São Paulo, terça-feira, 09 de maio de 2006

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SEGURANÇA

Prisão em Tatuí (SP) está sem controle desde o dia 27 de março; policiais ficam do lado de fora vigiando túneis

Expulsa de cadeia, polícia monta barricada

MOACYR LOPES JÚNIOR
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO

AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL

O cenário é de caos. Não há mais celas nem grades. Os presos passam o dia cavando túneis -já fizeram pelo menos 25- e nenhum policial ou carcereiro se arrisca a entrar. Para tentar evitar fugas, se revezam ao redor do prédio, apontando suas armas para quem coloca a cabeça para fora.
A situação já dura mais de um mês na Cadeia Pública de Tatuí, a 137 km de São Paulo, que vivia superlotada e, desde uma rebelião no dia 27 de março, quando foi destruída, está numa situação de completo desgoverno.
Anteontem à noite, por exemplo, dois presos conseguiram fugir. Na madrugada de ontem, houve mais uma tentativa de fuga. No improviso, a polícia e a prefeitura ergueram uma espécie de barricada ao redor do prédio, com areia e entulho.
O pior de tudo é que não há solução à vista. O governo de São Paulo, responsável pela cadeia, prometeu transferir os presos, mas não estipulou prazo.
"Ninguém consegue mais dormir aqui", diz Antônio Oliveira, 66, que mora na rua há mais de 20 anos. "Dois fugitivos se esconderam no jardim de casa", disse.
O bairro Vila Régia, onde fica a cadeia, é residencial. Perto do local, existem três escolas: uma técnica, outra municipal e uma particular. A cadeia costuma receber acusados de roubos, homicídio e tráfico ainda sem julgamento.
Nas paredes da cadeia, a ironia. Sobre cada túnel encontrado ou suspeito, policiais e moradores fizeram um registro: "tatu 1", "tatu 2", até "tatu 51". E pichações: "devagar, passagem de pedestres" e "próximo tatu em breve".
A medida paliativa para tampar os buracos tem sido colocar pedras e terra nas extremidades dos túneis, por fora da cadeia.

Ratos, cobras e baratas
Na época da rebelião, havia 273 presos ali. A capacidade é de 42. Hoje, restam 34. Nove fugiram e três foram recapturados. Os demais, transferidos.
Nessas ocasiões, os próprios presos colaboram. Não é difícil entender: com a cadeia totalmente destruída, eles dormem no chão. Não há luz nem água nas torneiras. O esgoto não funciona e as doenças se acumulam.
"A última transferência aconteceu há 20 dias. Tenho mantido o meu efetivo para a proteção do prédio e do entorno", diz o delegado titular de Tatuí, Reinaldo Antônio Damião Ferreira. "A investigação de crimes, principalmente os de autoria desconhecida, fica paralisada", afirma.
Policiais dizem que, sem reforço, não dá para entrar na cadeia e enfrentar os presos.
Silvia Regina Mocellini, presidente da OAB de Tatuí, disse que já informou a Secretaria da Segurança Pública, a da Administração Penitenciária e o próprio governador Cláudio Lembo (PFL) sobre o caos no local.
Os presos recebem uma marmita pelo vão da porta e o que sobra é jogado no pátio. O lixo é coberto por um plástico -em cima dele ficam muitas moscas e o cheiro ruim se espalha por toda a rua.
Com o descontrole, a cadeia tem atraído ratazanas, baratas e cobras. "Está um nojo só", afirma a moradora Maria Lourenço. Há o risco ainda de o prédio desabar. "A estrutura pode estar comprometida", diz o delegado.
Parentes dos presos estiveram ontem na cadeia para tentar obter notícias. "Muitos foram mordidos por ratos. Até cobra encontraram lá", disse Leila dos Santos, cujo filho está preso no local.


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