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SEGURANÇA
Prisão em Tatuí (SP) está sem controle desde o dia 27 de março; policiais ficam do lado de fora vigiando túneis
Expulsa de cadeia, polícia monta barricada
MOACYR LOPES JÚNIOR
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
O cenário é de caos. Não há mais
celas nem grades. Os presos passam o dia cavando túneis -já fizeram pelo menos 25- e nenhum policial ou carcereiro se arrisca a entrar. Para tentar evitar
fugas, se revezam ao redor do prédio, apontando suas armas para
quem coloca a cabeça para fora.
A situação já dura mais de um
mês na Cadeia Pública de Tatuí, a
137 km de São Paulo, que vivia superlotada e, desde uma rebelião
no dia 27 de março, quando foi
destruída, está numa situação de
completo desgoverno.
Anteontem à noite, por exemplo, dois presos conseguiram fugir. Na madrugada de ontem,
houve mais uma tentativa de fuga.
No improviso, a polícia e a prefeitura ergueram uma espécie de
barricada ao redor do prédio,
com areia e entulho.
O pior de tudo é que não há solução à vista. O governo de São
Paulo, responsável pela cadeia,
prometeu transferir os presos,
mas não estipulou prazo.
"Ninguém consegue mais dormir aqui", diz Antônio Oliveira,
66, que mora na rua há mais de 20
anos. "Dois fugitivos se esconderam no jardim de casa", disse.
O bairro Vila Régia, onde fica a
cadeia, é residencial. Perto do local, existem três escolas: uma técnica, outra municipal e uma particular. A cadeia costuma receber
acusados de roubos, homicídio e
tráfico ainda sem julgamento.
Nas paredes da cadeia, a ironia.
Sobre cada túnel encontrado ou
suspeito, policiais e moradores fizeram um registro: "tatu 1", "tatu
2", até "tatu 51". E pichações: "devagar, passagem de pedestres" e
"próximo tatu em breve".
A medida paliativa para tampar
os buracos tem sido colocar pedras e terra nas extremidades dos
túneis, por fora da cadeia.
Ratos, cobras e baratas
Na época da rebelião, havia 273
presos ali. A capacidade é de 42.
Hoje, restam 34. Nove fugiram e
três foram recapturados. Os demais, transferidos.
Nessas ocasiões, os próprios
presos colaboram. Não é difícil
entender: com a cadeia totalmente destruída, eles dormem no
chão. Não há luz nem água nas
torneiras. O esgoto não funciona e
as doenças se acumulam.
"A última transferência aconteceu há 20 dias. Tenho mantido o
meu efetivo para a proteção do
prédio e do entorno", diz o delegado titular de Tatuí, Reinaldo
Antônio Damião Ferreira. "A investigação de crimes, principalmente os de autoria desconhecida, fica paralisada", afirma.
Policiais dizem que, sem reforço, não dá para entrar na cadeia e
enfrentar os presos.
Silvia Regina Mocellini, presidente da OAB de Tatuí, disse que
já informou a Secretaria da Segurança Pública, a da Administração Penitenciária e o próprio governador Cláudio Lembo (PFL)
sobre o caos no local.
Os presos recebem uma marmita pelo vão da porta e o que sobra
é jogado no pátio. O lixo é coberto
por um plástico -em cima dele
ficam muitas moscas e o cheiro
ruim se espalha por toda a rua.
Com o descontrole, a cadeia
tem atraído ratazanas, baratas e
cobras. "Está um nojo só", afirma
a moradora Maria Lourenço. Há
o risco ainda de o prédio desabar.
"A estrutura pode estar comprometida", diz o delegado.
Parentes dos presos estiveram
ontem na cadeia para tentar obter
notícias. "Muitos foram mordidos por ratos. Até cobra encontraram lá", disse Leila dos Santos,
cujo filho está preso no local.
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