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MARIA INÊS DOLCI
Celular-bomba
As explosões de aparelhos
celulares, ocorridas de 2004
para cá, não impactam tanto pela
quantidade -até a última sexta-feira, computavam-se, oficialmente, sete casos no país. O que
chama a atenção, contudo, é que
quase nada se sabe, em termos
objetivos, sobre as causas das explosões.
Os celulares que explodiram
eram da marca Motorola, exceto
um, da Nokia. Estatisticamente,
alguém poderia observar que sete
casos, dentre milhões de aparelhos em uso, seriam debitados a
problemas diversos, inclusive a
acidentes. Ocorre que vários dos
casos se verificaram mais recentemente. E, em pelo menos um desses casos, houve ferimentos diversos em uma estudante em Goiás.
Acidentes, é óbvio, podem ocorrer com quase qualquer produto,
de automóveis a ventiladores, dependendo do uso e de um conjunto de circunstâncias. São até caracterizados como acidentes de
consumo e amparados pelo Código de Defesa do Consumidor.
Além disso, há na Câmara Federal um projeto para tornar
obrigatória a notificação desses
acidentes de consumo, para ação
rápida de reparação de produtos
e serviços, quando houver
vítimas.
É estranho, porém, que o fabricante de celular tenha tão pouco
a dizer sobre esses acidentes. Que
ele repita que somente um laudo
técnico poderá determinar a causa da explosão do aparelho, enquanto os casos se repetem.
Em 2005, promotores públicos
da Tailândia abriram um processo contra a Nokia, após um usuário ter sofrido ferimentos graves
pela explosão de um celular. Em
São Pedro (SP), a explosão de um
celular provocou um incêndio.
Qual foi a reação de nossas
autoridades?
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) criou normas e selos de segurança para as
baterias, de acordo com testes
realizados pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD). O que é, obviamente, uma medida
importante.
Mas, e os fabricantes? A que tipo de sanção foram submetidos?
Respondem a algum processo na
Justiça, de parte de alguma promotoria pública?
Ou, quem sabe, foram chamados sigilosamente a se explicar sobre os acidentes? Nesse caso, só
falta divulgar essa providência,
com mais transparência.
Caso contrário, chame-se logo o
fabricante do celular que causou
quase todas as explosões, até agora, para que faça mais do que
afirmar que "testa todos os acessórios, no intuito de garantir a segurança dos consumidores". Pelo
que se percebe, os tais testes não
resolveram muito para as vítimas
das explosões.
Além disso, não nos esqueçamos que celulares são utilizados,
cada vez mais, por crianças, idosos e portadores de necessidades
especiais, que podem ter mais dificuldade para escapar de uma
eventual explosão do aparelho.
O que as autoridades esperam
para cobrar explicações e soluções
de quem de direito? Tomara que
não reajam somente a um acidente mais grave, com conseqüências bem mais funestas do
que as já ocorridas.
Por que, nesse caso, seriam co-responsáveis pelos danos causados a mais algum(a) consumidor(a) que confiou na tecnologia e
nos órgãos públicos -que deveriam zelar por nossa segurança e
integridade física.
E-mail -
midolci@yahoo.com.br
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