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BARBARA GANCIA
100% seleção brasileira
Na última quarta-feira, 70 presídios no Estado de São Paulo iniciaram o que se chama de "rebelião branca"
A FEBRE DE RONALDO cedeu de
ontem para hoje? O "derrière" (muito bem torneado, diga-se) de Ronaldinho Gaúcho já está
como novo depois do acidente nos
treinos? Se o Brasil vencer, Cafu vai
mesmo dedicar a taça ao mestre, Telê Santana? E os tímpanos de Kaká,
será que agüentam o pagode que
tanto agrada aos outros jogadores?
A partir de hoje, e até o final da
campanha verde-amarela na
Copa da Alemanha, são estas as perguntas que realmente interessam ao
torcedor tapuia.
Saber se o governo do PT tira ou
não dinheiro dos cofres públicos para dar a associações ligadas ao MST
ou se Lula recebe em seu gabinete
gente da laia de Bruno Maranhão,
militante petista que prega a "supressão da propriedade privada dos
meios de produção" e o "desmantelamento do Estado burguês", são detalhes que, nas próximas semanas,
não podem e não devem interferir
na diversão. Do torcedor anônimo e
dos empresários que, empolgados
com a ascensão de Lula nas pesquisas da eleição passada, acharam
mais conveniente imaginar que a
primeira coisa que ele faria ao chegar à presidência seria endurecer
com o MST.
A poucas horas da entrada em
campo de Alemanha e Costa Rica
para o jogo de estréia, em Berlim,
também não interessa mais ao nativo do país do futebol saber se, na terça-feira passada, o secretário de Segurança, Saulo de Abreu, deu ou não
um show de insolência, com direito
a claque, na Assembléia Legislativa
de São Paulo, de onde saiu sem fornecer as devidas explicações à Comissão de Segurança sobre os ataques do PCC.
Na quarta-feira, 70 presídios no
Estado iniciaram o que se chama de
"rebelião branca".
Eu explico: se nos levantes que você, caro leitor, está cansado de assistir nos notíciários da TV os presos
utilizam de violência generalizada e
da tomada de reféns, na versão encanecida eles simplesmente desobedecem a todas as ordens que lhe são
dadas. Recusam-se a voltar às celas
depois do banho de sol, recusam-se
a comer ou a seguir qualquer das
normas impostas no dia-a-dia.
O torcedor do Brasil está pouco se
lixando para o motivo da rebelião
que está em curso neste momento.
A partir de hoje, é muito mais importante descobrir qual o defeito de
fabricação das chuteiras da Nike que
está causando bolhas nos pés dos
craques ou se o zagueiro Lúcio
aprendeu a olhar para a bola antes
de chutar.
Pode ser que, terminado o Mundial, os compatriotas dos dois Ronaldos se interessem em saber que a
atual rebelião tem um objetivo só:
testar o pulso do novo secretário da
Administração Penitenciária de São
Paulo, Antonio Ferreira Pinto,
que assumiu o cargo no último dia
31 de maio.
E que isso indica que o PCC continua tão articulado quanto antes. Se,
em tão pouco tempo desde a onda de
ataques ao Estado, os líderes da facção já conseguiram organizar uma
rebelião que atinge 70 estabelecimentos prisionais, é porque a comunicação entre eles não sofreu
nenhum grande abalo. Mas quem
se importa?
Pra frente, Brasil!
@ - barbara@uol.com.br
www.uol.com.br/barbaragancia
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