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Serra admite que não será fácil fiscalizar lei
Segundo o governador, haverá "muita torcida contra" a medida; "não sou chato, mas é questão de saúde", disse ao defender proibição
Tucano afirmou que irá criar
um serviço de disque-
denúncia; ele diz que será
essencial cooperação de
empresários e do público
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O governador José Serra
(PSDB) adverte: não será fácil
assegurar o cumprimento da lei
antifumo. "É difícil e vai ter
muita torcida contra." Ele, que
está nos EUA, afirmou ontem à
Folha, por e-mail, que irá criar
uma espécie de disque-denúncia no Estado e, após descrever
sua trajetória antitabagista,
ressalvou: "Não sou chato".
FOLHA - Qual será a estrutura de
fiscalização da lei antifumo?
JOSÉ SERRA - O Procon vai ser o
instrumento e ter a estrutura,
auxiliado pelas secretarias da
Saúde e da Segurança. Trata-se
de um grande desafio. Só o controle do governo não vai bastar.
É essencial a cooperação dos
empresários e do público.
FOLHA - Haverá instrumento de denúncia, um disque-denúncia?
SERRA - Vai existir sim.
FOLHA - Considera esta mais uma
vitória na batalha contra o fumo?
SERRA - Não, pois ainda não começou a funcionar. As quatro
outras medidas que tomei
quando ministro da Saúde
-proibir a publicidade de cigarros, estampar as fotos nos
maços, proibir fumo em avião e
fazer campanha pela TV- foram muito eficientes e pioneiras na América Latina. O Brasil
ganhou até prêmio da OMS.
Mas a lei atual é de aplicação
muito mais complexa, vai exigir
esforço e participação maiores.
FOLHA - A lei é para valer?
SERRA - É sim. Vamos fazer o
possível para que saia do papel.
É difícil e vai ter muita torcida
contra, até por motivos políticos, graças a esta malfadada antecipação das disputas eleitorais. Mas vamos trabalhar com
firmeza. E vamos ter o apoio da
população, o mais importante.
FOLHA - A lei não vai prejudicar os
negócios?
SERRA - Ninguém deixou de andar de avião e de ir ao cinema
porque não pode fumar. Em
Buenos Aires, Paris, NY, a lei,
no atacado, está funcionando.
FOLHA - O sr. acha que a lei deve
ser reproduzida em outros Estados?
SERRA - Cada Estado deve decidir. Pesquisa feita em SP mostrou imenso apoio à ideia. Aliás,
mais de 80% dos fumantes gostariam de largar o hábito. Não
conseguem. A proibição não é
para aporrinhar, é para evitar
doenças, melhorar a saúde pública. O cigarro é a principal
causa de doenças perigosas.
Neste século, quem fuma vai viver em média 20 anos menos.
FOLHA - O sr. conta que, desde jovem, é antitabagista. Por quê?
SERRA - Meu pai, meus tios, um
primo muito próximo, meu avô
materno viveram muito menos
do que poderiam por culpa do
cigarro. Minhas tias não fumavam, pois o vício se pega quando jovem, e naquela época
(anos 30, 40), mulher que fumava era malvista. Pior que
mulher desquitada. Quando
criança, assistia meu pai, tio,
avô, os amigos, todos italianos
do sul, jogando baralho, brigando e blasfemando em uma nuvem de fumaça. Creio que desenvolvi alergia ao cigarro por
causa disso. Na adolescência,
meus amigos começaram a fumar. Apesar de não gostar do
cheiro, eu tentava, mas não
conseguia, até passava mal.
FOLHA - O sr. era considerado chato por proibir fumar na UNE (União
Nacional dos Estudantes). Não tem
medo de ficar com essa pecha?
SERRA - Na União Estadual dos
Estudantes, onde minha sala
era pequena, botei um cartaz:
"É proibido fumar cachimbo e
charuto". Na UNE, o problema
era o cheiro da cinza nos cinzeiros e no chão. Alguém gosta?
Mas não sou chato. Quando me
casei, a Monica fumava. Contanto que não fumasse na cama, nunca a atazanei. Quem a
fez desistir foram nossos filhos.
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