São Paulo, Terça-feira, 09 de Março de 1999
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Brasil testa novo remédio anti-Aids

da Reportagem Local

Cinco centros de referência em Aids de São Paulo e Rio de Janeiro participarão dos estudos finais com o ABT-378, um inibidor de protease considerado de segunda geração por ser mais potente. A pesquisa envolverá 40 pacientes no Brasil e outros 560 nos EUA, Canadá, Austrália e Europa.
O ABT-378 deve ser lançado mundialmente até meados do próximo ano. Estudos em laboratório mostraram que a droga chega a ser dez vezes mais potente e tem menos efeitos colaterais que os inibidores de protease disponíveis.
Um estudo com pacientes norte-americanos divulgado em fevereiro na conferência de Aids de Chicago mostrou que 90% dos pacientes tiveram a carga viral indetectável depois de seis meses de uso do ABT-378. Com os outros inibidores de protease, no mesmo período, o vírus fica indetectável no sangue em 70% dos pacientes.
Os inibidores -de protease e da transcriptase reversa- atacam o vírus HIV em diferentes momentos de seu crescimento e reprodução, dificultando a invasão e infecção de novas células. Os inibidores compõem o chamado coquetel anti-Aids, terapia de dois a quatro medicamentos adotada para doentes e portadores do HIV.
Os estudos da fase 3 (que é a última) começam no próximo mês. Nesta fase, compara-se a eficácia da nova droga com outra já em uso. Os voluntários não devem apresentar sintomas da doença e serem virgens de tratamento.
Em maio próximo, o ABT-3 será estudado como droga de "resgate". Participarão da pesquisa doentes que já estão apresentando resistência comprovada aos medicamentos disponíveis.
"Na fase seguinte, o ABT-378 será aberto a pacientes em estado grave, dentro de um protocolo humanitário", diz Antonio Paulo de Paiva Ganme, gerente médico da Abbott, laboratório que está produzindo a nova droga.
No Brasil, a droga será estudada pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Hospital Heliópolis, Hospital do Servidor Público Estadual, Casa da Aids da Faculdade de Medicina da USP e Hospital Evandro Chagas, da Fiocruz, no Rio de Janeiro.
O protocolo de estudo precisa ser aprovado pela comissão de ética de cada instituição e depois pela Conep, Comissão Nacional de Ética em Pesquisa.
"A comissão do Heliópolis analise o protocolo hoje", disse Artur Timerman, que coordenará as pesquisas nesse hospital. Segundo o médico, a maioria dos pacientes já foi previamente selecionada.
O ABT-378 só será comercializado depois que os estudos do Brasil e outros países forem aprovados pelo FDA, órgão do governo norte-americano que regula medicamentos e alimentos.
(AURELIANO BIANCARELLI)



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