São Paulo, terça-feira, 09 de maio de 2006

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MARIA INÊS DOLCI

Celular-bomba

As explosões de aparelhos celulares, ocorridas de 2004 para cá, não impactam tanto pela quantidade -até a última sexta-feira, computavam-se, oficialmente, sete casos no país. O que chama a atenção, contudo, é que quase nada se sabe, em termos objetivos, sobre as causas das explosões.
Os celulares que explodiram eram da marca Motorola, exceto um, da Nokia. Estatisticamente, alguém poderia observar que sete casos, dentre milhões de aparelhos em uso, seriam debitados a problemas diversos, inclusive a acidentes. Ocorre que vários dos casos se verificaram mais recentemente. E, em pelo menos um desses casos, houve ferimentos diversos em uma estudante em Goiás.
Acidentes, é óbvio, podem ocorrer com quase qualquer produto, de automóveis a ventiladores, dependendo do uso e de um conjunto de circunstâncias. São até caracterizados como acidentes de consumo e amparados pelo Código de Defesa do Consumidor.
Além disso, há na Câmara Federal um projeto para tornar obrigatória a notificação desses acidentes de consumo, para ação rápida de reparação de produtos e serviços, quando houver vítimas.
É estranho, porém, que o fabricante de celular tenha tão pouco a dizer sobre esses acidentes. Que ele repita que somente um laudo técnico poderá determinar a causa da explosão do aparelho, enquanto os casos se repetem.
Em 2005, promotores públicos da Tailândia abriram um processo contra a Nokia, após um usuário ter sofrido ferimentos graves pela explosão de um celular. Em São Pedro (SP), a explosão de um celular provocou um incêndio. Qual foi a reação de nossas autoridades?
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) criou normas e selos de segurança para as baterias, de acordo com testes realizados pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD). O que é, obviamente, uma medida importante.
Mas, e os fabricantes? A que tipo de sanção foram submetidos? Respondem a algum processo na Justiça, de parte de alguma promotoria pública?
Ou, quem sabe, foram chamados sigilosamente a se explicar sobre os acidentes? Nesse caso, só falta divulgar essa providência, com mais transparência.
Caso contrário, chame-se logo o fabricante do celular que causou quase todas as explosões, até agora, para que faça mais do que afirmar que "testa todos os acessórios, no intuito de garantir a segurança dos consumidores". Pelo que se percebe, os tais testes não resolveram muito para as vítimas das explosões.
Além disso, não nos esqueçamos que celulares são utilizados, cada vez mais, por crianças, idosos e portadores de necessidades especiais, que podem ter mais dificuldade para escapar de uma eventual explosão do aparelho.
O que as autoridades esperam para cobrar explicações e soluções de quem de direito? Tomara que não reajam somente a um acidente mais grave, com conseqüências bem mais funestas do que as já ocorridas.
Por que, nesse caso, seriam co-responsáveis pelos danos causados a mais algum(a) consumidor(a) que confiou na tecnologia e nos órgãos públicos -que deveriam zelar por nossa segurança e integridade física.

E-mail - midolci@yahoo.com.br


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