São Paulo, sexta-feira, 09 de março de 2007

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Seguradora nega fraude contra clientes

Segundo executivos da empresa, indícios de irregularidade apontados pela Promotoria são apenas medidas de segurança

Ministério Público apura indícios de que a empresa Real Seguros tenha feito falsas perícias para aplicar golpes contra segurados

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

No comando de setores responsáveis pela liberação ou não de indenizações, os executivos da Tokio Marine -que adquiriu a Real Seguros- Carlos Barbosa, gerente do jurídico, e Gibran Marona, negam a existência de um esquema de fraudes da empresa para não pagar seguros e reafirmam que, nos casos negados, os segurados forjaram os danos no carro para receber o dinheiro. Segundo a Folha publicou anteontem, o Ministério Público investiga indícios de um golpe por meio de falsas perícias. Na documentação investigada estão perícias feitas pelo Iapa (Instituto de Avaliações e Perícias Automotivas) que não trazem a localização do instituto, registro comercial nem o nome do autor da perícia. Segundo os dois executivos, a seguradora omite esses dados por questão de segurança. Eles afirmam que os funcionários da seguradora investigam quadrilhas e fraudadores profissionais e que, por isso, correm risco de morte.

 

FOLHA - Por que as perícias apresentadas pela Real não têm dados sobre registro comercial, localização e até o nome do autor da perícia?
CARLOS BARBOSA
- Por motivos de segurança. Nós trabalhamos com quadrilhas, nós investigamos fraudadores profissionais e corremos risco de morte. Os executivos da seguradora são orientados a não se identificar nessas circunstâncias. Eu mesmo, quando assino documentos negando sinistros, quando eu sei que tem bandido por trás, eu coloco a minha rubrica.

FOLHA - Mas, além da ausência do nome do responsável, o laudo não tem outros dados de identificação.
BARBOSA
- Eu não apresento para o segurado esse documento e digo: amigo, corre disso aqui. É apresentado em juízo.

FOLHA - E por que, em juízo, esse parecer não tem esses dados?
BARBOSA
- Porque o juiz nunca perguntou, nunca pediu.
GIBRAN MARONA - Esse documento é utilizado para formar o nosso juízo de valor. Sempre que há uma ação judicial, o perito é chamado para o processo e é devidamente qualificado.

FOLHA - Mas se você faz a identificação na Justiça, por que não colocar esses dados logo nos laudos?
BARBOSA
- É diferente quando um funcionário sem inquérito está à mercê de bandidos. Depois que você entrou com um inquérito, as ameaças diminuem. Quando eu estou apenas como executivo, dando a cara para bater, os bandidos têm facilidade de me constranger. Depois que entra o inquérito, essa turma corre.

FOLHA - O sr. fala que, usando o mesmo expediente do perito, em alguns documentos usa apenas sua rubrica. Mas essa documentação tinha endereço, telefone da Real, alguma identificação?
BARBOSA
- Ah, sim.

FOLHA - Mas o laudo apresentado pelo Iapa não tem.
BARBOSA
- O laudo não tem. Porque o laudo é um documento para nossa decisão.

FOLHA - Mas usados nos processos para convencer juízes...
BARBOSA
- Sim. Agora, por que eu usei o Iapa pela primeira vez? Porque o laudo me é convincente, o trabalho do Iapa me é convincente. Em 2006, encomendamos 163 laudos para o Iapa. Ele me devolveu 39 dizendo que o caso é de irregularidade. Os outros 124 laudos feitos dizem: "Real, você não tem razão na sua desconfiança".
MARONA - Em 24% o Iapa apontou incompatibilidade. Em 76% disse: pague o sinistro. Em 2006, indenizamos mais de 100 mil sinistros, 80 mil só em automóveis, R$ 600 milhões. Menos de 2% sofrem algum tipo de investigação. Com essas dimensões, parece que a gente montaria esse esquema?

FOLHA - Uma perícia de um professor de odontologia também foi usado para analisar um acidente...
BARBOSA
- Ele trabalha no mercado, com conhecimento das perícias que ele fez. Esse tem identificação. Tecnicamente, ele é respeitável. Mas ele não pode usar o nome da universidade [a Unicamp diz que ele não pode usar o nome da instituição e abriu apuração]. Desculpa, isso não é problema meu. Se ele usa ou não usa, ele tem de se acertar com a universidade. Ele diz que tem direito, e a universidade diz que não reconhece como autoria, mas também não disse que ele não pode usar.

FOLHA - E os casos sob suspeita?
BARBOSA
- Nós só investigamos casos que saem da rotina. Em um dos casos, um carro bateu de traseira em um carro estacionado. Só que na traseira não aconteceu nada e a frente de outro carro ficou totalmente destruído. Não bate. Em outro, o laudo identificou elementos químicos que mostram que o carro foi incendiado. Quando eu gasto dinheiro com laudo, estou fazendo a bem da verdade, e não a bem da Real Seguros.


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