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VIOLÊNCIA
Menina foi levada de Higienópolis, perto do apartamento de FHC, enquanto ia para a escola; grupo pediu US$ 5 milhões
Filha de zelador é sequestrada por engano
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Refém capturada, escondida em
um cativeiro e o valor do resgate
-US$ 5 milhões- já definido.
Havia apenas um engano: a menina sequestrada era filha de um zelador e de uma empregada doméstica em São Paulo.
O equívoco dos sequestradores
aterrorizou a família da estudante
A.C.F., 11, na manhã de ontem. A
quadrilha percebeu o erro e libertou a menina quatro horas e meia
depois do sequestro. A garota
passa bem.
Os sequestradores foram enganados por dois detalhes: a menina
saiu de um prédio de luxo na rua
Rio de Janeiro, em Higienópolis
(centro de São Paulo), e caminhava com o irmão para a escola, sem
seguranças, em um dos bairros
mais nobres de São Paulo.
A. e seu irmão, L., 13, foram surpreendidos por dois homens que
estavam em uma moto às 6h50 de
ontem, na esquina da rua Rio de
Janeiro com a rua Maranhão, a
300 metros do prédio onde o presidente Fernando Henrique Cardoso tem um apartamento e a
duas quadras da sede da DAS (Divisão Anti-Sequestro).
A menina foi colocada na moto
e levada para uma rua próxima,
onde passou para o porta-malas
de um carro. O irmão se ofereceu
para acompanhar a estudante,
mas os sequestradores disseram
que só queriam a garota.
A. foi levada para um cativeiro,
onde já estava um casal que seria
responsável pela sua guarda. A
menina lembra que o local tinha
dois sofás e uma televisão.
Às 8h30, enquanto o pai da estudante, o zelador I.P.F., 38, e o irmão dela registravam o caso no 4º
DP (Consolação), um dos sequestradores telefonou para a casa da
menina e pediu o resgate, no valor
de US$ 5 milhões.
Desesperada, M.A.C.F., mãe da
estudante, alertou que A. era filha
de um zelador e de uma empregada doméstica e que a família não
tinha condições de pagar o valor
solicitado. Irritado, o sequestrador não acreditou na mulher e
desligou o telefone.
Só na terceira ligação o sequestrador admitiu o erro, pediu desculpas e disse que iria libertar a
menina mesmo sem o pagamento
de qualquer resgate.
Segundo M.E.F., 59, avó da estudante, a família acredita que o sequestrador tenha conferido os dados fornecidos pela mãe com a
menina e percebido o engano.
A. foi liberada às 11h30 de ontem por um dos sequestradores
em frente ao shopping Morumbi,
na zona sul de São Paulo. Ela ligou
a cobrar para o pai e foi resgatada
por uma equipe da DAS.
"A gente não tem dinheiro.
Nunca pensei que isso poderia
acontecer com a nossa família",
afirmou a avó da menina. Parentes se reuniram no apartamento
depois do sequestro.
O prédio onde A. mora possui
12 andares, com um apartamento
por andar. Só que a menina, o pai,
a mãe e o irmão vivem em um
apartamento de quarto-e-sala, no
térreo do edifício.
A presença de moradores importantes na região nobre motivou a suspeita de que o sequestro
pudesse ter sido dirigido para outra menina. A neta de um banqueiro mora no prédio ao lado.
O delegado Antônio Olim, da
DAS, nega essa possibilidade. De
acordo com ele, os sequestradores
resolveram sequestrar a menina
por acreditar que ela fosse filha de
uma das famílias ricas que moram na região.
"Ela estava bem vestida. Viram
ela caminhando sem segurança
nesse bairro e a escolheram", afirmou Olim. Ele não estranhou os
sequestradores terem pedido um
valor tão alto, e em dólar. "Eles
sempre pedem alto, mas aceitam
valores bem mais baixos", disse.
Os sequestradores dos filhos da
dona-de-casa Cláudia Reali de
Oliveira Ribeiro começaram pedindo US$ 3 milhões, mas receberam cerca de R$ 420 mil.
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