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TESTEMUNHO
Com câmeras na mão, vizinhos xingam ladrões e aplaudem PM
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Era perto da meia-noite
quando o quarteirão normalmente calmo do Paraíso, na zona sul de São Paulo, irrompeu
em palmas e gritos. "Mataaaa".
"Linchaaaaaa". "Vagabundoooooooos". "Filhos da p...".
As palmas eram para a polícia, que naquele momento
prendia oito homens de uma
quadrilha de assalto a prédios,
pondo fim a uma hora de terror, com disparo de tiros e pânico de reféns, adrenalina no
bairro. Os ladrões haviam invadido um prédio na mesma quadra. Entraram na garagem num
Ford Eco Sport, na cola de um
morador que chegava de carro.
O bando iniciou o arrastão no
prédio, mas foi surpreendido
pela PM, acionada pelo porteiro. Em fuga, o grupo escalou o
muro dos fundos, chegou a outro edifício e rendeu o zelador e
outras quatro pessoas, um adolescente de 15 anos entre eles.
A polícia apareceu em minutos e cercou a rua. "Nesse prédio branco aí!", "Mais para cima", "Nos fundos!" Os moradores nos prédios em volta passaram a orientar a polícia sobre
onde estariam os fugitivos.
A seguir, houve disparos e
ouviu-se a voz de um policial da
Força Tática, dentro da área comum do prédio: "Se matar um
(refém), morrem todos vocês".
Um helicóptero da PM, voando baixo, jogava luz sobre o cenário da ação. Do prédio em
frente, dava para ver os reféns,
incluindo o garoto, filho do zelador, mãos para cima, todos
cercados pelos assaltantes.
Flashes estouravam de cada
canto. Eram de câmeras de vizinhos nas sacadas. A rua congestionada tinha algo como 35 carros de policiais do GOE (Grupo
de Operações Especiais da Polícia Civil), da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aquiar), da
Força Tática, entre outros.
O homem que parecia ser o
líder do grupo, vestido de branco, aceitou a rendição. Todos os
assaltantes foram postos num
paredão lateral do prédio, e já
um grito se ouviu: "Fuzilaaa".
Os assaltantes saíram escoltados em fila indiana, cabeças
baixas, e entraram nos chiqueirinhos de três carros da PM.
Foi essa a senha para muitos
moradores descerem de seus
apartamentos, munidos de câmeras de vídeo e celulares.
"Eu estava assistindo ao Big
Brother quando tudo começou.
Mas na rua estava muito melhor, isso sim é ação real, em
3D", dizia um rapaz, latinha de
cerveja na mão, ao lado do carro da polícia em que um dos
presos suava forte, embaçando
os vidros: "Agora, para ele, vai
virar Prison Break", disse, referindo-se ao seriado da TV.
Na alegria do bangue-bangue
de final feliz, a nota destoante
foi a fuga de um ou dois ladrões.
"Tomara que sejam achados
bem longe daqui, para a polícia
fazer o trabalho completo"", dizia uma vizinha, meia dúzia de
bem-casados nas mãos, que
voltava de um casamento.
À 1h, o Paraíso voltou à calma. Os moradores puderam
dormir.
Assista ao vídeo da
tentativa de assalto
www.folha.com.br/090671
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