São Paulo, domingo, 09 de junho de 2002

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Há crise de identidade, diz professor

DA REPORTAGEM LOCAL

Especialistas em políticas educacionais afirmam que a FFLCH vive a pior crise da sua história e corre o risco de perder sua identidade se não passar por uma reestruturação.
Para o professor Roberto Romano, 56, professor titular do Departamento de Filosofia Política da Unicamp, a FFLCH está "no seus últimos e ingloriosos dias".
Segundo ele, a partir de 1968 a unidade sofreu uma mudança, saindo de uma estrutura baseada no prestígio do catedrático, que defendia os interesses de sua área, para adotar um modelo inspirado nos departamentos acadêmicos americanos, mas sem a agilidade deles. "A FFLCH vive uma crise de identidade em relação ao seu passado", afirma.
Para Romano, a unidade se transformou ao longo dos últimos 30 anos em uma instituição "monstruosa e híbrida", sem uma integração entre os departamentos. "Não existe instituição. Tudo está na lógica do cada um por si."
Para Romano, a área de humanas, de uma forma geral, tem dificuldades de demonstrar a importância das suas disciplinas e de se relacionar com a opinião pública. "A visão imediatista dos nossos governantes acaba julgando tudo pela utilidade aparente", afirma.
O consultor José Carlos de Almeida Azevedo, 69, ex-reitor da UNB e doutor em física pelo MIT, afirma que a crise na FFLCH reflete a atual situação da educação brasileira. "Há muitos professores com pouca qualificação. A maioria finge que ensina, e os estudantes fingem que aprendem."
Na opinião de Azevedo, a questão não é discutir a quantidade de professores necessária para a FFLCH, mas sim de onde virão e qual a qualificação de cada de um. "Há um movimento de abastardamento na universidade com o conluio de várias pessoas."
Para ele, todo sistema educacional brasileiro deveria ser reformulado, com o estabelecimento de critérios de mérito para os melhores professores e alunos.
Segundo deputado estadual Cesar Callegari (PSB), formado em sociologia pela PUC-SP, o problema da FFLCH é resultado de uma progressiva diminuição de recursos para a manutenção e o desenvolvimento de ensino e de uma ampliação de verbas para a área previdenciária para o pagamento dos professores inativos. "Eles querem enfiar dois pés dentro de um mesmo sapato."
(CC)

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