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MENTE SÃ
Pacientes demoram a procurar ajuda por considerar que especialista só atende loucos, o que agrava quadro clínico
Preconceito com psiquiatra piora doença
DA REPORTAGEM LOCAL
Toda vez que precisava cruzar a
rua, a funcionária de serviços gerais Marize Guimarães, 40, suava
frio. Tinha certeza de que seria
atropelada. Por mais de 20 anos
conviveu com o medo. Só quando
começou a ter depressão procurou um médico. Ela não queria ir
a um psiquiatra. "Pensava que era
médico só para loucos."
A advogada Vera, 34, também
relutou em ir ao especialista.
"Sempre achei que esse negócio
de depressão, pânico e ansiedade
era frescura. Sabe aquela história:
pobre sofre dos "nervos", rico tem
"estresse'? Pois é, acreditava."
O preconceito atrapalha o acesso a tratamentos corretos e, assim,
nem todo mundo que precisa recebe ajuda médica. A pesquisa
São Paulo Megacity mostrará
quantos, de fato, se tratam.
"Queremos mostrar como está
o acesso aos psiquiatras e definir
os transtornos mais recorrentes
para melhorar a prevenção e planejar a assistência", diz a coordenadora do projeto, Laura Helena
Silveira Guerra de Andrade.
"Atendimento psiquiátrico não é
frescura nem coisa de doido."
Professor do departamento de
psiquiatria da UFRJ, Marco Antônio Brasil diz que boa parte dos
pacientes só chega ao consultório
quando já está com um quadro
mais grave, quando "as seqüelas
são maiores". Ele diz que uma
pessoa só precisa de acompanhamento médico quando sua vida,
pessoal ou profissional, é afetada.
Foi o que aconteceu com Vera.
Estressada há anos, passou a ter
comportamentos estranhos no
começo de 2004. "Achava que, em
qualquer circunstância, alguma
tragédia aconteceria. Deixei de ir
a aniversários de amigas, com
medo de assalto. Andar de carro
sozinha, à noite, era pesadelo."
O pior viria poucos meses mais
tarde. "Comecei a ter problemas
físicos: taquicardia, mão gelada,
boca seca, tontura e enjôo." Cinco
meses depois de procurar todo o
tipo de médico, foi ao psiquiatra.
"Tinha preconceito, achava que
era médico de doido. Hoje, brinco
que sou louca medicada."
Vera tem síndrome de ansiedade e toma antidepressivos há um
ano. "Continuo na terapia, mas
por enquanto não sei como ficaria
sem os remédios", afirma.
Marize também ingere medicamentos. Depois de passar por vários psiquiatras, desistiu de se tratar, até que, no ano passado, recebeu a visita dos pesquisadores.
"Eles me encaminharam para o
HC e agora participo da fase hospitalar. Tenho acompanhamento
médico e estou me sentindo bem
melhor."
(DANIELA TÓFOLI)
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