São Paulo, domingo, 09 de março de 2008

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"Foi meu resgate", diz Lúcia, mãe de duas crianças sem HIV

DA REVISTA DA FOLHA

A atriz Lúcia*, 39, acha que se contaminou pelo vírus da Aids em 1996, mas só descobriu três anos depois, no pré-natal. Além de uma menina, hoje com oito anos, é mãe de um garoto de cinco. Ambos sem o vírus.
"Hoje, reconheço, minha filha salvou a minha vida. Ser mãe não passava pela minha cabeça. Mas meu marido sempre foi doido para ter filhos.
Quando engatei o relacionamento, fazia quatro anos que consumia crack. Acabei engravidando. No pré-natal, descobri ser portadora do vírus da Aids.
Meu marido ficou ao meu lado. Para nossa alegria, o exame dele deu negativo. Evitei remoer a memória para descobrir como me contaminei. Apesar de a minha relação com drogas ter começado bem cedo, nunca compartilhei seringas com medo de pegar hepatite. Comecei com o coquetel, mas não usava direito. No terceiro mês, tive um aborto espontâneo.
Nasci numa família de classe média paulistana bem aberta e sem dificuldades financeiras. Aos 15, fumava maconha e logo passei a cheirar pó. Três anos depois, estava me picando. Da cocaína, pulei para o crack. Fumava 40 pedras no mês.
Oito meses depois, engravidei novamente. Com uma barrigona de oito meses, tive uma recaída. Fumei crack. Tinha medo de que ele nascesse com Aids. Nasceu uma menina.
Aos poucos fui deixando as drogas. Aquela criaturinha era a chance de voltar a acreditar na vida. Hoje minha filha tem oito anos. A melhor coisa foi descobrir que ela não tem HIV. Cinco anos atrás, engravidei novamente. Outra boa notícia: ele também não tem o vírus.
Quando eles me vêem tomando o remédio, perguntam o motivo. Digo "mamãe tem uma doença grave, sem cura, e por isso precisa se cuidar".
Talvez abra o jogo no futuro. É possível viver, amar e ter filhos. Ser mãe foi meu resgate."


*O nome foi trocado a pedido da entrevistada


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