São Paulo, domingo, 09 de maio de 2004

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VIOLÊNCIA

O adolescente de 15 anos recebeu cinco tiros de um vigilante de uma empresa de segurança que atua no Alto de Pinheiros

Vigia mata estudante na zona oeste de SP

DO "AGORA"

DA REPORTAGEM LOCAL

O estudante Guilherme Mendes de Almeida, 15, foi assassinado com cinco tiros por um vigilante no início da noite de anteontem, em uma praça no Alto de Pinheiros, bairro de classe média alta da zona oeste de São Paulo.
Segundo testemunhas, amigos do rapaz, os tiros foram dados à queima-roupa por um vigilante da Itaim Vigilância, Comércio e Serviços Ltda., que faz segurança motorizada e monitora alarmes de casas do bairro. O dono da empresa, Marcos Lenehrt de Oliveira, disse que os funcionários não têm autorização para andar armados, nem liberação da Polícia Federal para vigilância armada.
O pai do estudante, João Eduardo Mendes de Almeida, está desempregado. Vive da venda de espetinhos na Vila Madalena (também na zona oeste).
Uma discussão ocorrida na quinta-feira pode ter levado ao crime. Almeida e um grupo de amigos que freqüentavam regularmente a praça Vicentina de Carvalho discutiram nesse dia com dois seguranças que estariam dirigindo em alta velocidade em um Uno Mille branco.
"Eles sentavam ali, ficavam conversando, nunca tiveram problemas com a polícia ou com vigilantes", disse Joana, 17, irmã de Almeida, o caçula de quatro irmãos. "A praça estava cheia de crianças e senhoras caminhando, mas eles andavam a 60 km ou 80 km por hora", disse um rapaz de 16 anos, amigo da vítima, que não se identificou. Segundo ele, os vigias discutiram com uma mulher ao quase baterem contra o carro dela.
O grupo se dirigiu aos seguranças e ameaçou chamar a polícia caso continuassem circulando em alta velocidade. "Podem chamar", teria sido a resposta ouvida.
Anteontem, por volta das 18h, Almeida voltou à praça, onde estavam seus colegas, antes de ir à escola (cursava a 7ª série no colégio estadual Olavo Pezzoti). O mesmo vigilante que conduzia o carro na tarde anterior voltou a passar pela praça, mas dessa vez estava sozinho em um Palio que trazia o nome da Itaim Vigilância.
O adolescente reconheceu o segurança e, ao passar por ele, gritou para que andasse "mais devagar". Segundo amigos da vítima, o vigilante, então, saiu do carro e apontou uma pistola para o grupo -três garotos e três meninas.
Depois de pedir que os garotos levantassem as suas blusas -para certificar-se de que não estavam armados-, o vigilante mandou que virassem de costas e colocassem as mãos na cabeça.
Em seguida, chamou por Almeida e exigiu que ninguém olhasse para trás. "Quando ele disse isso, sabíamos que ele atiraria no nosso amigo", contou um estudante de 17 anos.
"Por que você fica me tirando?", teria perguntado o segurança com a arma apontada para o grupo. Segundo os amigos, Almeida respondeu: "Eu só falei para você andar mais devagar. Tem um monte de gente que vem aqui para caminhar".
"Quando ele disse "caminhar", levou o primeiro tiro, no maxilar", disse o estudante, que virou-se para ver o que aconteceria. Almeida tentou correr, mas levou outros quatro disparos, no pescoço, no tórax e nas costas. Os adolescentes correram. Um morador levou a vítima ao hospital Panamericano, mas ele chegou morto.
O provável assassino, segundo José Pereira Lopes Neto, delegado titular do 14º DP (Pinheiros), já havia sido identificado ontem à tarde pela polícia. O nome dele não foi revelado. Além de ter características que coincidem com a descrição das testemunhas, esse homem foi apontado como o segurança que trabalhou no horário do crime e que estava com os veículos da empresa. O dono da Itaim disse à polícia que ele não é registrado, apenas fazia bico.
Inicialmente, ele chegou a levar à polícia documentos e fotos de seus funcionários -mas apenas dos registrados, não incluindo o homem que se tornou o suspeito.
As testemunhas viram as fotos e chegaram a reconhecer um dos vigias da Itaim, que estaria escalado inicialmente para trabalhar no horário do crime. Quando ele chegou à delegacia, os adolescentes se desdisseram. Ele revelou que havia trocado de plantão com outro vigia, passou por exames residuográficos e foi liberado.
Almeida foi enterrado ontem. No início da noite, cerca de 50 amigos e parentes do estudante fizeram uma manifestação na praça onde ele foi assassinado.


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