São Paulo, quinta-feira, 09 de maio de 2002

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VIOLÊNCIA

Menina foi levada de Higienópolis, perto do apartamento de FHC, enquanto ia para a escola; grupo pediu US$ 5 milhões

Filha de zelador é sequestrada por engano

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Refém capturada, escondida em um cativeiro e o valor do resgate -US$ 5 milhões- já definido. Havia apenas um engano: a menina sequestrada era filha de um zelador e de uma empregada doméstica em São Paulo.
O equívoco dos sequestradores aterrorizou a família da estudante A.C.F., 11, na manhã de ontem. A quadrilha percebeu o erro e libertou a menina quatro horas e meia depois do sequestro. A garota passa bem.
Os sequestradores foram enganados por dois detalhes: a menina saiu de um prédio de luxo na rua Rio de Janeiro, em Higienópolis (centro de São Paulo), e caminhava com o irmão para a escola, sem seguranças, em um dos bairros mais nobres de São Paulo.
A. e seu irmão, L., 13, foram surpreendidos por dois homens que estavam em uma moto às 6h50 de ontem, na esquina da rua Rio de Janeiro com a rua Maranhão, a 300 metros do prédio onde o presidente Fernando Henrique Cardoso tem um apartamento e a duas quadras da sede da DAS (Divisão Anti-Sequestro).
A menina foi colocada na moto e levada para uma rua próxima, onde passou para o porta-malas de um carro. O irmão se ofereceu para acompanhar a estudante, mas os sequestradores disseram que só queriam a garota.
A. foi levada para um cativeiro, onde já estava um casal que seria responsável pela sua guarda. A menina lembra que o local tinha dois sofás e uma televisão.
Às 8h30, enquanto o pai da estudante, o zelador I.P.F., 38, e o irmão dela registravam o caso no 4º DP (Consolação), um dos sequestradores telefonou para a casa da menina e pediu o resgate, no valor de US$ 5 milhões.
Desesperada, M.A.C.F., mãe da estudante, alertou que A. era filha de um zelador e de uma empregada doméstica e que a família não tinha condições de pagar o valor solicitado. Irritado, o sequestrador não acreditou na mulher e desligou o telefone.
Só na terceira ligação o sequestrador admitiu o erro, pediu desculpas e disse que iria libertar a menina mesmo sem o pagamento de qualquer resgate.
Segundo M.E.F., 59, avó da estudante, a família acredita que o sequestrador tenha conferido os dados fornecidos pela mãe com a menina e percebido o engano.
A. foi liberada às 11h30 de ontem por um dos sequestradores em frente ao shopping Morumbi, na zona sul de São Paulo. Ela ligou a cobrar para o pai e foi resgatada por uma equipe da DAS.
"A gente não tem dinheiro. Nunca pensei que isso poderia acontecer com a nossa família", afirmou a avó da menina. Parentes se reuniram no apartamento depois do sequestro.
O prédio onde A. mora possui 12 andares, com um apartamento por andar. Só que a menina, o pai, a mãe e o irmão vivem em um apartamento de quarto-e-sala, no térreo do edifício.
A presença de moradores importantes na região nobre motivou a suspeita de que o sequestro pudesse ter sido dirigido para outra menina. A neta de um banqueiro mora no prédio ao lado.
O delegado Antônio Olim, da DAS, nega essa possibilidade. De acordo com ele, os sequestradores resolveram sequestrar a menina por acreditar que ela fosse filha de uma das famílias ricas que moram na região.
"Ela estava bem vestida. Viram ela caminhando sem segurança nesse bairro e a escolheram", afirmou Olim. Ele não estranhou os sequestradores terem pedido um valor tão alto, e em dólar. "Eles sempre pedem alto, mas aceitam valores bem mais baixos", disse.
Os sequestradores dos filhos da dona-de-casa Cláudia Reali de Oliveira Ribeiro começaram pedindo US$ 3 milhões, mas receberam cerca de R$ 420 mil.



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