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Assassino não atirou a esmo, dizem ex-colegas
Para eles, atirador procurou em
vítimas características específicas
Amigos de colégio se reúnem e lembram como Wellington Oliveira era "zoado" pela turma da escola
LAURA CAPRIGLIONE
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
"A gente chorou pensando
que Wellington matou as
crianças em represália pelo
que aconteceu quando estudávamos juntos", disse ontem à Folha o hoje assessor
cultural Thiago Costa da
Cruz, 23, que conviveu com
ele na 5ª, 6ª, 7ª e 8ª séries na
escola Tasso da Silveira, onde ocorreu o massacre.
Um grupo de cinco amigos
desde os tempos de colégio
reuniu-se em um churrasquinho nas imediações da Tasso. Lembraram-se de como o
garoto esquisito era "zoado"
pela turma da escola, em especial pelas meninas.
"Estávamos na 7ª série, os
hormônios a milhão, e uma
das meninas mais malvadas,
a C., ficou pegando no Wellington, se esfregando, e dizendo "vem cá". O Wellington
entrou em pânico. Gritava
"não", "não", "não", desesperado. Ele empurrava a C. e ela
gritava cada vez mais alto
que queria ficar com ele. Foi
assustador", diz Thiago, espécie de porta-voz do grupo.
O ataque de C. contra Wellington causou surpresa, pois
ela também era uma vítima
da classe por estar longe de
ser das meninas mais bonitas, e por ser gordinha. "Mas
ela sabia que zoar com o Wellington era um jeito de ficar
do mesmo lado dos bonitos e
inteligentes da classe."
Ninguém gostava de Wellington, dizem os antigos colegas, a não ser Bruno, um
menino fanho e de voz fina,
com a cara do personagem
cômico Mister Bean. Bruno
era destroçado pelo meninos,
que o chamavam de "bicha".
A dupla Wellington e Bruno era ridicularizada todo o
tempo, inclusive com segredinhos que todos compartilhavam, menos eles. Para
compensar, os dois fingiam
possuir também segredos e
maldades sobre a classe. Para evidenciá-los, soltavam
gargalhadas fora de tempo e
lugar. "Parecia coisa satânica, mas era só um jeito de se
defenderem", diz Thiago.
O grupo dos cinco jovens
debruçou-se sobre as notícias na internet. Mas desligaram o computador quando
um dos amigos notou a semelhança física entre as vítimas e os antigos colegas.
"A gente teve certeza de
que ele não matou a esmo.
Wellington procurou em cada vítima uma característica
pessoal das pessoas com
quem ele teve uma rixa na escola. A L., que falava direto
pra ele "Sai daí, seu feio",
quando queria sentar em um
lugar que ele estivesse ocupando, é idêntica a uma menina que ele matou. Outras
meninas têm um olho, uma
boca, um jeito que parecia
muito com as meninas da
nossa classe", afirma Thiago.
"Tinha um menino, que
ele poupou, dizendo "Fica
frio, gordinho, que eu não
vou te matar". Pois bem, esse
gordinho é a cara, cuspida e
escarrada, do R., que mora
aqui no beco. Era assim que
toda a classe chamava o R.,
que de fato era gordinho."
"Nós temos certeza de que,
quando subia aquelas escadas, ele viajava no tempo, até
dez anos atrás, quando estudávamos juntos", afirma.
A cor das paredes ainda é a
mesma, bege por cima e, embaixo, mostarda. O mesmo
primeiro andar, a mesma 7ª
série das piores chacotas. O
mesmo turno matutino. "Nós
que devíamos ter morrido.
Não era para ninguém ter pago por uma coisa que nós fizemos", diz, entre lágrimas,
Thiago, ele mesmo discriminado nos tempos de escola
por ser homossexual.
Colaborou CRISTINA MORENO DE CASTRO
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