São Paulo, quinta-feira, 09 de março de 2000


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GUERRILHA URBANA
Polícia não crê na veracidade das ligações, mas reforçou a segurança e registrou o caso no 56º DP
Traficantes ameaçam bombeiros

ALESSANDRO SILVA
da Reportagem Local

Os bombeiros que trabalham no complexo Heliópolis, o maior aglomerado de favelas de São Paulo, estão sob proteção da Polícia Militar por causa de ameaças atribuídas aos grupos de traficantes que disputam o controle dos pontos de droga locais.
Os primeiros telefonemas começaram no final do mês passado, depois que o Corpo de Bombeiros ajudou a socorrer 11 vítimas da maior chacina registrada no complexo este ano -cinco pessoas morreram e seis ficaram feridas em tiroteio nas favelas Sem Terra e Paraguai.
""A ameaça não foi direta, mas falaram que nós "iríamos ver" pelo fato de termos socorrido os feridos", disse o capitão Rogério Bernardes Duarte, 35, comandante do Corpo de Bombeiros na região da Vila Prudente (zona sudeste).
O 1º Grupamento de Salvamento, onde trabalham cerca de 50 homens, fica a menos de 500 metros do local da chacina.
Desde dezembro, 26 pessoas morreram em confrontos entre dois grupos de traficantes rivais -um que domina Heliópolis e outro que gerencia o tráfico nas favelas Sem Terra e Paraguai.
O último contato com o autor das ameaças ocorreu na madrugada de segunda-feira, mas não pelo telefone e sim pelo próprio sistema de rádio dos bombeiros.
O autor da ligação, passando-se por operador de rádio dos bombeiros, mandou que um veículo de resgate fosse até a altura do número 1.800 da avenida Luís Inácio de Anhaia Melo, no meio da favela da Vila Prudente, para atender um acidente de trânsito.
O veículo de resgate não chegou a ser enviado porque o verdadeiro operador de rádio da central dos bombeiros ouviu a mensagem e alertou a equipe que estava na Vila Prudente. Ele também reconheceu a voz como sendo a mesma dos telefonemas de ameaçadores do último dia 25.
A informação sobre o acidente era falsa. ""Não acredito que houvesse uma cilada", disse o capitão. Mesmo assim, o Corpo de Bombeiros registrou o caso no 56º DP. ""Como medida de segurança, o policiamento da área está nos apoiando", afirmou Duarte.

Situação
O mesmo equipamento que permitiu ao autor do trote entrar na frequência dos bombeiros -um radiotransmissor- também serve para captar os canais das Polícias Militar e Civil.
Segundo o delegado Ricardo Stanev, do 56º DP, será difícil descobrir a origem da transmissão de rádio clandestina.
A polícia, por enquanto, não reconhece a veracidade das ameaças relatadas pelos moradores. Mesmo assim, deslocou para o caso equipes especializadas, como do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) e do Denarc (Departamento de Investigações Sobre Narcóticos).
A PM aumentou o efetivo na região, mas reconhece que não é capaz de manter o esquema durante as 24 horas do dia.


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