São Paulo, terça-feira, 09 de fevereiro de 2010

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Folião busca "milagre" em workshop de samba

Às vésperas do Carnaval, aprendizes encaram aulas atraídos por anúncio

Segundo a publicidade, escola no Tatuapé promete fazer com que o aluno "aprenda a sambar em apenas duas horas"

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

"Alguém aqui já sabe sambar? Ou tem pelo menos uma noção?" Uma dezena de alunos, e as reações variam de olhares constrangidos para o chão a sorrisos amarelos que quase pedem desculpas. A professora respira fundo.
Os alunos chegaram ao workshop de samba, incluindo este repórter da Folha, atraídos pelo anúncio "aprenda a sambar em apenas duas horas". A escola Shiva Nataraj, no Tatuapé (zona leste de São Paulo), promete um milagre às vésperas do
De frente para o espelho, a professora nos apresenta dois estilos de samba no pé. Primeiro, o contido, com pés que deslizam econômica e elegantemente para a frente e para trás. Depois, o estilo "Sheila Mello", com pernas para todos os lados, quase uma convulsão.
O contido, por favor, que somos do módulo iniciante. Um, dois, três, um, dois, três... Um é pé direito dando uma curta recuada, dois é pé esquerdo avançando de maneira quase imperceptível, três é pé direito voltando para a posição inicial. Um, dois, três, um...
Até aí, tudo está relativamente fácil, muito embora a coreografia esteja mais para marcha militar e não case muito bem com o sambinha lento que sai do rádio. A lição avança: calcanhar grudado no chão e ponta do pé girando no ar, gingado para trás, requebrada para o lado, braços decididos, rodopios marotos e aquele sorriso no rosto.
Um esboço de samba começa a emergir no salão de dança. Alarme falso. Pelo espelho, desvio minha atenção dos passos da professora para alguém na outra ponta do salão que dá o melhor de si suingando para o lado errado. Perco a concentração, meus pés titubeiam, os quadris emperram, os braços se desencontram das pernas e, para completar, uma colega perde o controle do próprio corpo e vem "sambando" para cima de mim.
Quando me dou conta, numa espécie de efeito dominó, praticamente todos estamos nos contorcendo aleatoriamente. A coreografia se perdeu.
Atenta às trapalhadas dos aprendizes, a professora pela enésima vez nos faz voltar àquele reconfortante um, dois, três, um, dois, três... Isso ninguém erra.
"Viram só: vocês estão sambando!", ela tenta nos animar quando a aula está prestes a acabar. Suamos de molhar a camisa, queimamos calorias e até nos divertimos, mas muitos de nós saímos conscientes de que ainda não será neste Carnaval que faremos bonito na avenida.

Assista ao vídeo do workshop de samba
www.folha.com.br/1003922

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