São Paulo, sexta-feira, 09 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BARBARA GANCIA

100% seleção brasileira

Na última quarta-feira, 70 presídios no Estado de São Paulo iniciaram o que se chama de "rebelião branca"

A FEBRE DE RONALDO cedeu de ontem para hoje? O "derrière" (muito bem torneado, diga-se) de Ronaldinho Gaúcho já está como novo depois do acidente nos treinos? Se o Brasil vencer, Cafu vai mesmo dedicar a taça ao mestre, Telê Santana? E os tímpanos de Kaká, será que agüentam o pagode que tanto agrada aos outros jogadores?
A partir de hoje, e até o final da campanha verde-amarela na Copa da Alemanha, são estas as perguntas que realmente interessam ao torcedor tapuia. Saber se o governo do PT tira ou não dinheiro dos cofres públicos para dar a associações ligadas ao MST ou se Lula recebe em seu gabinete gente da laia de Bruno Maranhão, militante petista que prega a "supressão da propriedade privada dos meios de produção" e o "desmantelamento do Estado burguês", são detalhes que, nas próximas semanas, não podem e não devem interferir na diversão. Do torcedor anônimo e dos empresários que, empolgados com a ascensão de Lula nas pesquisas da eleição passada, acharam mais conveniente imaginar que a primeira coisa que ele faria ao chegar à presidência seria endurecer com o MST.
A poucas horas da entrada em campo de Alemanha e Costa Rica para o jogo de estréia, em Berlim, também não interessa mais ao nativo do país do futebol saber se, na terça-feira passada, o secretário de Segurança, Saulo de Abreu, deu ou não um show de insolência, com direito a claque, na Assembléia Legislativa de São Paulo, de onde saiu sem fornecer as devidas explicações à Comissão de Segurança sobre os ataques do PCC.
Na quarta-feira, 70 presídios no Estado iniciaram o que se chama de "rebelião branca". Eu explico: se nos levantes que você, caro leitor, está cansado de assistir nos notíciários da TV os presos utilizam de violência generalizada e da tomada de reféns, na versão encanecida eles simplesmente desobedecem a todas as ordens que lhe são dadas. Recusam-se a voltar às celas depois do banho de sol, recusam-se a comer ou a seguir qualquer das normas impostas no dia-a-dia.
O torcedor do Brasil está pouco se lixando para o motivo da rebelião que está em curso neste momento. A partir de hoje, é muito mais importante descobrir qual o defeito de fabricação das chuteiras da Nike que está causando bolhas nos pés dos craques ou se o zagueiro Lúcio aprendeu a olhar para a bola antes de chutar.
Pode ser que, terminado o Mundial, os compatriotas dos dois Ronaldos se interessem em saber que a atual rebelião tem um objetivo só: testar o pulso do novo secretário da Administração Penitenciária de São Paulo, Antonio Ferreira Pinto, que assumiu o cargo no último dia 31 de maio.
E que isso indica que o PCC continua tão articulado quanto antes. Se, em tão pouco tempo desde a onda de ataques ao Estado, os líderes da facção já conseguiram organizar uma rebelião que atinge 70 estabelecimentos prisionais, é porque a comunicação entre eles não sofreu nenhum grande abalo. Mas quem se importa? Pra frente, Brasil!


@ - barbara@uol.com.br
www.uol.com.br/barbaragancia


Texto Anterior: Marcola confirma acordo com o governo, diz deputado
Próximo Texto: Qualidade das praias
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.