São Paulo, sexta-feira, 09 de junho de 2006

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Mar devasta estação científica brasileira

Pesquisadores se abrigaram em farol de arquipélago para escapar de ondas

Cientistas conseguiram por meio de um transmissor portátil contato com um barco pesqueiro, que os socorreu e avisou a Marinha


SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Ondas de pelo menos três metros destruíram nesta semana a estação científica do governo federal no arquipélago de São Pedro e São Paulo. Para escapar da morte, quatro pesquisadores se refugiaram em um farol. A Marinha já realizou o resgate da equipe de cientistas.
O arquipélago fica pouco acima da linha do Equador, a quase 1.000 km da costa do Rio Grande do Norte e a 650 km de Fernando de Noronha. Formado por ilhotas rochosas, com vegetação raquítica e sem fonte de água, o local, inabitado, é um dos mais inóspitos do Brasil.
A ressaca começou a atingir São Pedro e São Paulo no fim de semana. Segunda, as ondas se intensificaram. Preocupados, os cientistas decidiram passar a noite no farol, ponto mais alto do arquipélago (22,5 m).
Esse cuidado pode tê-los salvado. Na madrugada seguinte, a estação, que também serve de residência, foi atingida pelas ondas. Parte do prédio, feito de madeira, desabou. Equipamentos eletrônicos, inclusive de comunicação, foram avariados.
Segundo o capitão-de-mar-e-guerra Geraldo Gondim Joaçaba Filho, da Secirm (Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar), nenhum dos cientistas sofreu ferimentos, pois já estavam no farol quando as ondas ultrapassaram a contenção de pedras que protegeria a edificação.
Os cientistas estavam em São Pedro e São Paulo desde o sábado passado. Ficariam 15 dias. Após a chegada, uma mensagem enviada de Fernando de Noronha por radiotransmissor os alertou sobre a possibilidade de ocorrer uma grande ressaca.
O grupo é formado pelo cirurgião e instrutor da USP (Universidade de São Paulo) Fábio Lambertini Tozzi, 45, por sua mulher, a bióloga Adriana Barzotti Kohlrausch, 29, pelo biólogo João Paulo Machado Torres, 40, e pela universitária Larissa Cunha, ambos do Instituto de Biofísica da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Sem o equipamento de transmissão, destruído pelo mar, os cientistas -abrigados no farol- conseguiram por meio de um transmissor portátil contato com um barco pesqueiro que navegava por perto.
Os pescadores socorreram a equipe e avisaram a Marinha. Ontem, um navio-patrulha resgatou os cientistas, que seriam levados para Fernando de Noronha e Natal. A ressaca foi considerada pela Marinha a maior ocorrida em São Pedro e São Paulo desde a abertura do local a pesquisas científicas, na década passada.
Sem água potável e árvores, portanto, sem sombra, o arquipélago não é habitado. Equipes científicas se revezam a cada duas ou três semanas. Para manter a exclusividade de explorar a pesca na área, cobiçada por outros países, o governo precisa mantê-la com ocupação humana o ano todo.
Uma das pesquisas que a equipe faria buscava investigar a presença de metais pesados na biota (conjunto de seres animais e vegetais de uma região) das ilhas.


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