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São Paulo, domingo, 09 de março de 2003

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"Tenho só meio litro de leite"

DO "AGORA"

A desempregada Fátima Glória Ramos, 35, vive em um barraco de madeira podre no distante Recanto Verde do Sol, no extremo da zona leste paulistana. Seus quatro filhos, com idades que variam de cinco a 12 anos, não gostam do cheiro exalado pelo casebre.
"Às vezes tenho vontade de vomitar de tanto fedor. Mas o mau cheiro dá para suportar, a fome não", disse Mateus, 8, filho de Ramos. "É muito triste ouvir isso de um filho. Na minha geladeira tem só meio litro de leite. Na despensa tem fubá, feijão e açúcar. Não sei nem o que vamos jantar", afirmou Ramos, chorando.
Ramos e seus filhos não recebem as doações feitas ao Banco de Alimentos. "Cadastrei a associação em outubro. Até agora não consegui um grão de arroz", disse a diretora social da Associação Centro Comunitário da 3ª Divisão e Adjacentes, Luzinete Costa Silva, 32. Segundo ela, existem pelo menos 3.000 pessoas como Ramos vivendo na região de atuação da associação. "Não entendo quais são os critérios usados pela prefeitura na escolha de quem vai ou não receber os alimentos." O mesmo inconformismo tem Djinalva da Silva Anjos, de uma associação de moradores do Parque Europa (zona sul). "Também me cadastrei e não deu resultado."
Já quem recebe os alimentos doados à prefeitura se considera privilegiado. É o caso da aposentada Severina Tabosa de Jesus, 86. Assim que recebeu a doação, ela se emocionou. Ela mora em um barraco com a filha, o genro, quatro netos e três bisnetos, no mesmo bairro de Ramos. A família ganhou arroz, feijão e fubá.


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