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BARBARA GANCIA
Haja etanol, Mr. Bush!
O trânsito de hoje promete virar uma desgraça pelada. É aquela velha história: podia ser pior, podia estar chovendo
ENQUANTO VOCÊ lê este texto, a
torcida do Corinthians e eu
provavelmente estaremos sofrendo horrores.
Somos os mais novos prejudicados por George W. Bush. Desta vez,
o presidente norte-americano não
vitimou as minorias, os doentes que
lutam para ver liberadas as pesquisas com células-tronco ou os imigrantes ilegais que tentam viver o
sonho americano limpando latrinas
de gringos. Desta vez, a vítima de
Bush é o trânsito paulistano.
Sempre complicado na sexta-feira, o trânsito de hoje em São Paulo
promete virar uma desgraça pelada.
É aquela velha história: podia ser
pior, podia estar chovendo.
Pois enquanto você lê este texto,
eu possivelmente estarei de joelhos,
rezando um terço para São Pedro e
implorando para que ele nos livre da
chuva, uma vez que não conseguiu
nos poupar da presença de Bush.
Mas será que a visita do presidente à cidade foi mesmo necessária?
Dizem que ele expressou a vontade
de conhecer São Paulo. Pois eu du-vi-de-o-dó que isso seja verdade.
Não sei se o nobre leitor se lembra,
mas quando foi a Paris, em seu primeiro mandato, George W. Bush
afirmou que ouvira dizer que a comida francesa era muito boa e que
queria experimentá-la. Ora, ora. O
sujeito pertence a uma das famílias
mais ricas do Texas, cursou Yale, seu
pai foi chefe da CIA, embaixador na
China, presidente dos EUA e duas
vezes vice-presidente, e ele "ouviu
dizer" que a culinária francesa é
boa? Se Bush não conhecia baguete,
croissant, brie, camembert, suflê,
crepe, molho rôti, mil folhas, brioche, boeuf bourgignon etc, vai conhecer São Paulo?
E o que Bush vai ver de Sampa, e
os odores que vai aspirar, eu preferiria esconder de qualquer estrangeiro que visita a cidade pela primeira
vez. Até mesmo de um jeca tatu como ele. A começar pelas marginais
Tietê e Pinheiros e os rios (ou córregos infestados) homônimos com
seus fedores peculiares e aspectos
de confins do inferno. Imagino que,
se não conhece a culinária francesa,
Bush também não irá perceber que
o curso de água que avistará da janela de sua suíte no hotel Hilton é um
rio mortinho da silva. E que o ar que
terá respirado por aqui é tão poluído
quanto o de qualquer outra grande
cidade sem planejamento, cujos automóveis não utilizem o álcool como
combustível.
Por falar em álcool, Bush tenta
agradar a platéia tapuia dizendo-se
fascinado com os biocombustíveis.
Só que, por mais que ele fale, eu ainda acredito no ex-embaixador saudita em Washington, Turki Al-Faisal, para quem a independência dos
EUA em relação ao petróleo não
passa de um "mito político".
Mas para que Bush não tenha vindo atazanar a vida do paulistano a
troco de banana, vou incluir nas minhas preces a São Pedro o desejo de
que sua mulher, dona Laura, leve de
volta para casa, traduzido para o inglês, o discurso do nosso presidente,
da última quarta-feira, sobre a hipocrisia de quem se diz contra os preservativos. Alô, Laura Bush! Na próxima vez que a senhora resolver pregar a abstinência como melhor forma de prevenção contra doenças sexualmente transmissíveis e filhos
indesejados, pense nas sábias palavras de Lula: "Sexo é coisa que quase
todo mundo gosta, é uma necessidade orgânica" e "preservativo tem
que ser doado e ensinado a usar".
barbara@uol.com.br
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