São Paulo, domingo, 09 de junho de 2002

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Vice-reitor diz que falta planejamento

DA REPORTAGEM LOCAL

O vice-reitor da USP, Hélio Nogueira da Cruz, que preside a comissão de docentes responsável pela gestão da universidade, afirma que falta planejamento de alguns departamentos da FFLCH ao encaminhar pedidos à reitoria. Para ele, a greve dos estudantes ganhou dimensão política. Leia a seguir alguns trechos da entrevista dada à Folha.

Folha - A crise na FFLCH se deve a falta de recursos ou má gestão?
Hélio Nogueira da Cruz -
A universidade tem muitos projetos e os recursos nem sempre são suficientes. Na parte de pessoal, temos uma comissão que analisa os pedidos das unidades, associados aos planos de metas acadêmicas.

Folha - Quais são esses critérios?
Cruz -
Carga didática, produção científica e novas áreas do conhecimento, entre outros. Os especialistas sabem quais são os grandes trabalhos. São os pares que avaliam todas as solicitações. Assim temos trabalhado nos últimos oito anos. As unidades têm comportamentos diferenciados, necessidades diferenciadas. Algumas fazem as suas solicitações mais bem feitas que as outras, têm cultura de fazer planejamento. Outras têm dificuldade até de comunicação.

Folha - Alunos e professores da FFLCH dizem que há descaso dos gestores para com a unidade...
Cruz -
O que quer dizer "gestores"? Não é um grupo que contrata os profissionais. A gestão é feita por professores que chegaram aos seus cargos, direta ou indiretamente, por um processo eletivo. Como poderia haver descaso? Você acha possível um projeto vindo de uma unidade ser olhado com menos atenção que outros durante oito anos, dez anos, num ambiente em que as pessoas falam livremente? Vou lhe mostrar algo da filosofia. Em 19/10/2001, eles fizeram uma solicitação de 32 professores, três dos quais para letras clássicas. Era fim de outubro, com um semestre pela frente, e eles pediram três [com ênfase". A mesma coisa foi para ciência política, antropologia e sociologia. Acho que isso mostra que a pontaria lá não estava muito boa... Em 16/4, recebemos outra solicitação. Se você comparar o que foi pedido para este ano e para os próximos dois anos em relação ao pedido anterior, proporcionalmente, vai encontrar pouca relação. Será que nós estávamos com má vontade com os pedidos, se eles oscilam tanto em seis meses de diferença? Em um outro documento, de 15 de maio último, eles reconhecem que esqueceram de pedir dez professores. É muita oscilação. Dos 32 pedidos feitos inicialmente, nós demos 26. Isso é mais que 10% do que usualmente damos por ano à universidade toda. Oferecemos ainda professores para ajudar nessa situação de transição, mas eles não quiseram.

Folha - Isso justifica professores lecionarem para 200 alunos em salas sem ventilação e microfone?
Cruz -
Há disciplinas que podem ter mais problemas, salas mal preparadas para receber um número grande de alunos. Mas têm coisas das quais eu não posso ouvir falar, como a falta de microfone. Não posso acreditar que a unidade, depois de três anos, não tenha tido recursos para comprar um microfone. Salas adequadas demora um pouco. Quanto à contratações, eu vou lutar até o fim para que a contratação de docentes seja feita com critérios acadêmicos. Não será com critérios políticos que vamos ganhar alguma coisa.

Folha - O sr. quer dizer que essa greve dos estudantes é política?
Cruz -
Ela tem origem e necessidade reais e localizadas e ganhou uma dimensão política. Não tenho nenhuma dúvida disso.


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