São Paulo, terça-feira, 09 de março de 2004 |
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SAÚDE Quadrilha atuava no Nordeste e usaria até soda cáustica para adulterar o produto; polícia apreendeu 110 toneladas PF prende suspeitos de falsificar leite em pó
DAYANNE MIKEVIS DA AGÊNCIA FOLHA A Polícia Federal prendeu 14 pessoas acusadas de ligação em um esquema de falsificação de leite em pó e apreendeu, anteontem, 110 toneladas do preparado, além de 30 mil rótulos falsos e duas armas. Uma pessoa foi indiciada, e outra, presa em flagrante. Dos detidos, 13 estão em regime de prisão temporária, que dura cinco dias, sujeita a prorrogação. Um deles é agente da PF. A quadrilha atuava em quatro Estados do Nordeste: Sergipe, Bahia, Pernambuco e Ceará. Além disso, havia escritórios da empresa em São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão, Espírito Santo e Minas Gerais, segundo a Polícia Federal. As investigações começaram em abril de 2003, após a denúncia de empresas de laticínios que estavam sofrendo processos judiciais devido a casos de intoxicação. Análises mostraram que o produto vinha sendo alterado. Há a suspeita de que soda cáustica era adicionada ao leite. A ação da PF foi batizada de Operação Soro e, segundo o órgão, o líder do grupo é Antônio Carlos Medeiros Alves, conhecido por Toninho. A polícia não informou o nome do representante de defesa de Alves. A Agência Folha não conseguiu falar com os advogados dos acusados. Os 14 acusados irão responder aos crimes de formação de quadrilha, adulteração ou falsificação de alimento e corrupção ativa. O agente da Polícia Federal vai responder também por extorsão e sofrerá inquérito administrativo. O produto era fabricado em laticínios clandestinos no interior dos quatro Estados e substâncias como a maltodextrina (um espessante) e soro eram usados para dar consistência ao leite. As substâncias eram usadas em níveis excessivos, segundo a PF. A prática possibilitava a produção de mais leite em pó do que a base normalmente permitia, mas com grande redução no teor protéico. As informações são da PF, que ainda não realizou testes laboratoriais na carga apreendida. A polícia suspeita que a soda cáustica era adicionada ao leite em pó falsificado para anular o cheiro dos outros componentes em excesso. O produto foi encontrado nos laticínios fiscalizados. O leite falsificado recebia a embalagem de marcas conhecidas e o produto chegou a participar de concorrências públicas para o abastecimento de escolas de primeiro e segundo grau e outros órgãos públicos. Nas concorrências, distribuidores das marcas originais chegaram a concorrer com os representantes do produto falsificado. Além disso, a rede de distribuição do produto incluía desde grandes redes de supermercados a pequenas mercearias, de acordo com a Polícia Federal. Além dos cinco laticínios clandestinos, a PF fechou duas gráficas onde os rótulos eram impressos e duas distribuidoras de laticínios. A Polícia Federal disse que houve casos de pessoas que chegaram a ser internadas com diarréia crônica, mas não informou quantas pessoas nem onde isso ocorreu. Ocorrências mais graves não foram registradas. Segundo a nutricionista Vanderli Marchiori, da Associação Paulista de Nutrição, as internações podem ser um indício da presença de soda cáustica no composto, pois nem a maltodextrina nem o soro causam o efeito. "Os casos de diarréia indicam falta de higiene ou a presença de um elemento contaminante, que pode ser a soda cáustica." Próximo Texto: Identificação de substâncias é quase impossível Índice |
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