São Paulo, sábado, 09 de junho de 2007

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Grupo fica perdido por 15 horas na Serra do Mar

As 43 pessoas, quase todas crianças e adolescentes, passaram a noite na mata

Acompanhados de dois guias, o grupo de jovens se desviou da trilha depois que uma garota torceu o pé e atrasou a caminhada

ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Um grupo de 43 pessoas, a maioria crianças e adolescentes entre 10 e 17 anos, ficou desaparecido ontem por cerca de 15 horas no Parque Estadual da Serra do Mar, entre Mogi das Cruzes e Bertioga (SP). Uma criança se feriu levemente.
Os jovens e dois guias entraram na mata por volta das 9h30 de anteontem e deveriam ter terminado a aventura às 17h também de anteontem. Eles só conseguiram sair com auxílio de bombeiros e de um morador da região às 12h30 de ontem.
O grupo pertence a um clube chamado Desbravadores, ligado à Igreja Adventista, e fazia atividades de contato com a natureza e reflexões espirituais.
De acordo com os familiares e o Corpo de Bombeiros, a aventura se transformou em pesadelo quando uma menina do grupo torceu o pé ao escorregar em uma pedra e deixou mais lenta a caminhada. Com isso, o grupo não conseguiu encontrar a saída e foi obrigado a passar a noite na mata.
Como no meio da mata há um trecho em que os telefones celulares não funcionam, por falta de sinal, os jovens não conseguiram avisar os familiares do que estava ocorrendo, e começou então a busca.
Segundo moradores da região, na mata há cobras, aranhas e onças. Um dos maiores perigos, porém, são os caminhos escorregadios e cheios de pedras que tornam quase impossível a caminhada à noite.

Sem equipamento
Além da falta de informação, os familiares disseram que se preocuparam porque os religiosos não tinham se preparado para ficar mais tempo do que as oito horas planejadas. Não havia suprimentos nem equipamentos para acampar.
Quinze homens do Corpo de Bombeiros e um morador da região participaram da busca, que começou por volta das 3h. Os jovens foram achados por volta das 9h30 e conseguiram deixar o local três horas depois.
O mateiro Eliandro José de Moraes, 24, foi quem conduziu a equipe de busca pelas trilhas. "Eu via onde o capim estava amassado, papel jogado no chão, e conseguimos encontrá-los. Estavam todos bem", disse.
Uma das primeiras famílias a chegar no km 92 da rodovia Mogi-Bertioga, local marcado para o término da aventura, foi a da fisioterapeuta Joceli Manzolli Batista, 41.
"Chegamos aqui era 1h. Chorei muito. Só fiquei bem quando consegui falar com minha filha pelo celular por volta das 7h, 8h. Ela disse: "Mãe, está tudo bem comigo"."
Para ela, que tinha duas filhas na aventura, a falta de informações foi a pior agonia. "Sei que minha filha está bem sem faltar nenhum dedinho", disse minutos antes de reencontrar com as adolescentes, de 15 e 17 anos.
Os guias do grupo não quiseram falar com a reportagem. Os jovens também evitaram falar com os jornalistas e só diziam que estavam todos bem e ninguém havia ficado assustado. "Tem alguém morto?", gritou um adolescente. "Não", gritaram os outros, em fila indiana em direção ao ônibus, que saiu rápido em direção a São Paulo.
O comandante dos bombeiros, o tenente Marcos Augusto, disse que é muito comum grupos participarem de trilhas na região e se perderem. Há uma média de dez casos por ano.
Para o policial, um dos erros do grupo, e que serve de lição para outras pessoas, é não ter se preparado para ficar mais tempo que o previsto na aventura.
O mateiro Moraes afirmou que o local escolhido pelos guias para pernoitar também não era apropriado porque ficava entre cursos d'água. "Se tivesse chovido, eles ficariam ilhados. O guia se confundiu porque o mato da trilha cresceu, caíram árvores. Eles estavam realmente perdidos."


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