São Paulo, sexta-feira, 09 de abril de 2004

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ABASTECIMENTO

Secretarias estaduais e municipais da Saúde dizem não ter estrutura, recursos ou pessoal para cumprir norma federal

Cidades não fiscalizam qualidade da água

Ciete Silvério/Folha Imagem
Técnico trabalha no laboratório da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) que realiza análises de água


MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Um ano depois de vencido o prazo dado pelo Ministério da Saúde, os municípios brasileiros ainda não cumprem totalmente a determinação de fiscalizar a qualidade da água que chega às casas de seus moradores, seja pelas torneiras, seja por meio de poços, bicas, chafarizes ou carros-pipa.
Pesquisa feita pelo Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), no fim de 2003, em Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo, ouvindo secretarias estaduais e municipais da Saúde, mostra que nem mesmo as capitais desses Estados conseguem fazer tudo o que manda a portaria 1.469, de 2000, substituída em março deste ano pela 518.
Juntos, os quatro Estados têm cerca de 1/4 das 5.561 cidades brasileiras e somam quase 40% da população nacional.
Além de determinar os padrões que tornam a água própria para o consumo e definir as responsabilidades das empresas de saneamento, a norma também estabelece as obrigações dos órgãos de saúde municipais, que, segundo eles, não são 100% atendidas principalmente por falta de estrutura técnica e laboratorial, de pessoal treinado, de verba e de integração com o setor de recursos hídricos.
As secretarias municipais da Saúde deveriam, desde o ano passado, ter cadastro de todos os sistemas de abastecimento de água e das fontes alternativas (como poços, chafarizes) da cidade.
Deveriam ainda ter plano próprio de amostragem; auditar procedimentos de controle e práticas operacionais das empresas de saneamento; informar a população sobre a qualidade da água e eventuais riscos à saúde; avaliar o grau de vulnerabilidade de cada fonte; receber relatórios mensais da qualidade da água das distribuidoras e dos responsáveis pelas soluções alternativas, entre outros.
Tudo isso com três objetivos: aumentar a garantia de que a água para o abastecimento público não oferece riscos ao consumo, reforçar o controle de qualidade e intensificar a cobrança em cima dos responsáveis pelo cumprimento dos padrões de potabilidade ditados pela portaria federal.
Os dados da pesquisa do Idec mostram, porém, que só poucos itens são atendidos, outros o são parcialmente, e alguns nem isso.

Resultados
Na primeira categoria entram o recebimento dos relatórios mensais de qualidade fornecidos pelas empresas e a aprovação, por parte do poder público, dos planos de amostragem delas para controle da qualidade da água.
Na segunda, enquadra-se a maioria dos pontos destacados pelo Idec como mais importantes dentro da portaria, a exemplo da implementação de um plano próprio de amostragem da água.
Na terceira estão itens fundamentais como o fornecimento de informação ao consumidor e o controle das fontes alternativas -o maior desafio, na avaliação do instituto e das secretarias da Saúde ouvidas pela Folha.
A responsabilidade pela fiscalização é conjunta dos Estados e municípios e deve ser cobrada pela Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde.
O não-cumprimento da portaria implica multas para as empresas e suspensão de repasses do ministério para os órgãos públicos, mas nenhuma cidade foi punida até agora. "Estamos adotando uma atitude mais produtiva, de ajudar a cumprir as metas", justifica Guilherme Franco Netto, coordenador-geral de Vigilância em Saúde Ambiental, na Secretaria de Vigilância em Saúde.
"A inexistência da fiscalização não significa que a água é ruim, mas mostra que o poder público é totalmente dependente das concessionárias e que o consumidor não tem como exercer um controle social da água que usa. Isso é bastante preocupante principalmente porque muitos serviços de abastecimento estão sendo privatizados", diz Sezifredo Paz, coordenador-executivo do Idec.
A evolução, de 2000 a 2003, das internações por doenças transmitidas pela água nos Estados pesquisados retrata essa situação: embora não tenha havido um aumento significativo dos números (em São Paulo e no Paraná houve um crescimento pequeno no total), também não houve redução.
"Se essa é a situação no Sul e no Sudeste, imagine no Norte e no Nordeste", diz Paz. Ele reconhece, porém, as dificuldades relatadas pelas secretarias e pondera que há um esforço no sentido de cumprir a norma do ministério.


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