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PÂNICO
Ontem, só 10 famílias continuavam na Sem Terra; traficantes forçaram retirada
Favela de SP vira cidade fantasma
SORAYA AGÉGE
da Reportagem Local
São Paulo passou a ter ontem
sua primeira favela fantasma. As
dez últimas famílias da favela
Sem Terra, na Vila Prudente (zona sudeste) pretendiam deixar o
local ontem à noite. Em duas semanas, cerca de 390 barracos da
Sem Terra e da vizinha favela Paraguai foram abandonados, a
mando dos chefes do tráfico de
drogas local.
Gangues que disputam o tráfico no complexo de favelas existente na região, que vai de Vila
Prudente a Heliópolis, estabeleceram o dia de ontem como último prazo para o êxodo dos moradores. A polícia manteve até
helicópteros no local, mas as famílias cumpriram a ordem de
desocupação, anunciada há
duas semanas.
Fome ou morte
"A gente prefere a fome que a
morte", disse Izilda (nome fictício), que cansou de procurar outra moradia em São Paulo e tentava voltar com a família para o
sertão baiano. O medo é justificado: ela presenciou dois assassinatos na favela.
Há dois meses, Izilda pagou R$
700 por um barraco na Sem Terra. Naquela época, as duas favelas tinham a proteção de um traficante conhecido como Barriga
(leia texto nesta página). Com o
desaparecimento do chefe do
tráfico local, o grupo de Heliópolis passou a impor regras aos
moradores da Sem Terra.
Nas duas últimas semanas, a
cena de famílias retirando suas
mudanças ou mesmo abandonando seus barracos foi comum.
"Cansamos de chamar a polícia, mas ninguém veio nos socorrer. Um dia depois da chacina (dia 29 de fevereiro), ateamos
fogo em pneus na pista para
obrigar os policiais a virem", disse Marisa (nome fictício).
O 21º BPM (Batalhão de Polícia Militar), que atende à região,
nega a falta de policiamento.
Muitas das famílias conseguiram outros barracos para viver,
em favelas distantes da região.
Algumas foram morar sob viadutos e pontes.
Até o início da tarde de ontem,
dez famílias ainda permaneciam
na Sem Terra e outras 50 na Paraguai. Na maioria das vielas, só
ficaram marcas de tiros e manchas de sangue.
Nos barracos, os sinais da fuga
apavorada. Pacotes de arroz,
roupas e até berços foram deixados para trás. Em uma porta, o
último apelo: "Favor não invadir
este barraco".
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