São Paulo, quinta-feira, 09 de abril de 2009

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Serra admite que não será fácil fiscalizar lei

Segundo o governador, haverá "muita torcida contra" a medida; "não sou chato, mas é questão de saúde", disse ao defender proibição

Tucano afirmou que irá criar um serviço de disque- denúncia; ele diz que será essencial cooperação de empresários e do público

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O governador José Serra (PSDB) adverte: não será fácil assegurar o cumprimento da lei antifumo. "É difícil e vai ter muita torcida contra." Ele, que está nos EUA, afirmou ontem à Folha, por e-mail, que irá criar uma espécie de disque-denúncia no Estado e, após descrever sua trajetória antitabagista, ressalvou: "Não sou chato".

 

FOLHA - Qual será a estrutura de fiscalização da lei antifumo?
JOSÉ SERRA
- O Procon vai ser o instrumento e ter a estrutura, auxiliado pelas secretarias da Saúde e da Segurança. Trata-se de um grande desafio. Só o controle do governo não vai bastar. É essencial a cooperação dos empresários e do público.

FOLHA - Haverá instrumento de denúncia, um disque-denúncia?
SERRA
- Vai existir sim.

FOLHA - Considera esta mais uma vitória na batalha contra o fumo?
SERRA
- Não, pois ainda não começou a funcionar. As quatro outras medidas que tomei quando ministro da Saúde -proibir a publicidade de cigarros, estampar as fotos nos maços, proibir fumo em avião e fazer campanha pela TV- foram muito eficientes e pioneiras na América Latina. O Brasil ganhou até prêmio da OMS. Mas a lei atual é de aplicação muito mais complexa, vai exigir esforço e participação maiores.

FOLHA - A lei é para valer?
SERRA
- É sim. Vamos fazer o possível para que saia do papel. É difícil e vai ter muita torcida contra, até por motivos políticos, graças a esta malfadada antecipação das disputas eleitorais. Mas vamos trabalhar com firmeza. E vamos ter o apoio da população, o mais importante.

FOLHA - A lei não vai prejudicar os negócios?
SERRA
- Ninguém deixou de andar de avião e de ir ao cinema porque não pode fumar. Em Buenos Aires, Paris, NY, a lei, no atacado, está funcionando.

FOLHA - O sr. acha que a lei deve ser reproduzida em outros Estados?
SERRA
- Cada Estado deve decidir. Pesquisa feita em SP mostrou imenso apoio à ideia. Aliás, mais de 80% dos fumantes gostariam de largar o hábito. Não conseguem. A proibição não é para aporrinhar, é para evitar doenças, melhorar a saúde pública. O cigarro é a principal causa de doenças perigosas. Neste século, quem fuma vai viver em média 20 anos menos.

FOLHA - O sr. conta que, desde jovem, é antitabagista. Por quê?
SERRA
- Meu pai, meus tios, um primo muito próximo, meu avô materno viveram muito menos do que poderiam por culpa do cigarro. Minhas tias não fumavam, pois o vício se pega quando jovem, e naquela época (anos 30, 40), mulher que fumava era malvista. Pior que mulher desquitada. Quando criança, assistia meu pai, tio, avô, os amigos, todos italianos do sul, jogando baralho, brigando e blasfemando em uma nuvem de fumaça. Creio que desenvolvi alergia ao cigarro por causa disso. Na adolescência, meus amigos começaram a fumar. Apesar de não gostar do cheiro, eu tentava, mas não conseguia, até passava mal.

FOLHA - O sr. era considerado chato por proibir fumar na UNE (União Nacional dos Estudantes). Não tem medo de ficar com essa pecha?
SERRA
- Na União Estadual dos Estudantes, onde minha sala era pequena, botei um cartaz: "É proibido fumar cachimbo e charuto". Na UNE, o problema era o cheiro da cinza nos cinzeiros e no chão. Alguém gosta? Mas não sou chato. Quando me casei, a Monica fumava. Contanto que não fumasse na cama, nunca a atazanei. Quem a fez desistir foram nossos filhos.


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