São Paulo, quarta-feira, 09 de junho de 2004

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NO EXTERIOR

Detido com 13,4 kg de cocaína, esportista tem uma semana para recorrer de sentença da Justiça da Indonésia

Brasileiro é condenado à morte por tráfico

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA SUCURSAL DO RIO

A Justiça da Indonésia, em primeira instância, condenou ontem à morte por um pelotão de fuzilamento o instrutor de vôo livre carioca Marco Archer Cardoso Moreira, 42, preso em agosto passado ao tentar entrar no país com 13,4 kg de cocaína. A defesa tem sete dias para recorrer da decisão na Corte Superior. Caso a sentença seja confirmada, pode-se apelar ainda para a Suprema Corte.
O Itamaraty afirma que o julgamento dos recursos pode durar até dois anos. Moreira pode apelar ainda para o indulto presidencial, alternativa pouco provável, segundo a Embaixada do Brasil em Jacarta. Candidata à reeleição, a presidente Megawati Sukarnoputri, defende a pena de morte e o endurecimento contra os tráfico.
O assessor diplomático do Palácio do Planalto, Marco Aurélio Garcia, afirmou que, para evitar constrangimentos diplomáticos, o governo só agirá em favor de Moreira quando sua defesa esgotar as chances de recursos legais .
Antes de anunciar a sentença, o juiz perguntou se o esportista recorreria da sentença. Ele disse que sim. Nesse momento, o brasileiro ouviu : "O senhor agiu contra a campanha antidrogas do governo, ameaçou a geração jovem do país e criou uma imagem negativa da Indonésia como nação consumidora de cocaína. O tribunal o condena à morte".
Ao tomar conhecimento da decisão, Moreira, vestido com uma camisa de mangas longas roxa e calça branca, curvou a cabeça e fez um gesto cortês com as mãos em sinal de cumprimento.
Além da execução, a Promotoria havia pedido multa (rejeitada pelo juiz) de US$ 33,3 mil. Na sentença, o réu foi apontado como um "elo entre uma rede internacional de traficantes".
Segundo o jornal "The Jakarta Post", Moreira é o 27º condenado à morte desde 2000, quando foi instituída a nova lei antidrogas na Indonésia. Desses, 22 são estrangeiros. Desde a fundação do país, na década de 40, dos 71 condenados à morte, 11 foram executados. Os outros cumprem prisão perpétua ou morreram na cadeia.
O carioca foi preso em 16 de agosto em Banyuaji, duas semanas depois de chegar ao aeroporto de Jacarta. Estava foragido na casa de um amigo. Ao desembarcar, o esportista foi abordado por policiais, mas conseguiu fugir. A polícia encontrou 13,4 kg de cocaína escondidos na capa de seu equipamento de vôo livre.
Em depoimento à Justiça, Moreira disse ter recebido US$ 10 mil de um amigo, em junho passado, em Bali, para trazer a droga do Peru com escala em São Paulo.
Questionado por jornalistas indonésios sobre como conseguiu escapar do aeroporto e ficar duas semanas foragido, Moreira teria dito ser "David Copperfield", em alusão ao mágico americano.
Em sua defesa, o brasileiro disse ao juiz estar arrependido, embora consciente de seu crime, pediu desculpas à Justiça indonésia e solicitou que não fosse condenado à morte, sob o argumento de que é réu primário lá e no Brasil.
Afirmou ainda que passava por dificuldade financeira após um acidente em 1997, em Bali, que o obrigou a interromper sua carreira em competições.


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