São Paulo, sexta-feira, 09 de março de 2007

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BARBARA GANCIA

Haja etanol, Mr. Bush!

O trânsito de hoje promete virar uma desgraça pelada. É aquela velha história: podia ser pior, podia estar chovendo

ENQUANTO VOCÊ lê este texto, a torcida do Corinthians e eu provavelmente estaremos sofrendo horrores.
Somos os mais novos prejudicados por George W. Bush. Desta vez, o presidente norte-americano não vitimou as minorias, os doentes que lutam para ver liberadas as pesquisas com células-tronco ou os imigrantes ilegais que tentam viver o sonho americano limpando latrinas de gringos. Desta vez, a vítima de Bush é o trânsito paulistano.
Sempre complicado na sexta-feira, o trânsito de hoje em São Paulo promete virar uma desgraça pelada. É aquela velha história: podia ser pior, podia estar chovendo.
Pois enquanto você lê este texto, eu possivelmente estarei de joelhos, rezando um terço para São Pedro e implorando para que ele nos livre da chuva, uma vez que não conseguiu nos poupar da presença de Bush.
Mas será que a visita do presidente à cidade foi mesmo necessária? Dizem que ele expressou a vontade de conhecer São Paulo. Pois eu du-vi-de-o-dó que isso seja verdade. Não sei se o nobre leitor se lembra, mas quando foi a Paris, em seu primeiro mandato, George W. Bush afirmou que ouvira dizer que a comida francesa era muito boa e que queria experimentá-la. Ora, ora. O sujeito pertence a uma das famílias mais ricas do Texas, cursou Yale, seu pai foi chefe da CIA, embaixador na China, presidente dos EUA e duas vezes vice-presidente, e ele "ouviu dizer" que a culinária francesa é boa? Se Bush não conhecia baguete, croissant, brie, camembert, suflê, crepe, molho rôti, mil folhas, brioche, boeuf bourgignon etc, vai conhecer São Paulo?
E o que Bush vai ver de Sampa, e os odores que vai aspirar, eu preferiria esconder de qualquer estrangeiro que visita a cidade pela primeira vez. Até mesmo de um jeca tatu como ele. A começar pelas marginais Tietê e Pinheiros e os rios (ou córregos infestados) homônimos com seus fedores peculiares e aspectos de confins do inferno. Imagino que, se não conhece a culinária francesa, Bush também não irá perceber que o curso de água que avistará da janela de sua suíte no hotel Hilton é um rio mortinho da silva. E que o ar que terá respirado por aqui é tão poluído quanto o de qualquer outra grande cidade sem planejamento, cujos automóveis não utilizem o álcool como combustível.
Por falar em álcool, Bush tenta agradar a platéia tapuia dizendo-se fascinado com os biocombustíveis. Só que, por mais que ele fale, eu ainda acredito no ex-embaixador saudita em Washington, Turki Al-Faisal, para quem a independência dos EUA em relação ao petróleo não passa de um "mito político".
Mas para que Bush não tenha vindo atazanar a vida do paulistano a troco de banana, vou incluir nas minhas preces a São Pedro o desejo de que sua mulher, dona Laura, leve de volta para casa, traduzido para o inglês, o discurso do nosso presidente, da última quarta-feira, sobre a hipocrisia de quem se diz contra os preservativos. Alô, Laura Bush! Na próxima vez que a senhora resolver pregar a abstinência como melhor forma de prevenção contra doenças sexualmente transmissíveis e filhos indesejados, pense nas sábias palavras de Lula: "Sexo é coisa que quase todo mundo gosta, é uma necessidade orgânica" e "preservativo tem que ser doado e ensinado a usar".

barbara@uol.com.br


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