São Paulo, domingo, 09 de maio de 2004

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SAÚDE

Doença afeta mais mulheres acima de 40 anos, é detectada em estágio avançado em 70% dos casos e tem alta letalidade

Câncer do ovário tem diagnóstico tardio

DA REPORTAGEM LOCAL

Fique atenta para um diagnóstico de cisto ovariano se você tiver mais de 40 anos. A partir dessa idade, em razão da menopausa ou da proximidade dela, cistos no ovário são incomuns e podem ser indício de um tumor maligno.
Considerado a "ovelha negra" da ginecologia, pela dificuldade de diagnóstico precoce e pelo alto índice de letalidade, o câncer do ovário afeta de 4 a 10 mulheres brasileiras a cada grupo de 100.000, dependendo da região do do país, segundo o Inca (Instituto Nacional do Câncer).
Estudos do Instituto Nacional do Câncer dos EUA indicam que 70% desses tumores são diagnosticados em estágios avançados. Desses, 55% podem matar a mulher em até cinco anos. No Brasil, não há dados semelhantes.
De acordo com Agnaldo Anelli, diretor de oncologia clínica do Hospital do Câncer de São Paulo, o câncer do ovário é do tipo "traiçoeiro", que vai se infiltrando nos tecidos próximos ao órgão sem manifestar sintomas.
Por não possuir peritônio (membrana serosa que reveste, internamente, as cavidades abdominal e pélvica e, externamente, as vísceras contidas nessas cavidades), o ovário fica mais vulnerável tanto para espalhar células cancerígenas como para recebê-las de outros órgãos doentes.
Quando surgem os primeiros sinais -em geral, desconforto abdominal, azia, perda de peso e sangramento vaginal-, já é tarde. O tumor cresceu, muitas vezes apresenta metástase e pode estar pressionando as alças intestinais.
Daí o aparecimento dos distúrbios gástricos, que, muitas vezes acabam levando a mulher a procurar um gastroenterologista. "Às vezes, o médico se limita a investigar o aparelho digestivo e esquece do resto, o que é uma temeridade", afirma Anelli.
Diferentemente do que muita mulher imagina, o câncer de ovário não pode ser diagnosticado por papanicolaou -exame usado na prevenção do câncer do colo de útero. Por isso, a partir dos 40 anos, deve ser examinada pelo ginecologista a cada seis meses e, ao menos uma vez por ano, fazer ultra-sonografia transvaginal.
Ao diagnosticar um cisto suspeito, os médicos podem adotar condutas diferentes para pesquisar o câncer. Anelli, por exemplo, é favorável que se faça a dosagem dos marcadores tumorais -substâncias presentes no sangue, produzidas pelo próprio tumor ou pelo corpo, em resposta à presença do câncer.
Os principais marcadores para o câncer do ovário é o CA-125, para os tumores epiteliais, presentes em 90% dos casos de câncer. O HCG e alfa-fetoproteína (AFP) são indicados para os tumores das células germinativas.
O médico Marcelo Zugaib, chefe do departamento de ginecologia e obstetrícia do Hospital das Clínicas de São Paulo, não é adepto dos marcadores pela alta incidência de falsos positivos. É que o exame pode apresentar níveis elevados em várias situações, como no caso de fumantes ou de portadoras de endometriose.
A ginecologista Cláudia Gazzo, do Hospital do Servidor Estadual, lembra que nem todas as pacientes com câncer de ovário têm níveis elevados dos marcadores. Por essa falta de especificidade, avalia ela, fica difícil empregá-los em triagens de rotina. Porém eles são úteis para mulheres que já tiveram câncer, para monitorar possível reaparecimento da doença.
Zugaib prefere fazer a biopsia do tumor, por meio da laparoscopia, um exame que exige anestesia geral e que permite a visualização do interior da cavidade abdominal. "Prefiro pecar pelo excesso."
Acontece que, se o tumor for maligno, a intervenção pode espalhar o tumor pela cavidade abdominal e acelerar o desenvolvimento do câncer, alerta Maurício Simões Abrão, professor da Faculdade de Medicina da USP.
Confirmada a doença, a terapia primeira é a retirada dos órgãos, que pode se resumir aos ovários ou ser ampliada para as trompas, o útero e outros tecidos próximos, dependendo do estágio do câncer e da idade da paciente. Outros tratamentos, como a quimioterapia, podem ser necessários.
O caso da cabeleireira Ruth dos Santos, 45, é uma exceção no universo dos cânceres do ovário pela descoberta precoce da doença. Ela conta que o cisto foi diagnosticado durante ultra-som transvaginal de rotina, há dois anos.
Em razão da idade e das características do cisto, a médica decidiu investigar o achado com a laparoscopia. Mas no final foi feita cirurgia convencional. O tumor, em fase inicial, era maligno e foi extirpado junto com os ovários, as trompas e o útero. "Tive sorte. Nem precisei da quimioterapia", diz Ruth, mãe de três filhos. (CLÁUDIA COLLUCCI)

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