São Paulo, domingo, 09 de maio de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sem concorrência, loja de aeroporto cobra quanto quer

Comidas e bebidas custam até 60% mais do que em lojas das mesmas redes fora do aeroporto

A grande maioria dos estabelecimentos de Guarulhos e Congonhas pertence a apenas dois grupos de alimentação

RICARDO GALLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Bateu fome no aeroporto? Prepare-se para gastar.
Sem concorrência próxima, cafés, sanduíches, salgados e refrigerantes custam 60% mais do que em lojas das mesmas redes fora do aeroporto.
A Folha fez a comparação nos aeroportos de Guarulhos e de Congonhas, os dois mais movimentados do país.
O "custo aeroporto" faz um expresso, por exemplo, ser vendido a R$ 2,90 nas redes Viena e Brunella. O café sai a R$ 2,80 no Viena do shopping Iguatemi, um dos mais luxuosos de São Paulo; na unidade Brunella do Paraíso (zona sul), custa R$ 2 -preço 45% menor.
Mais caro é o refrigerante: paga-se no mínimo R$ 4,75, seja em Guarulhos ou Congonhas. Fora dali, R$ 3,50 no Viena e R$ 3 na Brunella. No café Balloon de Guarulhos, o preço é ainda maior: R$ 4,90.
Quer um sanduíche? O McDonald's cobra R$ 16,50 pelo número 1 (Big Mac, refrigerante e batata frita média); no Iguatemi, o mesmo produto custa R$ 13,75, 20% menos. Na Pizza Hut, uma refeição custa R$ 29; fora dali, R$ 23. No Congonhas Grill, o almoço chega a custar R$ 59.
"Se puder evitar comprar, eu evito. Mas às vezes não dá. A gente chega de viagem com fome", disse o procurador federal Luiz Henrique de Castro, 35, que tomava um café no Viena em Guarulhos logo depois de chegar de Nova York.
A poucos metros dali, o comprador Wanderley Figueira, 48, reclamava. "Tomei dois cafés e comi um croissant por R$ 18. É um roubo", disse.

Concentração
Por trás dos preços há um mercado nas mãos de poucos.
A maior parte das marcas dos aeroportos pertence a dois grupos, IMC (International Meal Company) e GRSA. O primeiro detém Brunella, Viena, SP Burger, Frontier Beer, Congonhas Grill e The Collection. O segundo engloba a Devassa, a Casa do Pão de Queijo e os cafés Balloon e Ritazza, entre outros.
No saguão de Congonhas, por exemplo, cinco das seis lojas são da IMC. Há uma única lanchonete "independente". Resultado: em todas os quiosques, os preços são tabelados. "É tudo muito parecido, e o passageiro não tem muita opção", disse a organizadora de eventos Érika Atie, 29, que na quarta estava em Congonhas.
As empresas argumentam que o preço é consequência do alto custo de operação em aeroportos. Segundo a Pizza Hut, o aluguel chega a ser três vezes superior à média dos demais pontos. Em alguns casos, a depender do tamanho, o valor mensal supera R$ 100 mil.
Responsável pelos aeroportos, a Infraero concede o espaço por meio de licitação, em geral válida por cinco anos. Vence quem der o maior lance. A estatal disse que não pode interferir nos preços, pois eles "seguem as regras de mercado e da livre concorrência".
Afirma ainda estimular a ampla concorrência por meio da divulgação das suas licitações. "Qualquer interessado que atenda as condições previstas no edital de licitação pode participar do certame em idênticas condições de competição", informou a estatal em nota.
Em Guarulhos há 43 pontos comerciais de alimentação; em Congonhas são 15.
Segundo o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), as empresas têm de justificar a alta do preço; caso contrário, a prática é ilegal.
A Folha procurou a Secretaria de Direito Econômico, do Ministério da Justiça, mas não obteve resposta.


Texto Anterior: Entrevista: "É preciso acabar com o mito trans", diz médico
Próximo Texto: Brinquedos e livros também saem mais caro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.