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Nova técnica cirúrgica usa orifícios naturais
Vantagens são a redução de custos, da recuperação e de riscos de infecção
Procedimento pode ser utilizado em operações de vesícula, apêndice e útero; em alguns casos, a alta
pode ocorrer no mesmo dia
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Ivonne Tuch retirou o útero
e, três dias depois, passeava pelas ruas dos Jardins (zona oeste
de SP), com seu o cão maltês.
Neusa Maia operou a vesícula e,
após 48 horas, estava às voltas
com os afazeres de casa, em Teresópolis, região serrana do
Rio. Em comum, elas têm o fato
de terem feito cirurgias sem
cortes aparentes e, dizem, sem
dor no pós-operatório.
As operações por meio de
orifícios naturais do corpo -no
caso das mulheres acima, a vagina- são uma nova realidade
no país, embora ainda feitas em
poucos hospitais. Podem ser
feitas pela vagina, boca, uretra e
ânus -nos dois últimos casos,
ainda em fase experimental.
As vantagens, segundo os
médicos, são custos mais reduzidos, recuperação mais rápida
e menos riscos de infecções.
Para operar o apêndice ou a
vesícula biliar, por exemplo, os
médicos introduzem o bisturi
por dentro do tubo digestivo.
Um corte na parede do estômago, e se atinge a vesícula.
O procedimento não deixa cicatriz aparente e a recuperação
é mais rápida, porque menos
camadas de tecidos têm de ser
cortadas para se atingir o ponto
que necessita ser operado.
A vesícula também pode ser
retirada pela vagina, por via endoscópica. No mês passado, o
país assistiu pela primeira vez a
uma cirurgia dessa natureza.
Foi feita pela equipe do cirurgião Ricardo Zorrón, professor
da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Neusa Maia, a paciente, não
chegou nem a tomar analgésico
após a operação. "Nem acredito
que operei", disse ela, uma semana depois da cirurgia.
Chamada de Notes (Natural
Orifice Translumenal Endoscopic Surgery), esse tipo de cirurgia ainda está na fase experimental em vários países do
mundo. A equipe da UFRJ testou a técnica durante um ano e
meio em animais antes de passar a adotá-la em humanos.
Segundo Zorrón, a cirurgia
consiste em introduzir um endoscópio flexível (aparelho que
faz uma inspeção visual do órgãos e o opera) e instrumentos
especiais por meio de um corte
de um centímetro no interior
da vagina. O aparelho é capaz
de fazer curvas e percorrer todo
abdome até chegar à vesícula. A
operação é feita com anestesia
geral e dura 50 minutos.
"É uma nova revolução da cirurgia. Primeiro foi a anestesia,
depois a videolaparoscopia,
agora, a cirurgia por orifícios
naturais. Por não ter incisão no
abdome, a paciente fica sem
dor já no pós-operatório."
Zorrón explica que, 48 horas
após a cirurgia, a paciente já pode trabalhar ou realizar outras
atividades.
A mesma técnica, segundo o
médico, pode ser usada em
biopsias para diagnósticos de
câncer e retirada de tumores
benignos, que hoje demandam
pequenas cirurgias.
Ginecologia
Segundo o ginecologista e
obstetra Thomaz Gollop, professor da USP (Universidade de
São Paulo), histerectomias (cirurgias de retirada do útero, em
casos de miomas de grandes
proporções e de hemorragias
abundantes) e laqueadura de
trompas -quando indicadas e
dentro dos limites legais- também são muito facilitadas se,
em vez de serem feitas pelo abdome, utilizarem como via de
acesso a vagina.
A diferença nesses casos em
relação à técnica Notes é não
ser necessário o uso do endoscópio no procedimento, o que
barateia o procedimento.
"Um corte no fundo da vagina é o suficiente para se alcançar o útero ou a trompa", afirma Gollop.
As cirurgias têm sido feitas
nos hospitais Albert Einstein e
Pérola Byington, ambos em São
Paulo. Em alguns casos, explica
o médico, a paciente opera de
manhã e tem alta à tarde ou, no
mais tardar, no dia seguinte.
Em quatro a cinco dias, já pode
retomar as atividades normais.
"Pelo abdome, leva-se de
quatro a cinco dias de internação e duas a três semanas para
voltar às atividades", explica o
médico, que utiliza nesses casos a raquianestesia (anestesia
por injeção do anestésico no canal vertebral).
Segundo ele, além da redução
nos custos (chega a 50%), há
menos chances de complicações e da necessidade de reinternação da paciente.
"[A técnica] Tem um apelo
muito grande tanto para as mulheres como para as instituições hospitalares, porque fica
muito barata. A cirurgia só precisa de uma caixa de instrumentos que custa R$ 5.000."
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