São Paulo, terça-feira, 09 de junho de 2009

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Água do mar pode afetar identificação de corpos pelo DNA

Micro-organismos presentes no oceano são capazes de degradar material genético, diz perita de instituição gaúcha

"Tem corpo que fica muito tempo submerso, e se consegue o perfil [genético], mas porque ficou num local frio, onde não batia sol", diz


DA REPORTAGEM LOCAL

A identificação das vítimas do voo AF 447 pode ser prejudicada pelo fato de os corpos terem passado vários dias no mar. A avaliação é do IGP (Instituto Geral de Perícias) do Rio Grande do Sul, um dos principais centros de reconhecimento de cadáveres do país.
Segundo a perita Cecília Helena Fricke Matte, 31, do setor de genética forense do instituto, os corpos achados no Atlântico podem ter sofrido degradação de seu material genético.
De acordo com ela, um corpo achado submerso na água pode ter um reconhecimento muito mais complicado do que outro encontrado num incêndio.
"O fogo interfere mais na parte externa [do corpo], se não for uma coisa muito forte, uns 1.000 C. É que na água há um monte de micro-organismos que podem atuar, degradar o material", diz. "Tem corpo que fica muito tempo submerso, e se consegue o perfil [genético], mas porque ficou num local frio, onde não batia sol. Em outros casos, depois de três dias está totalmente decomposto."
Ainda segundo a perita, a conservação do material genético é muito importante para a identificação. Somente por meio dele é possível fazer exames de DNA nuclear (do núcleo celular) e mitocondrial (das mitocôndrias, espécie de usinas de energia das células).
O IGP foi um dos primeiros órgãos do país a dominar o exame de DNA mitocondrial -técnica usada em situações em que os corpos estão muito degradados ou que apresentam pequena quantidade de DNA nuclear.
Os dois exames são, em muito casos, complementares para a identificação e usados quando todas as outras formas de reconhecimento são insuficientes.
Em uma célula são encontradas apenas duas cópias de DNA nuclear e até mil cópias do DNA mitocondrial. Pelo mitocondrial, porém, só é possível identificar a linhagem familiar.
A Polícia Federal encerrou ontem a coleta do material genético de parentes dos ocupantes do voo AF 447 para tentar identificar os corpos pelo DNA.

Colaborou a Sucursal do Rio



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