São Paulo, segunda-feira, 09 de junho de 2008

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Ex-secretário dos Transportes afirma que projeto é "uma idéia que vai pegar"

DA REPORTAGEM LOCAL

O arquiteto e urbanista Cândido Malta, que já foi secretário dos Transportes Metropolitanos, diz que o promotor José Carlos de Freitas reconheceu estar "mal informado" sobre o programa Comunidade Protegida em um seminário em que também estavam presentes ele e o presidente da CET.
"Ele já mudou de idéia", diz o arquiteto, que acredita que medidas de "traffic calming" como as preconizadas pelo programa são "uma idéia que vai pegar". "Já não temos tranqüilidade nos locais de trabalho e estamos perdendo essa tranqüilidade onde moramos" por conta do excesso de veículos, observa.
Já o professor de engenharia urbana da Universidade Federal de São Carlos Archimedes Raia Jr. argumenta que o promotor "pode estar correto em seus questionamentos."
"Parece-me um programa de ações pontuais. Não vejo na prefeitura a intenção de implantar a filosofia do "traffic calming" em toda a cidade. Corre-se o risco de criar ilhas preservadas, geralmente em bairros nobres."
Ambos defendem que a discussão sobre medidas de contenção do tráfego não fique restrita ao tema do "traffic calming". "Essa discussão isolada é uma bobagem. Precisamos de um sistema que inclua a ampliação do metrô e a implantação do pedágio urbano", diz.
No entanto, embora a configuração atual do Comunidade Protegida contemple apenas três bairros da periferia, Malta diz que não se pode criticar a idéia do "traffic calming" por isso. "É muito mais difícil convencer a classe baixa, que é menos informada, do que a classe média. A classe média viaja para a Europa, para os EUA, onde tudo isso está aplicado. As classes populares não têm esse nível de informação. Mas quando a gente leva [as idéias], eles adotam. Acho que o programa deve começar pela periferia."
O professor de planejamento urbano da Faculdade de Arquitetura da USP Nabil Bonduki argumenta que, ao assumir que o programa ataca um problema público, "a prefeitura deve trabalhar para que todas as áreas tenham acesso". "Não me contraponho a que moradores paguem. Mas o alcance do programa não pode depender de parcerias com entidades privadas."
Para Bonduki, ao restringir o acesso a vias, o Comunidade Protegida deverá gerar aumento do trânsito em outras áreas. "Em São Paulo, as vias estruturais não são suficientes, então os carros usam as locais, o que não deveria acontecer."
Coordenador do substitutivo do Plano Diretor da cidade, Bonduki observa que, pela legislação do município, para implementar medidas de "traffic calming" é preciso consultar, além de quem mora no bairro, moradores do entorno para evitar a criação de bolsões residenciais -áreas cujo acesso apresenta restrições.


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