São Paulo, terça, 9 de junho de 1998

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EDUCAÇÃO
Só 2% dos alunos da rede pública conseguem obter a pontuação máxima
85% têm dificuldade com multiplicação na 8ª série

GILBERTO DIMENSTEIN
do Conselho Editorial

A maioria dos estudantes das escolas estaduais paulistas não obtém conhecimento suficiente de matemática para cursar o segundo grau Äo que dificulta não apenas o progresso acadêmico, mas as chances profissionais, já que cada vez mais é exigido do trabalhador conhecimento de matemática.
Apenas 2% dos alunos da 8ª série atingiram o nível máximo (4) de competência em matemática, numa escala de 1 a 4, representando de péssimo a ótimo. Para cada nível, é estabelecida uma galeria de habilidades (leia texto).
No nível 3, no qual é necessário saber multiplicar e dividir, se classificaram apenas 15%. Isso significa que os outros 85% lidam mal com essas operações.
"É sofrível", afirmou ontem a secretária da Educação de São Paulo, Rose Neubauer, consciente de que os alunos vão enfrentar dificuldades no colegial.
Esses resultados foram obtidos depois de testes aplicados, no ano passado, em cerca de 1 milhão de estudantes de 4ª e 8ª séries. É a segunda etapa do Saresp (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo), patrocinado pelo Banco Mundial.
O objetivo é medir o desempenho de um mesmo grupo de alunos em anos diferentes da vida escolar, o que facilita a avaliação dos efeitos das políticas públicas de educação. Em 1996, os testes foram aplicados nas 3ª e 4ª séries.
A investigação permite obter pistas sobre por que determinados alunos ou escolas conseguem melhor desempenho ou os fatores sociais que facilitam o aprendizado.

Evolução

Embora ainda longe de uma patamar razoável, os dados deste Saresp revelam que houve evolução da competência, especialmente em língua portuguesa.
É o reflexo de uma série de medidas tomadas a partir de 1995, como o aumento da jornada escolar, maior carga de matemática, português e ciência, programas de recuperação durante o ano letivo e nas férias, além da implantação em cada unidade do professor-coordenador.
Esses programas explicam, em parte, a queda da retenção para 3,8%, em 1997; a taxa era de 8,6% em 1996 e 11,7% em 1995.
No geral, o quadro revelado pelo Saresp mostra, porém, uma situação abaixo de regular, mostrando as dificuldades na competição por mercado de trabalho do aluno de escola pública.
A pontuação dos estudantes das escolas privadas de elite, cujos dados não foram ainda divulgados, são bem superiores Ämas não tanto como das cem melhores escolas públicas.
Língua portuguesa
"Tivemos de investir mais em português. Vimos que, por causa de deficiência na língua, o aprendizado das demais matérias ficava prejudicado", diz Rose Neubauer.
Em língua portuguesa, 17% dos alunos da 4ª série chegaram ao patamar máximo de competência; 56% ficaram abaixo. Comparando ao ano anterior, foi um salto expressivo. Quando analisados em 1996, o nível máximo englobava 6%; logo abaixo, 27%.
Evolução semelhante tiveram os alunos da 4ª série em matemática, quando comparados com seu desempenho na série anterior. O nível máximo englobou 18%, contra 6% da 3ª série.
Os níveis de português da 8ª série são bem superiores aos de matemática. Em português, 20% conseguem a pontuação máxima; 59% ficam no nível abaixo, que estaria entre o regular e o bom.



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