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Folião busca "milagre" em workshop de samba
Às vésperas do Carnaval, aprendizes encaram aulas atraídos por anúncio
Segundo a publicidade, escola no Tatuapé promete fazer com que o aluno "aprenda a sambar
em apenas duas horas"
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
"Alguém aqui já sabe sambar? Ou tem pelo menos uma
noção?" Uma dezena de alunos,
e as reações variam de olhares
constrangidos para o chão a
sorrisos amarelos que quase
pedem desculpas. A professora
respira fundo.
Os alunos chegaram ao
workshop de samba, incluindo
este repórter da Folha, atraídos pelo anúncio "aprenda a
sambar em apenas duas horas".
A escola Shiva Nataraj, no Tatuapé (zona leste de São Paulo),
promete um milagre às vésperas do
De frente para o espelho, a
professora nos apresenta dois
estilos de samba no pé. Primeiro, o contido, com pés que deslizam econômica e elegantemente para a frente e para trás.
Depois, o estilo "Sheila Mello",
com pernas para todos os lados, quase uma convulsão.
O contido, por favor, que somos do módulo iniciante.
Um, dois, três, um, dois,
três... Um é pé direito dando
uma curta recuada, dois é pé
esquerdo avançando de maneira quase imperceptível, três é
pé direito voltando para a posição inicial. Um, dois, três, um...
Até aí, tudo está relativamente fácil, muito embora a
coreografia esteja mais para
marcha militar e não case muito bem com o sambinha lento
que sai do rádio.
A lição avança: calcanhar
grudado no chão e ponta do pé
girando no ar, gingado para
trás, requebrada para o lado,
braços decididos, rodopios marotos e aquele sorriso no rosto.
Um esboço de samba começa a
emergir no salão de dança.
Alarme falso. Pelo espelho,
desvio minha atenção dos passos da professora para alguém
na outra ponta do salão que dá
o melhor de si suingando para
o lado errado. Perco a concentração, meus pés titubeiam, os
quadris emperram, os braços
se desencontram das pernas e,
para completar, uma colega
perde o controle do próprio
corpo e vem "sambando" para
cima de mim.
Quando me dou conta, numa
espécie de efeito dominó, praticamente todos estamos nos
contorcendo aleatoriamente. A
coreografia se perdeu.
Atenta às trapalhadas dos
aprendizes, a professora pela
enésima vez nos faz voltar
àquele reconfortante um, dois,
três, um, dois, três... Isso ninguém erra.
"Viram só: vocês estão sambando!", ela tenta nos animar
quando a aula está prestes a
acabar. Suamos de molhar a camisa, queimamos calorias e até
nos divertimos, mas muitos de
nós saímos conscientes de que
ainda não será neste Carnaval
que faremos bonito na avenida.
Assista ao vídeo do
workshop de samba
www.folha.com.br/1003922
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