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Sem concorrência, loja de aeroporto cobra quanto quer
Comidas e bebidas custam até 60% mais do que em lojas das mesmas redes fora do aeroporto
A grande maioria dos estabelecimentos de Guarulhos e Congonhas pertence a apenas dois grupos de alimentação
RICARDO GALLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Bateu fome no aeroporto?
Prepare-se para gastar.
Sem concorrência próxima,
cafés, sanduíches, salgados e
refrigerantes custam 60% mais
do que em lojas das mesmas redes fora do aeroporto.
A Folha fez a comparação
nos aeroportos de Guarulhos e
de Congonhas, os dois mais
movimentados do país.
O "custo aeroporto" faz um
expresso, por exemplo, ser vendido a R$ 2,90 nas redes Viena
e Brunella. O café sai a R$ 2,80
no Viena do shopping Iguatemi, um dos mais luxuosos de
São Paulo; na unidade Brunella
do Paraíso (zona sul), custa R$
2 -preço 45% menor.
Mais caro é o refrigerante:
paga-se no mínimo R$ 4,75, seja em Guarulhos ou Congonhas. Fora dali, R$ 3,50 no Viena e R$ 3 na Brunella. No café
Balloon de Guarulhos, o preço
é ainda maior: R$ 4,90.
Quer um sanduíche? O
McDonald's cobra R$ 16,50 pelo número 1 (Big Mac, refrigerante e batata frita média); no
Iguatemi, o mesmo produto
custa R$ 13,75, 20% menos. Na
Pizza Hut, uma refeição custa
R$ 29; fora dali, R$ 23. No Congonhas Grill, o almoço chega a
custar R$ 59.
"Se puder evitar comprar, eu
evito. Mas às vezes não dá. A
gente chega de viagem com fome", disse o procurador federal
Luiz Henrique de Castro, 35,
que tomava um café no Viena
em Guarulhos logo depois de
chegar de Nova York.
A poucos metros dali, o comprador Wanderley Figueira, 48,
reclamava. "Tomei dois cafés e
comi um croissant por R$ 18. É
um roubo", disse.
Concentração
Por trás dos preços há um
mercado nas mãos de poucos.
A maior parte das marcas dos
aeroportos pertence a dois grupos, IMC (International Meal
Company) e GRSA. O primeiro
detém Brunella, Viena, SP Burger, Frontier Beer, Congonhas
Grill e The Collection. O segundo engloba a Devassa, a Casa do
Pão de Queijo e os cafés Balloon
e Ritazza, entre outros.
No saguão de Congonhas,
por exemplo, cinco das seis lojas são da IMC. Há uma única
lanchonete "independente".
Resultado: em todas os quiosques, os preços são tabelados.
"É tudo muito parecido, e o
passageiro não tem muita opção", disse a organizadora de
eventos Érika Atie, 29, que na
quarta estava em Congonhas.
As empresas argumentam
que o preço é consequência do
alto custo de operação em aeroportos. Segundo a Pizza Hut, o
aluguel chega a ser três vezes
superior à média dos demais
pontos. Em alguns casos, a depender do tamanho, o valor
mensal supera R$ 100 mil.
Responsável pelos aeroportos, a Infraero concede o espaço por meio de licitação, em geral válida por cinco anos. Vence
quem der o maior lance. A estatal disse que não pode interferir
nos preços, pois eles "seguem
as regras de mercado e da livre
concorrência".
Afirma ainda estimular a ampla concorrência por meio da
divulgação das suas licitações.
"Qualquer interessado que
atenda as condições previstas
no edital de licitação pode participar do certame em idênticas
condições de competição", informou a estatal em nota.
Em Guarulhos há 43 pontos
comerciais de alimentação; em
Congonhas são 15.
Segundo o Idec (Instituto
Brasileiro de Defesa do Consumidor), as empresas têm de
justificar a alta do preço; caso
contrário, a prática é ilegal.
A Folha procurou a Secretaria de Direito Econômico, do
Ministério da Justiça, mas não
obteve resposta.
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