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ILHA DA FANTASIA
Para auxiliar, discriminação aumentou com a nova loja; Operação Faria Lima prevê remoção de barracos
Morador de favela vizinha à Daslu pede ajuda
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
Vizinhos de fundos da nova
Daslu, aberta ontem ao público,
moradores da favela Funchal, localizada na rua Coliseu, na Vila
Olímpia (zona sul da capital), esperam que o local receba melhorias com a chegada da loja à região. Eles não estão organizados
em uma associação ou entidade,
mas já se preparam para pedir auxílio ao estabelecimento.
"Meia hora de venda deve render dinheiro suficiente para recuperar a principal rua da favela. E a
gente precisa de asfalto aqui", disse a dona-de-casa Marizete Maria
dos Santos, 40.
Ontem, na rua principal da favela, cheia de desníveis, o esgoto
corria a céu aberto em razão de
um entupimento na rede. Assim
como na Daslu, muitas roupas
podiam ser vistas ao lado dos barracos: penduradas em varais improvisados apoiados em muros,
davam um colorido à via.
Para a moradora Lúcia Vieira,
36, que está desempregada há
pouco mais de um ano, seria importante a implantação de cursos
profissionalizantes no local.
"Acho que, se eu soubesse computação, ficaria mais fácil arrumar um trabalho", afirmou.
Segundo a conselheira tutelar
Edmisa Ribeiro do Amaral, 34,
que já morou na favela e atua na
área, há 215 barracos.
Amaral afirma também acreditar que a loja possa ser uma futura
parceira dos moradores.
"Seria importante criar cursos
de capacitação. Eles ocupariam o
tempo dos adolescentes e evitariam que os jovens se envolvessem com drogas", disse.
O contraste entre o prédio luxuoso da Daslu e as moradias
simples da favela Funchal, no entanto, deve acabar.
Segundo a Secretaria Municipal
da Habitação, será feita a remoção
dos moradores por causa de futuras obras da Operação Faria Lima,
que construiu os túneis das avenidas Rebouças e Cidade Jardim.
O terreno onde a favela está localizada, de 6.900 m2, é particular
e será desapropriado. A secretaria
não sabe quando isso ocorrerá.
Discriminação
As nítidas diferenças entre a favela e a loja fazem com que os moradores, em muitos casos, digam
sentir um certo desconforto com
esse contrasto. "Agora, a gente
sente mais forte a discriminação.
Quando passamos na frente da
entrada, os seguranças [da loja] ficam olhando torto", afirmou a
auxiliar de limpeza Jacira dos
Santos Bastos, 25.
Ela trabalhou dois meses no
prédio da Daslu antes da inauguração. "No último dia, enquanto
limpávamos, dois seguranças ficavam atrás para evitar roubos."
Segundo a auxiliar, o salário era
de R$ 400, mas com horas extras o
valor total chegava a R$ 700. A peça de vestuário à venda na loja que
mais gostou custava 12 meses de
seu salário. "Uma calça social de
R$ 4.800 foi, de tudo o que vi, a
roupa mais bonita", contou.
Cecília Pereira dos Santos, 39,
que também trabalhou na limpeza da loja, afirmou que a Daslu
"sem dúvida, é um paraíso".
Deslumbramento
Quem entrou na Daslu ontem
saiu elogiando. Era adjetivos e
mais adjetivos para descrever a
loja. "Gostei de tudo. É muito bonita, bem organizada", afirmou o
vendedor Luís Nunes da Costa,
44. Ele só lamentou os preços altos. "Gostei muito das camisas,
mas não são para o meu cacife."
O administrador Rodrigo Valente, 28, e a assessora internacional Luci Andrea, 38, acharam que
a loja está "maravilhosa". Os setores de eletrônicos e esportes foram os que mais apreciaram.
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