São Paulo, domingo, 09 de maio de 2004

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Longe de casa, imigrante luta hoje contra a saudade

ISABELLE MOREIRA LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL

Para alguns moradores de São Paulo, cidade-abrigo de migrantes de todos os lugares, o Dia das Mães será diferente. "Órfãos" por geografia, eles não são obrigados a enfrentar o barulho e o aperto de restaurantes cheios, mas estão fadados a lutar contra a saudade e a solidão das datas comemorativas de família à distância.
O juiz potiguar Aírton Pinheiro, 34, morador de São Paulo há um ano e dois meses, já sabe qual estratégia usar para evitar a tristeza. "Devo almoçar com a mãe da minha namorada. Como não posso visitar minha mãe, vou adotar a sogra", diz ele.
Pinheiro diz que a distância maltrata especialmente aos domingos, quando a mãe, que mora em Natal, reúne as cinco filhas para o almoço. "Isso acontecerá no domingo do Dia das Mães. E mesmo que eu me conecte à web, não dá para pôr o computador no meu lugar na mesa", lamenta. Ele crê que a mãe também sentirá sua falta, mas conta que pelo menos o presente já está resolvido. "Mandei o que ela mais gosta: dinheiro para escolher o que quiser."
A jornalista americana Karen Keller, 27, -já veterana de separação, com 10 anos de distância no currículo- usa uma estratégia parecida. No ano passado, ela diz que "se empolgou" e mandou flores no dia das mães. "Minha mãe passou o dia todo chorando."
Neste ano, ela estará ocupada com uma mudança bem na data de homenagem à mãe, mas a promessa de presentinho já foi feita.
"Como eu estou muito ocupada para fazer algo maior, prometi escrever um poema para minha mãe. Mas ele vai com atraso. E o telefonema, não sei nem como vou dar, porque já entreguei a linha telefônica. Vai ter que ser rápido, de um orelhão."
Apesar de ser filha única, a analista de sistemas gaúcha Lisane Heineck, 32, está despreocupada com a programação da mãe. "Eu moro fora há tanto tempo que ela já se acostumou. Sente saudades, mas não sofre", diz.
Heineck, para não sofrer, faz programações alternativas com o marido, também gaúcho e distante da mãe, e amigos na mesma condição. "Neste ano, nós vamos ao show do Pixies em Curitiba."
A gaúcha nunca deixou de enviar um mimo para a mãe. Neste ano, no entanto, sua eficiência falhou. "Eu trabalhava perto de um shopping, mas como meu escritório mudou de endereço, ficou superdifícil e não deu tempo de comprar nada." De qualquer maneira, a mãe já está avisada. "Ela vai entender", espera.


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