à Conlutas (central sindical ligada ao PSTU), é crítica daquilo que considera ser um aparelhamento político do instituto em detrimento dos trabalhos técnicos -especialmente à presença, na superintendência do órgão em São Paulo, de Analice Fernandes, irmã do ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira.
O Ibama repudia com veemência esses comentários, mas sua assessoria informou que "não avalia posições pessoais ou comenta especulações".


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