São Paulo, segunda-feira, 09 de março de 2009

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TESTEMUNHO

Com câmeras na mão, vizinhos xingam ladrões e aplaudem PM

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Era perto da meia-noite quando o quarteirão normalmente calmo do Paraíso, na zona sul de São Paulo, irrompeu em palmas e gritos. "Mataaaa".
"Linchaaaaaa". "Vagabundoooooooos". "Filhos da p...".
As palmas eram para a polícia, que naquele momento prendia oito homens de uma quadrilha de assalto a prédios, pondo fim a uma hora de terror, com disparo de tiros e pânico de reféns, adrenalina no bairro. Os ladrões haviam invadido um prédio na mesma quadra. Entraram na garagem num Ford Eco Sport, na cola de um morador que chegava de carro.
O bando iniciou o arrastão no prédio, mas foi surpreendido pela PM, acionada pelo porteiro. Em fuga, o grupo escalou o muro dos fundos, chegou a outro edifício e rendeu o zelador e outras quatro pessoas, um adolescente de 15 anos entre eles.
A polícia apareceu em minutos e cercou a rua. "Nesse prédio branco aí!", "Mais para cima", "Nos fundos!" Os moradores nos prédios em volta passaram a orientar a polícia sobre onde estariam os fugitivos.
A seguir, houve disparos e ouviu-se a voz de um policial da Força Tática, dentro da área comum do prédio: "Se matar um (refém), morrem todos vocês".
Um helicóptero da PM, voando baixo, jogava luz sobre o cenário da ação. Do prédio em frente, dava para ver os reféns, incluindo o garoto, filho do zelador, mãos para cima, todos cercados pelos assaltantes.
Flashes estouravam de cada canto. Eram de câmeras de vizinhos nas sacadas. A rua congestionada tinha algo como 35 carros de policiais do GOE (Grupo de Operações Especiais da Polícia Civil), da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aquiar), da Força Tática, entre outros.
O homem que parecia ser o líder do grupo, vestido de branco, aceitou a rendição. Todos os assaltantes foram postos num paredão lateral do prédio, e já um grito se ouviu: "Fuzilaaa".
Os assaltantes saíram escoltados em fila indiana, cabeças baixas, e entraram nos chiqueirinhos de três carros da PM. Foi essa a senha para muitos moradores descerem de seus apartamentos, munidos de câmeras de vídeo e celulares.
"Eu estava assistindo ao Big Brother quando tudo começou.
Mas na rua estava muito melhor, isso sim é ação real, em 3D", dizia um rapaz, latinha de cerveja na mão, ao lado do carro da polícia em que um dos presos suava forte, embaçando os vidros: "Agora, para ele, vai virar Prison Break", disse, referindo-se ao seriado da TV.
Na alegria do bangue-bangue de final feliz, a nota destoante foi a fuga de um ou dois ladrões.
"Tomara que sejam achados bem longe daqui, para a polícia fazer o trabalho completo"", dizia uma vizinha, meia dúzia de bem-casados nas mãos, que voltava de um casamento.
À 1h, o Paraíso voltou à calma. Os moradores puderam dormir.


Assista ao vídeo da tentativa de assalto
www.folha.com.br/090671



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