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Seguradora nega fraude contra clientes
Segundo executivos da empresa, indícios de irregularidade apontados pela Promotoria são apenas medidas de segurança
Ministério Público apura indícios de que a empresa Real Seguros tenha feito falsas perícias para aplicar golpes contra segurados
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
No comando de setores responsáveis pela liberação ou não
de indenizações, os executivos
da Tokio Marine -que adquiriu a Real Seguros- Carlos Barbosa, gerente do jurídico, e Gibran Marona, negam a existência de um esquema de fraudes
da empresa para não pagar seguros e reafirmam que, nos casos negados, os segurados forjaram os danos no carro para
receber o dinheiro.
Segundo a Folha publicou
anteontem, o Ministério Público investiga indícios de um golpe por meio de falsas perícias.
Na documentação investigada
estão perícias feitas pelo Iapa
(Instituto de Avaliações e Perícias Automotivas) que não trazem a localização do instituto,
registro comercial nem o nome
do autor da perícia.
Segundo os dois executivos, a
seguradora omite esses dados
por questão de segurança. Eles
afirmam que os funcionários
da seguradora investigam quadrilhas e fraudadores profissionais e que, por isso, correm risco de morte.
FOLHA - Por que as perícias apresentadas pela Real não têm dados
sobre registro comercial, localização
e até o nome do autor da perícia?
CARLOS BARBOSA - Por motivos
de segurança. Nós trabalhamos
com quadrilhas, nós investigamos fraudadores profissionais
e corremos risco de morte. Os
executivos da seguradora são
orientados a não se identificar
nessas circunstâncias. Eu mesmo, quando assino documentos negando sinistros, quando
eu sei que tem bandido por trás,
eu coloco a minha rubrica.
FOLHA - Mas, além da ausência do
nome do responsável, o laudo não
tem outros dados de identificação.
BARBOSA - Eu não apresento
para o segurado esse documento e digo: amigo, corre disso
aqui. É apresentado em juízo.
FOLHA - E por que, em juízo, esse
parecer não tem esses dados?
BARBOSA - Porque o juiz nunca
perguntou, nunca pediu.
GIBRAN MARONA - Esse documento é utilizado para formar o
nosso juízo de valor. Sempre
que há uma ação judicial, o perito é chamado para o processo
e é devidamente qualificado.
FOLHA - Mas se você faz a identificação na Justiça, por que não colocar
esses dados logo nos laudos?
BARBOSA - É diferente quando
um funcionário sem inquérito
está à mercê de bandidos. Depois que você entrou com um
inquérito, as ameaças diminuem. Quando eu estou apenas
como executivo, dando a cara
para bater, os bandidos têm facilidade de me constranger.
Depois que entra o inquérito,
essa turma corre.
FOLHA - O sr. fala que, usando o
mesmo expediente do perito, em alguns documentos usa apenas sua
rubrica. Mas essa documentação tinha endereço, telefone da Real, alguma identificação?
BARBOSA - Ah, sim.
FOLHA - Mas o laudo apresentado
pelo Iapa não tem.
BARBOSA - O laudo não tem.
Porque o laudo é um documento para nossa decisão.
FOLHA - Mas usados nos processos
para convencer juízes...
BARBOSA - Sim. Agora, por que
eu usei o Iapa pela primeira
vez? Porque o laudo me é convincente, o trabalho do Iapa me
é convincente. Em 2006, encomendamos 163 laudos para o
Iapa. Ele me devolveu 39 dizendo que o caso é de irregularidade. Os outros 124 laudos feitos
dizem: "Real, você não tem razão na sua desconfiança".
MARONA - Em 24% o Iapa
apontou incompatibilidade.
Em 76% disse: pague o sinistro.
Em 2006, indenizamos mais de
100 mil sinistros, 80 mil só em
automóveis, R$ 600 milhões.
Menos de 2% sofrem algum tipo de investigação. Com essas
dimensões, parece que a gente
montaria esse esquema?
FOLHA - Uma perícia de um professor de odontologia também foi usado para analisar um acidente...
BARBOSA - Ele trabalha no mercado, com conhecimento das
perícias que ele fez. Esse tem
identificação. Tecnicamente,
ele é respeitável. Mas ele não
pode usar o nome da universidade [a Unicamp diz que ele
não pode usar o nome da instituição e abriu apuração]. Desculpa, isso não é problema meu.
Se ele usa ou não usa, ele tem de
se acertar com a universidade.
Ele diz que tem direito, e a universidade diz que não reconhece como autoria, mas também
não disse que ele não pode usar.
FOLHA - E os casos sob suspeita?
BARBOSA - Nós só investigamos
casos que saem da rotina. Em
um dos casos, um carro bateu
de traseira em um carro estacionado. Só que na traseira não
aconteceu nada e a frente de
outro carro ficou totalmente
destruído. Não bate. Em outro,
o laudo identificou elementos
químicos que mostram que o
carro foi incendiado. Quando
eu gasto dinheiro com laudo,
estou fazendo a bem da verdade, e não a bem da Real Seguros.
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