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Plano pagará médico por desempenho
ANS discute remuneração extra a profissionais, prevendo redução de custos; medida causa polêmica no setor
Para presidente do Conselho Federal de Medicina, pagamento beneficiará apenas as operadoras de saúde
CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO
Planos de saúde pretendem adotar uma nova forma
de remuneração de médicos
e hospitais: o pagamento por
desempenho (performance).
A ANS (Agência Nacional de
Saúde Complementar) coordena um grupo de estudos
sobre o assunto, que reúne
operadoras e hospitais.
A proposta é que bons médicos e hospitais tenham
uma remuneração extra, que
poderá vir por meio de bônus. Ainda não estão definidos quais os indicadores para esse pagamento.
O assunto é polêmico. Para os médicos, as operadoras
visam apenas reduzir custos
e estão querendo reeditar a
consulta bonificada, iniciativa adotada por alguns planos de saúde que premia profissionais que cumprem metas, entre elas a redução dos
pedidos de exames.
Hoje, as operadoras pagam os médicos por procedimentos (como uma consulta), e os hospitais, por pacotes (por exemplo, todos os
procedimentos envolvidos
em uma cirurgia).
Nos EUA, mais de 50% dos
planos de saúde têm programas com contratos baseados
no desempenho de médicos.
"É uma tendência mundial. Não é um modelo punitivo e não colide com a ética
médica", afirma Cesar Abicalaffe, médico especializado
em economia da saúde.
A ANS foi procurada, mas,
segundo sua assessoria,
quem poderia falar sobre o
assunto é o presidente da
agência, Maurício Ceschin,
que estaria viajando e incomunicável até segunda.
PROPOSTA ECONÔMICA
O cardiologista Roberto
D'Ávila, presidente do CFM
(Conselho Federal de Medicina), entende que o pagamento por performance seja
"uma maravilha" apenas para as operadoras de saúde.
"A origem dessa proposta
é puramente econômica. O
médico poderá ganhar mais
se fizer o uso racional de recursos. Mas em primeiro lugar tem que estar o benefício
do paciente, não importa se é
barato ou caro. Um exame de
urina, que custa R$ 8, pode
ser caríssimo se for indicado
sem necessidade."
D'Ávila defende que, em
vez de criar novos mecanismos de remuneração, os planos de saúde remunerem
melhor os médicos ("para
que, no mínimo, tenham
mais tempo na consulta").
Há cinco anos, algumas
operadoras de saúde instituíram uma bonificação para
médicos que cumprissem
metas de redução de exames.
A iniciativa das operadoras de saúde foi vetada pelo
CFM, mas algumas operadoras continuam a praticá-la.
Em Belo Horizonte (MG),
80% dos médicos cooperados da Unimed chegam a ganhar 15% a mais por consulta
(estipulada em R$ 45) se não
fizerem pedidos de exames
além da meta definida.
O Conselho Regional de
Medicina julga a iniciativa
antiética e determinou que
ela seja banida, segundo
João Batista Gomes Soares,
secretário do conselho.
A Unimed-BH diz que é um
estímulo para o médico fazer
exames físicos e entrevistas
"mais benfeitos" e não pedir
exames desnecessários.
"Não há punição. A bonificação é calculada retrospectivamente", diz Luiz Otávio de
Andrade, um dos diretores
da cooperativa.
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